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domingo, 6 de abril de 2014

Eu e as letras: um romance, um poema

Para descrever o meu relacionamento com o português, eu precisaria contar o modo como fui alfabetizado. Foi aos pés da minha mãe. Pelas manhas ela me puxava até a mesa de trabalho dela em casa mesmo. Era costureira. E assim, na máquina singer branca elétrica ela ziquezagueava e me passava as coordenadas das tarefas. Eu adorava ler jornais. E ler pra mim naqueles dias eram interpretar as imagens para deduzir o resto. Foi aí que ela passou a usar o jornal em favor do meu letramento. Me mandava cortar as garrafais para construir as neo-palavras. Eu deitado a fazer colagens no papel e minha mae na esperança q as palavras grudassem na minha mente como aquela linha no pano e aquelas formas na minha tábula rasa.


Alguns professores eu nem lembro mais o nome.
Eu me lembro bem do nome do último e da primeira: Adelma e Antônio Almeida. Ela era aquela que ensinava português e todas as outras matérias . ele escrevia peças de teatro como ninguém. Fora isso me lembro daquele que me deu umas técnicas de poemar e daquela que falou que escrevo como quem tem autoridade e não apela em questões polemicas para o religioso e o dogmático.

A primeira professora de todo mundo sempre é uma professora de português, não tem jeito. Não é a matemática que nos toca primeiro, mas as letras.

Fiz caligrafia aos 15 anos. Minha letra melhorou cem por cento. Hoje tenho a letra que quero fazer pois tenho domínio da mão. Hoje uso até a canhota para exercitar meu outro hemisfério.

Na época de seminário sempre fui muito incentivado e cobrado para ser o melhor possível nas letras e no raciocínio. Não a toa um ano depois eu grassava meus primeiros poemetos.

A poesia foi me inspirando e exigindo de mim o melhor sempre e o belo. Hoje não sou o melhor escritor, mas considero ter um estilo já próprio. E se não sou o melhor, sou o mais apaixonado. Nunca me canso. Nunca me esqueço. Escrevo todos os dias. E se não escrevo novidades é porque reviso os arquivos e corrijo os textos antigos que às vezes me surpreendem mais do que os neófitos.

Sempre me perguntam qual o preferido. Não digo nada. Não me comprometo. São como filhos. Não posso ter preferências para não magoar meus filhotes. Os preferidos meus podem não ser os dos outros. Como saber qual o melhor? Não creio que a democracia seja sinônimo de verdade ou unidade.

Para concluir este breve histórico de relacionamento, gostaria de dizer que quero letras porque quero humanas. Gosto de português porque gosto de falar, me expressar.

 Temos sempre algo de muito importante a dizer ao mundo. Só temos de encontrar o melhor meio. Uns escolhem a pintura. Outros a música. Mas todos tem algo muito forte a dizer sobre nossas fraquezas.  Afinal, a palavra tem poder. Um poder de fazer viver e reviver. Mas também de afundar e destruir. A palavra está oculta na mente e expressa no papel. Está dentro e está fora. É ativa, dinâmica, modificadora da realidade.

Toda palavra gera efeito. E todo efeito pode gerar uma palavra, seja de espanto seja de receio. A palavra aproxima mundos e separa nações. As religiões se apegam às palavras para depois se pegarem nos ringues. Mas quem se desvencilha das palavras por qualquer motivo vai se arrepender de não usá-las com o devido respeito.

A palavra é sempre uma coisa boa; os homens é que a corrompem na intenção pelos impulsos. As palavras podem entrar pelo ouvido e sair pelo outro. Por outro lado há palavras tão arraigadas que nem o devorador dos universos, aquele que chamam de tempo, poderá exterminar. Porque a última Palavra nunca, jamais terá fim! Qual delas ecoará pelo infinito?

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