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terça-feira, 20 de abril de 2010

Virgem bela





Maria do sim e do céu
Do agora e já:
Servir a Deus e amar

Maria chorosa das dores de Deus
O alento dos fracos
Senhora dos pobres
Maria de Deus.

Auxílios dos outros Cristos
De espírito forte.
Jesus é nosso Norte
E tu, bússola que nos guia.

Estrela do Mar és, Maria,
estrela guia do mar da vida
Impiedoso e bravio.

És o dedo de Deus na vida nossa
És graça de Deus, e sua glória.

És ardoroso desejo
de ser tudo em todos
Socorro na angústia e no choro
Maria do sim e do céu.

Foste pelo amor teu,
e para sempre amada,
Esposa de Deus.

És Mãe e Mestra
Esposa Excelsa, e Serva,
prestativa e dócil.
Na arte do sorriso, uma flor, um lírio,
um Sonho de Deus
antes de todos os séculos.

A escolhida; não pela sorte,
mas pela morte de si em cada ato,
No esforço de ser de Deus
em todas as horas, cedo ou tarde.
Do amor de Deus e do céu, és imagem fiel.

Um tesouro encontrado, uma descoberta
por tua causa...
as mãos de Deus sempre abertas.

O Pai investiu e gostou do que viu
Maria quis, não temeu, agradeceu
E o Espírito abençoou com louvores
Jesus habitou e amou

Nada te impediu, Maria,
Nem Herodes, ou Pilatos,
fariseus, ou plebe,
de permanecer de pé
frente ao Senhor

Na cruz, na dor,
No tormento, no rolo compressor
Da rotina da vida,
Na pobreza, no deserto
De Nazaré, um casebre.

Prova maior que Nazaré algo de bom presta
De lá veio tua Serva
E teu bendito Jesus.

A honestidade apreciou teu bem querer
e a simplicidade habitou
teu coração, e tua mente.
A humildade te exaltou acima de todas as gentes
A bem da verdade da qual foste arauto.

A ti veneram todo lugar e cidade
Por todas as gerações, e as idades.

Geradora e Gerada
Uma arma forjada
no fogo do Espírito
Purificada
nas águas do Eterno.

Foste sempre bela,
como foste Virgem
quando te desenhou Deus apaixonou- se o amor.
E tudo se fez luz, geraste Jesus.

Sempre disponível a correr os riscos
De um amor total
Porque a boa medida do amor é amar
E sem medidas.
Generosidade própria de quem sabe o que é amar alguém devotamente
Com unhas e dentes.



Se a mulher é do homem uma esposa
Assim Cristo de sua Igreja o é
Pelo amor, esperança e fé.

Doce abrigo, lindo sonho
Amor acima dos homens
E da soma dos anjos.

E o que se pode dizer de Cristo
Te cabe com tanto louvor
Louvemos aquela que fez a vontade do Senhor!

Pois é impossível calar a voz dos pequeninos
Pois quando calarem, as pedras mesmas to dirão :
Que és agraciada, bendita e santa.

Maria, que o teu manto
me cubra e enxugue meu pranto
Como as asas da galinha reúne os filhotinhos
Que têm medo de arriscar
O tremor e a fome.

O mês de Maio é de Maria, e todos os dias.
Mês das noivas e das mães.
Sei que escolheste por esposo José
Por ser quem ele é
Homem puro, santo e justo.

Até hoje não compreendo
Como alguém que sofreu tanto
pôde conjugar na vida o verbo amando.

Não entendo como alguém tão pura
Pode amar tão imperfeitas criaturas.
Amar quem não merece:
Pobres pecadores, ricos de erros,
Necessitados de preces.

Bem fez Jesus ao te levar consigo!
Por isso tua carne recebeu tal brilho
de merecer o céu.
Pois como poderia o Pai perder sua Filha, a Predestinada
E o Espírito sua Esposa e Escrava
E o Filho sua Mãe e Amiga?

Obrigado, Mãe, por ter oferecido tanto
E como é difícil te agradecer
Prefiro te obedecer
Não só improvisando versos
Mas cumprir o que queres:

Fazer da Vontade do Senhor
O meu caminho, a minha regra.
Não o meu querer,
mas o que Ele preza.

Teu filho João não te consola
Pois quem deveria, não se desespera
A lágrima caiu, mas confiou
que a esperança arrematasse maior prêmio.
A dor doeu,
Mas a fé creu.

Bendita seja, Jesus,
a mãe que chorou tua dor,
que odiou o ódio,
e amou o teu amor.

Bendita seja, Jesus,
aquela que te amamentou
que cresceu com teu crescer
que trabalhou, lutou, cansou tanto
que em ti foi digna de se encontrar
em merecido descanso.

Preciso do teu amor
como o céu precisou de ti
para estar comigo em todos os cantos
Pois bendito é o fruto e a semente
da árvore, do teu ventre.
Que sejamos como foste:
Uma serva, um sonho doce.

Belém foi para ti lugar de alegria,
Sacrário do Altíssimo,
Em Nazaré, o dia a dia
Na cruz, a agonia
Em nosso coração, lugar de veneração
Ó Virgem Maria, a MÃE.
Ó Virgem Maria, amém!


SUICÍDIO

Uma conceituação aproximada: A DEFINIÇÃO DO SUICÍDIO


conceito etimológico


Vem do latim. Sui caedere :  cídio - morte; sui - de si próprio.
Expressões e termos relacionados ao suicídio: “o último ato de suas vidas, causa de suas mortes”, “ato mortal de si”, “ato de pôr fim à própria vida”, “matar-se”, “suicidar-se”, “elimínio da própria existência”, “sacrifício de si”, “atentar contra a própria vida”,suicida em potencial”, “morte suicida”, etc.
 Suicídio, portanto, é o ato (ou a omissão) pelo (a) qual alguém põe termo à sua vida, intencionalmente. Intencionalmente não se refere somente àquelas mortes de cunho acidental em que há vitimas que não objetivaram a sua própria morte mas também no sentido de que se deve levar em conta o nível de sobriedade e autonomia nas decisões do indivíduo para uma classificação mais acertada. Por falar em omissão, ela está muito relacionada, por exemplo, a mortes por eutanásia, na qual o paciente não faz nada para se salvar, ou deixa que outros o matem.
Geralmente aquele que tenta o suicídio deixa algum tipo de mensagem de cunho explicativo, expiatório, escusatório, etc. pode ser uma carta ou simples bilhete.   O simples fato de deixar um bilhete pode dar a entender a premeditação do ato e configurá-lo como intencional, querido e planejado. Mas nem sempre se deve concluir assim; fica sempre a dúvida sobre seu estado, do nível satisfatório de decisão do indivíduo. Se não se tratou de um suicídio forjado, quando na verdade foi um assassinato. 
O suicídio pode ser levado a cabo devido a causas bem objetivas, desde aquelas no campo extra-subjetivo ou advindo das condições psicológicas, espirituais, e do estado somático do sujeito. Pode ser também classificada essa causa pelo sofrimento real ou pela influência de “objetos falsos” criados pela mente do doente.
O suicídio como “gesto e sinal” pode vir da perplexidade diante da complexidade da vida. Em geral é compreendida como “posição dos extremos”: de um lado forças determinadoras dos interesses da política (os interesses do grupo, altruístas) e doutro lado, da vontade do EGO (egoísmo). Por de ser por motivos religiosos ou ateus (ateísmo prático ou teórico), ou configura-se como termo limítrofe entre a aceitação do instinto de auto-preservação e da agonia de viver; entre a obediência ao poder divino e a supervalorização do livre-arbítrio humano. Fica sempre a eterna luta entre o mundo subjetivo e objetivo, entre opinião e verdade, entre liberdade e destino, entre religião e cultura.
Tudo se envolve na discussão daquilo que para Albert Camus era a indagação fundamental do ser humano: “se a vida vale a pena ou não ser vivida”. De qualquer forma, é sempre assunto de especial importância porque dela depende todo o filosofar humano. Nada mais importa para o homem se antes ele não se responder a esta proposição essencial.
É muito claro como o niilismo de Nietzsche foi determinante na justificativa racional suicida. Entre os filósofos nada é unânime em relação ao suicídio. Autores ateus e religiosos se mesclam em opiniões contrárias, e nunca decisórias, definitivas. A questão, por isso, ainda está em aberto. Nenhuma opinião encerrou de vez o questionamento. Fica fácil entender as causas, mas nem sempre o nível de compreensão que a pessoa tem de seu próprio ato. 
Moralmente falando, a questão depende do tipo de moral pretendida: se falamos de moral niilista, ou cristã, budista ou existencialista, ética grega ou atéia. Assim em uma sociedade pode vigorar a idéia do suicídio como ato pecaminoso, um crime a ser punido, e em outra como ato de coragem e honradez.
Não raro, o suicídio é uma arma atual do indivíduo para reclamar direitos de outros. Como não acredita mais no conceito de revolução e libertação pela união das forças de muitos, o suicida espera dar a entender, com seu ato, sua luta. Padece o passageiro para viver o que é eterno, transcendente, e universal.
O suicídio é, acima de tudo, uma tomada de posição, é um decidir-se pela prevalência da subjetividade sobre a objetividade a qual um mundo cruel exige. É acima de tudo um gesto que carrega significados latentes. Pois, se a vida não tem sentido, só tem sentido abandoná-la. Será o último ato justamente aquele que dará o “significado suficiente” que nunca a vida teve para dar. Aquele significado de um ato que é, sobretudo, uma “denúncia e um encorajamento”. É de maneira mais ou menos semelhante que um pensador a favor da prática suicida se expressaria. E o simbolismo continua na experiência da presença x ausência.
Parece ser que aquele que se mata, deseja de alguma forma, implicitamente - como se pudesse vislumbrar do outro mundo esse plano terreno - vingar-se daqueles que odiou e o prejudicaram. Como se pudesse já agora antecipar o gosto prazeroso de se ver justificado.
“A sensação de estar aqui”. Relacionamos aí o grito com a presença, o silêncio com a ausência. Mas pode ser o contrário. Vejamos bem: por causa do medo de agir, mesmo estando presente o sujeito, nada muda porque nada se faz. Já a ausência promovida pelo suicídio pode dizer mais que qualquer grito. Esse silêncio é representante da legítima expressão da “pulsão de morte” ao qual Freud se refere em sua teoria psicanalítica. O que chamamos de “homem – suicida” pode ser simplesmente o ser humano que encontrou o seu meio, o seu modo de reclamar, a sua necessidade de aparecer no palco da vida, de ser notado, de ver realizado o ideal ao qual devotou toda uma vida (seja uma vida curta, seja longa) vivida intensamente ou não.



Os meios e instrumentos mais usados


Disparo mortal de uma arma branca ou de fogo, ingestão de veneno ou a recusa de alimento; Gás, overdose de drogas (legais ou ilegais) e também por barbitúricos (ácidos diversos). No haraquiri o instrumento mais usado é uma adaga ou espada. Depois da invenção da arma de fogo, é grande o número dos que se matam procurando mais precisão e rapidez nesse tipo de morte. Famosa e também muito usada é a morte suicida com forca e por grandes quedas de pontes, edifícios, etc.

Casos famosos[1]


Casos misteriosos, complexos, confusos, mortes como revolta e como revolução, silenciosas ou midiáticas, de reis ou vassalos, dentre outros. A história legou muitos exemplos famosos e intrigantes. Povos inteiros, grupos e indivíduos protagonizaram dramas reais que não tiveram final feliz. Quanto aos casos documentados e comentados por grandes escritores temos:


Xantos, sitiada por Brutus, a população, enfurecida, avivou com todo tipo de combustíveis o fogo que havia entrado na cidade, pais e mães atiravam seus filhos pequenos nas chamas, homens e mulheres se lançavam do alto das paredes ou se matavam entre si. “Nada se faz para escapar da morte que eles não fizeram por fugir da vida.” (Montaigne, Ensaios).
Vencidos os cimbros em Vercelli, ao empreender a retirada se encontraram com suas próprias mulheres, que eles afundaram as lanças no peito e na cabeça. Os que não haviam fugido, atravessaram-se com suas armas ou se fizeram pisar pelos bois. As vingadoras esmagaram seus filhos com as carroças e se enforcaram. (Ano 110 antes de Cristo).
As autoridades romanas deportavam jovens judias para entregá-las em Roma a uma vida de opróbrio. Elas se suicidavam, jogavam-se no mar. Perseguidos os judeus, durante a Idade Média se reuniam, matavam seus filhos e se matavam. Ano 1772, ruinoso setor de um hospital da França. Há um gancho. Um atrás do outro, 15 inválidos se penduraram nele. (Antonio Di Benedetto, Os suicidas, 1969, p.93)


Entre os povos primitivos, sobretudo os chamados bárbaros, era comum o suicídio por três motivos principais: homens velhos ou doentes, insatisfeitos com o fato de esperar a morte; mulheres viúvas por ocasião da morte de seus maridos e de subalternos e servos quando morriam seus chefes e reis[2].


Em Céos, os homens que tinham ultrapassado certa idade reuniam-se em um banquete solene, onde, com coroas de flores nas cabeças, bebiam alegremente a cicuta. Encontramos os mesmos costumes entre os trogloditas e entre os seres que eram todavia reputados pela sua moralidade. Sabe-se que entre esses povos, além dos velhos, as viúvas eram muitas vezes obrigadas a matar-se quando os maridos morriam. Esse costume bárbaro está de tal forma arraigado nos hindus que persiste apesar dos esforços dos ingleses. Em 1817, só na província de Bengala suicidaram-se 706 viúvas, e em 1821 foram 2.366 em toda a Índia. em outras regiões, quando morria um príncipe ou um chefe, os servos eram obrigados a morrer. era o que ocorria na Gália. Henry Martin afirma que os funerais eram mortandades sangrentas em que se queimavam solenemente roupas, armas, cavalos, os escravos favoritos, aos quais se juntavam os homens dedicados que não tinham morrido no último combate. Um guerreiro dedicado jamais devia sobreviver a seu chefe. Entre os achantis, quando o rei morria, seus oficiais tinham a obrigação de morrer. observadores constatam o mesmo costume no Havaí. (Durkheim, E. O suicídio, 2008, p. 231)


O suicídio em muitas nações só era considerado como ilegítimo se não fosse autorizado pelo Estado. Em Atenas, o homem que se matava era como se tivesse cometido uma injustiça para com a comunidade. Se antes de executar o ato o suicida pedia autorização ao Senado invocando as razões que lhe tornavam a vida intolerável, e se o pedido era deferido segundo as normas, o suicídio era considerado ato legítimo. 
O soldado que tentasse se matar para escapar ao serviço militar era castigado                        com a morte, mas se conseguia provar que os motivos que o tinham levado à tentativa eram outros que não egoístas e por isso aceitáveis era apenas expulso do exército. Se, enfim, o ato era motivado pelos remorsos de um erro militar, o testamento era anulado, e os bens, confiscado pelo fisco. Na mentalidade da época, ao matar-se, os homens se esquivam de sua obrigação                   para com a sociedade. Deixa de usar de seus talentos para a melhora do grupo.                                        Sua ação é tomada como uma omissão.   


os níveis e círculos de convivência [3]


Tudo depende da interpretação que o sujeito tem da sua própria existência e da existência como tal. Os valores, seus sonhos e ideais[4]. Mas haverá somente causas externas, ou outras de níveis mais subjetivos, mais profundos e mais íntimos, mais existenciais e metafísicos? Apresentaremos a seguir as causas mais prováveis de suicídio na sociedade.


O homem sensato, que sabe aproveitar o melhor possível os resultados adquiridos, sem sentir perpetuamente a necessidade de os substituir por outros, encontra neles o sustento necessário para as horas difíceis. Mas o homem que sempre esperou tudo do futuro, que viveu sempre de olhos postos nele, nada encontre no passado que o console dos momentos presente; porque o passado não foi para ele senão uma série de etapas impacientemente percorridas. O que fazia com que ele se enganasse a respeito de si próprio é que pensava sempre encontrar mais além a felicidade que até aí não encontrara. Mas eis que tem de parar; a partir deste instante, já não tem nada, nem atrás nem na frente, em que repouse o olhar. Aliás, a fadiga basta, por si só, para provocar a desilusão, porque, ao fim e ao cabo, é difícil não deixar de sentir a inutilidade de uma procura sem fim (...) a impaciência febril em que se vive não aceita resignação. Quando não se tem outro objetivo senão o de ir sempre mais além, como é doloroso ter de recuar! (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008, p. 277)

No âmbito pessoal- existencial  e  intra-subjetivo

O desgosto pela vida, entendida sempre como penosa e aborrecida. Pensar na vida como algo a se aceitar ou não, com ou sem sentido, que vale ou não ser vivida real, virtual e agradavelmente características típicas de pessoas muito inibidas, introvertidas, com uma timidez mórbida que tendem a se isolar, e se isolando afastam de si inúmeros elementos que podem agarrá-lo à vida.
No fundo, decorre da falta de percepção de valores. Existe nelas um vazio a ser preenchido, uma lacuna que parece não ser plenificada sequer por uma amizade sadia, trabalho recompensador e lucrativo, ou família acolhedora. Ficar ocupado para esquecer pensamentos auto-mutiladores não adianta. Eles parecem surgir sempre com mais força. O sujeito, então, vai se fechando em seu próprio raciocínio; não abre a janela do horizonte aos possíveis e ao desconhecido, não cresce no conhecimento, no amor, nem na liberdade. Está encarcerado por si mesmo, não consegue sair do casulo que construiu para se proteger do mundo.
Seu sentimento e pensamentos são habitantes de um labirinto. A única chance de sair de lá é ter pistas, ter um alguém, uma voz que surja como um testemunho convincente sobre os valores da vida, de sentir-se importante para alguém, de ser único e singular, em uma palavra: insubstituível.

Vida afetiva e familiar

Está mais que provado que a maior causa de suicídios é a falta de amor, de afeto, de respostas positivas a “convites sentimentais”. Pois só o amor verdadeiro pode dar sentido a um viver insatisfeito. E mais que somente ser amado, falta a percepção, ou melhor, a certeza no sujeito de que é amado de verdade. E como a certeza é algo do campo subjetivo, entendemos que é o melhor remédio, pois como a origem dom mal é subjetivo, deve subjetivo também o antídoto, senão o afetado pelo desejo de sair da vida não se convencerá de agir de modo contrário.
É interessante notar o individualismo de muitos suicidas quando não pensam na falta que farão a seus pais, a seus irmãos, aos amigos e conhecidos, ou mesmo pessoas que                      o admirava de longe, como se fosse um secreto admirador, ou seja, pessoas que dão força motivadora para se viver. É como se não se importasse com os sentimentos destes ou que se convencesse falsamente de que não é amado por ninguém e que não sentirão sua falta.                        E tentam se convencer disso analisando comportamentos da rotina em família, no trabalho e no colégio, de como os seus próximos parecem tratá-lo com indiferença. O problema é que nem todos têm facilidade em manifestar seus sentimentos. Mas isso não significa que não amem. Não dá para se basear nuns comportamentos ou reações de momento para basear toda uma vida. Em muito há negligência ou indiferença por parte de quem não viveu, nem se esforçou o suficiente para valorizar aqueles que atraiu para si.
Quando abandonam a vida parecem deixar uma mensagem a quem fica de que aqui não é lugar, de que não resta outra coisa a fazer, de que não vale a pena, de que o esforço para suportar é inútil, “bobagem de perdedores e covardes”. Eis aí a manifestação clara da força repulsiva das decepções amorosas: o indivíduo vive o drama sentimental num namoro, num noivado, casamento. Também fator crucial são as separações pelo divórcio, amores não correspondidos, mal-entendimento com os pais, viuvez e mortes de entes queridos.
Na separação entre divorciados, o indivíduo vive uma primeira morte. A morte do que apostou para uma vida inteira juntos, ou daquele que sente que “confiou demais”. Adicionados com a decepção, com o desabamento das expectativas que o cônjuge erigiu com promessas e votos de completude e doação mútua. E quantos são os divorciados (ou desiludidos amorosamente) se lançam (na maioria das vezes os homens) no consolo que a bebida pode oferecer! Que no intento de esquecer-se de quem o amou, acabam esquecendo de continuar a viver e assim se acostumam com o fato de que o caminho limítrofe entre a solidão momentânea e uma solidão total é apenas a distância de um ato: “o ato suicida”. Se não é o álcool, é a droga, é a vida sexual ativa e constante, ou qualquer outro subterfúgio que faça esquecer a dor de lembrar que não se é mais o mesmo feliz de antes.

Convívio social  - político – judicial – público

Diz respeito às responsabilidades que o indivíduo vai acumulando ao longo de sua vida diante da sociedade ajudando manter bem vivo o chamado “contrato social”, respeito à “ordem estabelecida” e “comunhão de intenções”. Nesse sentido sobressaem palavras e significados relacionados com preservação e continuidade, compromisso e obrigações, direito e poder.
Isso pode começar bem cedo, desde o ambiente escolar até a posse dos mais altos cargos públicos. Assim sendo, um simples fracasso escolar para um jovem pode ser grave o suficiente para fazê-lo pensar na vantagem que a morte pode proporcionar. Não é a escola, a reprovação em si, mas toda uma “cobrança” da família, do pai ou do responsável que o pressiona diante do futuro de adulto. Pais que decidem a profissão do filho, que esperam dele bons resultados os quais ele não está podendo oferecer, a insegurança vai tomando conta do individuo até que ele mesmo se sinta tão “incapaz” que não se veja mais do que um inútil no mundo, um “indigno social”. Em países como o Japão, são grandes os números de jovens e adolescentes que se suicidam depois de não terem atingido uma nota suficiente para passar num vestibular. Talvez alguém diria: mas porque dar tanta importância a uma aprovação? A causa é mais além e remete ao futuro, pois para viver num país tão exigente e dinâmico, tão abarrotado de gente que não suporta a vinda de mais dois filhos por família, que tem um território tão pequeno que albergues não alugam quartos, mas cômodos tubulares para dormir, um bom emprego depende de uma boa faculdade, a faculdade de um bom vestibular, e o vestibular de uma boa aprovação na escola. Problemas familiares associados a isto, crises de personalidades, desafetos e decepções amorosas, dificuldades de se “entrosar” são fatores que juntos podem dar margem para um desejo auto-mutilador permanente.
Temos por outro lado mortes suicidas por condenações judiciais como prisão perpétua ou algum tipo reclusão, seqüestro e tortura intensa, sentimentos de injustiça, difamação, calúnia, injúria, etc.

No campo econômico

Temos nessas causas elementos que mexe com o orgulho, e o amor-próprio, e o ego ferido. Insucessos financeiros, a quebra dos bens, falência. Pode ser a perda de uma hipoteca, falta de emprego ou ser despedido. Tudo isso são sintomas de algo muito mais complexo: manifestam a pequenez de alma dos que puseram exclusivamente toda a sua confiança e esperança nos bens materiais, sucesso econômico, e no progresso linear e não vertical, “para o alto”, para a dignidade humana, da pessoa acima da natureza e das coisas. Estes nunca se encontraram porque não encontraram os verdadeiros valores capazes de recompensar grandes desgastes e perdas.

A paixão pelo infinito é sempre apresentada como sinal de elevação moral, quando afinal só se pode manifestar em consciências desregradas e que instituem em regra o desregramento de que sofrem. Mesmo assim, a doutrina do progresso tornou-se muito rapidamente um artigo de fé. Mas também, paralelamente a essas teorias que enaltecem os benefícios da instabilidade, vemos sugerir outras que, generalizando a situação de que derivam, denunciam a maldade da vida, acusam-na de ser mais fértil em dores que em prazeres e de só seduzir o homem com falsos atrativos. E como é no mundo econômico que essa confusão está no apogeu, é também nele que faz o maior número de vitimas. (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008. p. 278)

Atitudes típicas de pessoas que só conseguem ser felizes com muito, e quando nem mesmo isso é suficiente, buscam ainda mais. São fruto do descontrole consumista de tudo ter, do desejo doentio de dominar e lucrar. Alguém que não aprende com as perdas e sacrifícios, com a dor e outros sofrimentos.  No fundo é um vazio experiencial a causa de tudo isso, de tal modo que a mais profunda e letal delas é a doença existencial de ter sido aquele conquistou o mundo, mas não se conquistou. Estes precisam não tanto de conselheiros econômicos, mas de conselheiros “espirituais”, psicológicos, e bons amigos.


CAUSAS e agravantes



Quatro grupos de pessoas com costumes de vida perigosos, com poucos meios materiais de sobrevivência e com problemas de ordem mental merecem atenção:

1. os que vivem em zonas urbanas pobres,
2. em indivíduos com distúrbios de personalidade,
3. entre alcoólicos
4. toxidependentes.

O suicídio no mundo inteiro é tão letal quanto aquela decorrente do infarto do miocárdio. Hoje se poderia dizer que de maneira geral o suicida é um indivíduo afetado por distúrbio nervoso ou estado psicopatológico. Mas não é só assim. Os casos de modo algum podem ser generalizados. Há muitas versões do suicídio. Temos que definir analisando cada caso. Mas como isso é difícil, tentaremos ao menos perpassar as problemáticas mais comuns.    De qualquer forma, fica sempre a necessidade de enxergar fatores constitucionais , biológicos, psicológicos e sócio-culturais no sofrimento individual.


“Hoje, sabemos que em todas as doenças, independentemente de causas externas, existe um componente emocional ligado a impulsos de autodestruição. A doença será resultante da interação entre a força de vida e uma correlata força que impele para a morte. Isso é mais evidente no caso de moléstias as quais se costuma se chamar de psicossomáticas, tais como  a hipertensão arterial e o enfarte do miocárdio. O componente emocional também acompanha outras doenças (se não todas), tanto no seu desencadeamento como na dificuldade do paciente em se prevenir e se tratar”




O ALCOOLISMO E AS DROGAS


O álcool afeta 7% por cento do número total de suicidas. Aliado ao alcoolismo vem a depressão.  Um simples fumante pode ser classificado como um suicida, pois não deixa de estar se maltratando, consciente de que isso faz muito mal. Também isso ocorre com o viciado em drogas, ou alguém que ingere alimentos e bebidas que fazem mais mal que bem. Se não tem força de vontade suficiente para parar, sabe que o vício que tem diminuirá seus dias de vida.
Permanece aí a eterno conflito entre o apetecível e o saudável, entre o que é prazeroso e o que é melhor e bom. Pode ser posto no mesmo quadro dos que vivem perigosamente. Estes sempre se consideram imunes aos riscos e pensam burlar o azar quando na verdade a sua única “invulnerabilidade” está contida na opinião e vontade de se safar de tudo. Exemplo disso é o individuo que pratica a “roleta-cósmica”. Sua crença é mágica, seu ato deixa para a irracionalidade do acaso a justificação da vida, e do sentido de suportar a existência.
                                                                                                          

A LOUCURA


O suicídio, decerto, ocorre com facilidade entre os doentes psíquicos e psiquiátricos: são 90 por cento dos casos. Dos que atentam contra as suas próprias vidas e conseguem realizar seu intento, 15% sofrem de depressão. Os doentes, a rigor, podem ser separados em três tipos: neuróticos, psicóticos, sem falar nas personalidades anormais cujo exemplo muito comum é a sociopatia. 5% dos suicidas são afetados por algum descontrole de personalidade como o “Distúrbio de personalidade anti-social”, o “Distúrbio de Personalidade do tipo Esquizóide”, que poderá vir a desenvolver uma esquizofrenia, outros sofrem de uma ou de outra forma de neurose.
A loucura não é esquecida por Durkheim na obra “O suicídio”, mas ele declara que ela sozinha não pode ser o único fator:

“Se houvesse alguma razão para se ver em toda a morte voluntária uma manifestação versânica, o problema que suscitamos estaria resolvido; o suicídio não seria mais do que uma afecção individual. É essa a tese defendida por muitos alienistas. Segundo Esquirol: “O suicídio possui todas as  características das alienações mentais”. –  “O homem só atenta contra a própria vida quando está mergulhado no delírio;logo os suicidas são alienados”. Partindo desse princípio, ele conclui que o suicídio, sendo involuntário, não deveria ser punido pela lei.”


E quando esses elementos agem num mesmo indivíduo, a dose pode ser forte demais para suportar. “A existência de um “suicídio racional” é algo questionável e a história dá-nos um exemplo extraordinário a este respeito: a esmagadora maioria dos prisioneiros dos campos de concentração, mesmo sendo submetidos a um sofrimento atroz e às mais diversas torturas, raramente se suicidavam”. (Pedro Afonso, psiquiatra)
                                     

Existem duas espécies de causas extra-sociais que se pode atribuir a priori uma influência sobre as taxas dos suicídios: são as disposições orgânico-psíquicas e a natureza do meio físico. Poderia suceder que, na constituição do indivíduo ou ao menos na constituição de uma importante classe de indivíduos, houvesse uma tendência, de intensidade variável segundo os países, que conduzisse diretamente o homem ao suicídio; por outro lado, o clima, a temperatura, etc., poderiam, pela forma como agem sobre o organismo, ter os mesmos efeitos diretamente (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008, p. 29)


“Suicidas loucos”: essa é só uma forma popular de chamar. Não sabemos o grau de alienação da realidade. É assim que vamos chamar de loucura, por motivos práticos, o estado de alienação da realidade. Também não sabemos quantos dos suicidas são realmente loucos.  Não sabemos com precisão o tipo de loucura em cada caso, ou qual o nível de percepção do real interno e externo do indivíduo.


Se houvesse alguma razão para se ver em toda a morte voluntária uma manifestação versânica, o problema que suscitamos estaria resolvido; o suicídio não seria mais do que uma afecção individual. É essa a tese defendida por muitos alienistas. Segundo Esquirol: “O suicídio possui todas as características das alienações mentais”. – “O homem só atenta contra a própria vida quando está mergulhado no delírio; logo os suicidas são alienados”. Partindo desse princípio, ele conclui que o suicídio, sendo involuntário, não deveria ser punido pela lei. (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008, p. 30)


As faculdades principais no ser humano no uso de sua liberdade são vontade e inteligência. Mas não se pode negar que essas mesmas faculdades possam estar infectadas, contaminadas de distúrbios psíquicos e psiquiátricos. Se não é com todos que isso ocorre, as estatísticas provam que domina na maioria dos casos um ou mais distúrbios associados e conjuntamente ativos:


“O doente usufrui do raciocínio, mas o encadeamento de suas idéias apresenta-se provido de lacunas; não se conduz de maneira absurda, mas à sua conduta falta continuidade. Não é, portanto, exato dizer que a loucura se pode instalar no homem de maneira restrita; tão logo penetra o entendimento, invade-o por inteiro.”


Acerca do estado esquizofrênico diz Bressan (in: Shirakawa, 1998):

“a) de 2% a 13% de todos os pacientes cometem suicídio.
 b) esquizofrênicos têm um risco de 10% a 20% maior que a população geral para cometer suicídio;
c) o risco é maior em pacientes do sexo masculino.
d) o risco é maior em pacientes jovens e diminui com a idade”.


Alguns indícios podem facilitar a identificação deste mal no indivíduo: o isolamento social, o fato de não ser casado, geralmente desempregado, história prévia de tentativa de suicídio, fortes expectativas sócio-familiares de boa performance, curso da doença crônico e com muitos surtos agudos, múltiplas internações, dificuldades no trabalho, história de depressão no passado e, evidentemente, depressão presente. A mente de um esquizofrênico é dissociada; é um agravamento de trágicos distúrbios da personalidade. Ela é uma doença psiquiátrica progressiva, pertencente ao grupo das psicoses, de evolução prolongada, tornando paulatinamente o sujeito incapaz de executar tarefas simples.
Os esquizofrênicos são pessoas revoltadas com sua condição e culpam os familiares por isso. De modo que aqueles que estão mais próximos é que mais sofrem com suas queixas e maltratam a quem deviam ser gratos. A morte é cada vez mais freqüente no esquizofrênico e em maior percentagem ainda no início da doença. Nela, a personalidade é, de modo profundo, a área mais afetada. Seu lugar, no campo das doenças psiquiátricas é no grupo das psicoses.            Seus efeitos vão pouco a pouco incapacitando mecânica e intelectualmente, com dissociações, mudanças bruscas de humor, alteração de comportamentos, estresse, etc. Hoje em dia é um mal relativamente comum (um em cada mil habitantes, por ano). A faixa etária que mais atinge é de jovens entre 18 e 30 anos. A depressão vem com intervalos cada vez menores ao longo dos anos. A obsessiva idéia de morte faz deles vítimas constantes de uma desmotivação intensa. O sentido de viver fica aquém do suportável. O “sucesso” na tentativa suicida é cada vez mais corrente e, surpreendentemente, a percentagem maior reside ainda no início da doença.
Ainda sobre os males patológicos, Durkheim cita as “monomanias” como aquele fenômeno psíquico estudado pela tradicional terminologia no século XIX que afetam só um elemento da mente. A consciência de um monomaníaco é relativamente “normal”, pois é igual a de um são, exceto em uma área: “a vontade de morrer”. Isso toma corpo de uma obsessão, uma espécie de delírio onde o único foco visado é a morte como objeto a ser buscado incessantemente, sem mais razões. Durkheim acredita ser essa uma loucura parcial e limitada a um único ato. Ele continua:


Professava-se então a idéia de que a constituição do espírito humano dá-se por meio de faculdades distintas e por forças separadas que normalmente cooperam, mas que também podem agir isoladamente; parecia, pois, natural que pudessem ser separadamente afetadas pela doença. Uma vez que o homem pode manifestar inteligência sem vontade e sensibilidade sem inteligência, porque razão não poderiam existir doenças da inteligência ou da vontade sem que houvessem perturbações  da sensibilidade e vice-versa? Se aplicarmos o mesmo princípio às mais especiais formas de tais faculdades, chegar-se-ia a admitir  que a lesão afetaria exclusivamente uma tendência, uma ação ou uma idéia isolada. (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008, p. 33)


Mas o próprio autor conclui que a ciência já não aceitava tal separação entre as faculdades. Com o avanço da ciência psicológica a chamada “somatização” na interação corpo-psique resolveu o impasse. Viu-se, então, que uma única tendência enferma da alma não pode estar absolutamente isolada, sempre haverá afetações do corpo agindo ao mesmo tempo, ou agindo “no” corpo, e do corpo agindo no espírito.


A DEPRESSÃO


A maioria das pessoas que o cometem estão em grave e profunda depressão. Mas, surpreendentemente, ao contrário do que muitos possam pensar, o risco maior de suicídio entre os depressivos não ocorre com o auge da crise. Nesse estágio o doente age com letargia e uma intensa lentidão na faculdade cognitiva, seus raciocínios ficam distorcidos e dissociados, os julgamentos são pouco definidos, existe uma certa “dormência”. É na fase seguinte ao auge da crise depressiva que a pessoa vai paulatinamente recobrando o raciocínio, que fica mais ativo e reflexivo. Só então ela tem força e poder de decisão capaz de acabar com sua própria vida.
No só os adultos têm depressão. Todos os que sabem que sofrem e porque sofrem podem ter depressão, quer dizer, pode ser um adulto ou jovem ou idoso. No jovem, o mal pode estar disfarçado em rebeldia, irritabilidade, mau humor constante, inquietação ou isolamento no quarto, etc. outros sinais insônia ou sono demais, sentimentos de culpa, ansiedade, medo, dificuldades em tomar decisões, sentimentos de desesperança, etc. Não é difícil a pessoa se compreender como um fardo para seus pais ou para outros e que sua vida poderia significar um descanso para estes.


o Sentimento de DESONRA



É preciso esperar a morte, ou temos o direito de abreviar a dor que consome o corpo, alma e psique? Não poucas vezes a velhice é entendida como um mal. Vista assim, não é de se admirar que tantos queiram sair da vida quando a vida tem menos a oferecer do que quando jovem.
Sair no auge, quando ainda se é uma estrela reluzentemente esplendorosa.                Sair quando pode ser uma boa lembrança na mente de quem se ama. Eis aí uma maneira poética e entusiasta de pensar. Abandonar o barco antes que ele colida com a morte certa. Mas aí, o abandonar é também um morrer. Tudo para quê? Para ficar no retrato o jeito ainda jovem cujo rosto vale a pena reviver em cada lembrar.
Ora, tal pensamento não é mais que injusto consigo com o próximo, simplório, fruto de uma mente limitada, sem o dom criativo, pois se morrer é parte do viver, mais ainda é o envelhecer, o amadurecer o plenificar-se.
Experimentar todas as fazes, adquirir o conhecimento das idades: eis um bom modo de enxergar. Isso a sabedoria dos povos e dos homens simples sempre entenderam bem.


Os guerreiros dinamarqueses consideravam uma vergonha o fato de morrer na cama, de velhice ou de doença, e suicidavam-se para escapar a  essa infâmia. Os godos chegavam mesmo a acreditar que aqueles que morriam de morte natural estavam destinados a viver eternamente em cavernas cheias de animais venenosos. Nos limites das terras dos visigodos havia um grande rochedo, chamado “O Rochedo dos Ancestrais”, do alto do qual os velhos se lançavam quando estavam cansados da vida. encontramos o mesmo costume nos habitantes da Trácia, nos hérulos etc. Silvius Italicus afirma, a propósito dos celtas  espanhóis: “É uma nação pródiga de seu sangue e muito inclinada a apressar a morte. A partir do momento em que o celta ultrapassou os anos da força da juventude, aceita impacientemente o decorrer do tempo e não se digna esperar pela velhice; o fim da vida está em suas mãos”. Assim, prometiam o paraiso aos que se matavam e as trevas aos que se deixavam morrer por doença ou velhice. O mesmo costume manteve-se durante muito tempo na Índia. Talvez não se encontre nos Vedas tal complacência para com o suicídio, mas ela é certamente muito antiga. Plutarco afirma o propósito de suicídio do brâmane Calanus: “Sacrificou-se a ele próprio conforme ditava o costume dos sábios da terra”, e Quinto-Cúrcio afirma: “Há entre eles uma espécie de homens selvagens e grosseiros a quem se dá o nome de sábios. Para eles é uma glória antecipar o dia da morte, e queimavam-se vivos quando a duração da vida ou da doença começa a atormenta-los. A morte quando se espera por ela, e´para eles a desonhada vida; dessa forma não prestam nenhuma homenagem aos corpos destruídos pela velhice. O fogo ficaria desonrado se o homem que lhe era entregue já não respirasse. (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008, p. 230)


É certo que se foge não simplesmente do envelhecer em si mesmo, mas do envelhecer cheio de males, curáveis ou não. O certo é que a cada dia que passa estamos mais perto da morte. Dizem: nascemos para morrer e vivemos para não existir. Temos um fim.
A vida é como uma ampulheta. Ao nascer o criador vira esse relógio da vida.                      A contagem regressiva começa. A partir daí, viver é perder, gastar-se e dar-se. Se não encontrar-mos o sentido da vida, mas o sentido da vida não deve ser entendido, deve ser vivido. E ninguém a encontra se não se põe em busca. Viver é sempre uma proposta, uma aposta;  bom jogador vive até o fim, vencedor é o que não desiste.
Mas só se morre como se vive: com ou sem honra, sensatez, sobriedade. Se tudo depender de nosso envelhecimento, e não de outros a interferir, a lucidez é elemento secundário, nem sempre ela vai continuar. Exemplo: muitos dizem que prefeririam morrer de um acidente que sair dele dependendo dos outros. Estariam mesmo estes dispostos a se matarem, caso se vissem obrigados a viver como paraplégicos, e até tetraplégicos? Dizem isso com convicção ou são palavras soadas ao vento?            
O que de fato se vê é que pessoas com esses males viverem surpreendentemente com dignidade, amarem a vida, apesar de tudo, se regeneram e começam a enxergar a vida com outros olhos, repleta de possibilidades, isso porque encontram novas formas de amor, não se sentem abandonadas por quem as amou antes do acidente. É a não rejeição da sociedade e acima de tudo o amor que brota sob outras faces com o tempo que revigora suas almas, seu espírito se enche de esperança de um mundo possível de co-existir conosco. Ele não é tão pequeno assim!
Ou existe ou deveria existir algo motivador da vida.  Eis a questão! No fim das contas, acreditar ou não é a solução subjetiva para a questão. Pois não se poderá com muita facilidade provar que vida deve ser vivida por esse ou aquele motivo. Tão difícil que provar isso é provara existência de Deus, tanto para ele, tato para a vida, o que temos são probabilidades, a esperança de que nada do que se crê seja inútil, e propostas de continuidade.
É preciso estar de olhos abertos para perceber onde estão os sinais de vida, as sementes do florescer. Talvez seja culpa de nossas lentes, de nossos olhos, microscópios e de nossos telescópios. Talvez não estejamos cem por cento sadios para perceber a beleza da vida, crer no futuro, mergulhar na sapiência dos anos. O problema pode não estar na questão nem no fundamento, mas na forma de propor o problema. E dizemos “vale ou não vale?” Ora, não se pode provar que sim, se não se “vê para crer”, se não se põe a caminho e tenta repetidas vezes como se fizéssemos o maior dos experimentos ( e assim o é). Se vivemos para ver acontecer, ganharemos pouco; se não vivemos, perdemos tudo.
Disse certa vez Michel de Montaigne, na obra Ensaios: “eis por que se diz que o sábio vive quanto tempo deve e não quanto poderia; e o que de melhor recebemos da natureza e que nos tira todo o direito de queixa é a possibilidade de desaparecer quando bem quisermos. Criou ela um só meio de entrar na vida, mas cem de sair. Podemos carecer de terras para viver; não nos faltam para morrer. [...] E não se trata de receita para uma só doença. A morte é um remédio para todos os males, é um porto de inteira segurança que não é de se temer jamais e sim de se procurar não raro. Tudo consiste nisto: que o homem decida acabar, que corra á frente de seu fim ou o aguarde, é sempre que ele está em causa: em qualquer ponto que se rompa o fio, ei-lo fora do jogo. [...] a morte voluntária é a mais bela. Nossa vida depende da vontade de outrem; nossa morte, da nossa. Em nenhuma coisa, mais do que nesta, temos liberdade para agir”.
O homem deixou de querer só suprir os desejos mais inferiores do ventre, fome e sede  e começou a ser escravo das paixões do coração, dos sentimentos, dos impulsos do amor-afeto. Chegou ao nível quase que predominantemente racionais. Não se viu satisfeito. Sua sede de infinito buscou o tudo além daqui, quis abandonar o que é supérfluo, passageiro, confiou na existência de um mundo maior que este, mais justo, mais humano. Alguns querem arriscar. Apostam em viver sob outra forma, sob outras leis.
Isso não deve ser entendido em termos cronológicos, de caráter retilíneo. Tampouco resume o caráter de cada ser humano. Nunca se é só isso ou aquilo. Ou na mesma intensidade. Os homens mudam e migram suas motivações. Só um dado não muda: que o mundo como está não é suficiente para satisfazer o ser humano. Ele parece ter sido feito para um mundo melhor.
Jovens, adultos, seja quem for que se mate juntos, ou um matando o outro e depois se matando, ou então cada um matando ao mesmo tempo juntos, ou se mata assim porque não tenham coragem o bastante para enfrentar a ultima das solidões – pois morrer – é solidão na versão mais cruel e enigmática de toda uma vida, e assim se tenta enganar a dor do isolamento ou porque simplesmente descobriram que eles têm os mesmos motivos.
Dizia o papa Pio XII numa mensagem em ocasião de uma visita aos presidiários de Roma: “Os homens ainda são maus, porque não foram suficientemente amados”. É relevante esta afirmativa, e há que se acrescentar: amados e sentindo-se assim. Pois a percepção, nesse sentido, ocupa privilegiado lugar nas decisões a tomar. Sentir-se querido por alguém, sentir-se amado de verdade, buscado, conquistado por um amor generoso, desprendido, é o melhor remédio contra todas as dores, especialmente aquelas que encorajam para o suicídio.
        

O ideal de progresso


A vida entendida só como uma escalada rumo ao sucesso não é uma visão sadia.

A paixão pelo infinito é sempre apresentada como sinal de elevação moral, quando afinal só se pode manifestar em consciências desregradas e que instituem em regra o desregramento de que sofrem. Mesmo assim, a doutrina do progresso tornou-se muito rapidamente um artigo de fé. Mas também, paralelamente a essas teorias que enaltecem os benefícios da instabilidade, vemos sugerir outras que, generalizando a situação de que derivam, denunciam a maldade da vida, acusam-na de ser mais fértil em dores que em prazeres e de só seduzir o homem com falsos atrativos. E como é no mundo econômico que essa confusão está no apogeu, é também nele que faz o maior número de vitimas. (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008. p. 278)

Muitas vezes essa visão de mundo vem agregada ao sentido de missão, de modo que o indivíduo é posto dentro da engrenagem da onipotente providência divina num plano bem organizado pela divindade para cumprir um desígnio providencial n vida pessoal e na vida de outras pessoas. Justificar assim a vida pode ser até algo válido, mais racional que o simples acaso, bem humano de se apreciar. Afinal de contas, um indivíduo de uma tal  fé pode ter mais elementos que o ligam à vida.
Albert Camus no livro “O Mito de Sísifo” descreve Sísifo, que “é um personagem da mitologia grega condenado a levar uma pedra para o alto de um morro. Toda vez que ele chega ao cume, a pedra rola para baixo de novo, e ele deve recomeçar a tarefa do zero. Camus compara essa tarefa aos sofrimentos da vida. Mas sua interpretação inovadora é que a vida não é o cumprimento de um objetivo, e sim o processo. Sísifo, para Camus, não é um condenado infeliz. É um vitorioso, realizado na concentração de sua mente e no suor proveniente de seu esforço. Para Camus, o suicídio é a negação da liberdade”. (David Cohen e Dagomir Marquezi).


O homem sensato, que sabe aproveitar o melhor possível os resultados adquiridos, sem sentir perpetuamente a necessidade de os substituir por outros, encontra neles o sustento necessário para as horas difíceis. Mas o homem que sempre esperou tudo do futuro, que viveu sempre de olhos postos nele, nada encontre no passado que o console dos momentos presente; porque o passado não foi para ele senão uma série de etapas impacientemente percorridas. O que fazia com que ele se enganasse a respeito de si próprio é que pensava sempre encontrar mais além a felicidade que até aí não encontrara. Mas eis que tem de parar; a partir deste instante, já não tem nada, nem atrás nem na frente, em que repouse o olhar. Aliás, a fadiga basta, por si só, para provocar a desilusão, porque, ao fim e ao cabo, é difícil não deixar de sentir a inutilidade de uma procura sem fim (...) a impaciência febril em que se vive não aceita resignação. Quando não se tem outro objetivo senão o de ir sempre mais além, como é doloroso ter de recuar! (passim: DURKHEIM, E. O suicídio, 2008,                p. 277)



Se acreditamos no sentido da vida como arraigada a uma missão pessoal e existencial, certamente nos vem em mente a construção da vida como retilínea, “sujeito-objeto” linear, objetiva.  É forte nesse modo de ver a idéia de objetivação dos sentimentos, um mundo dominado pela mente. Nada de paixões a dominar os setores da vida. Uma vida certa, sem dúvidas, montada, estruturada como organismo. Mas há um mundo que resiste e insiste em tornar-se incomodo para estes: é o mundo do subjetivismo.
É a eterna luta entre dois mundos que se sobrepõem, que dominam épocas na literatura mundial, que definem planos de conduta, ditam regras no jogo político, econômico e cultural.  Trabalhar é alcançar só depois de lutar, de sofrer. Nisso o prazer concomitante, mas a posteriori. O salário, a compra de bens úteis que o dinheiro nos proporciona...                                Na arte e na religião reina respectivamente o campo da opinião e da fé; ambas aquém da verdade racional. Elas são múltiplas: existem tantas quanto existirem seres humanos para criá-las e nelas crerem. Mas no meio delas habita a ética, a moral para dirigir a mente ao bom caminho, ou ao caminho mais provável, mais acertado, ao caminho melhor.
O bom quase sempre é inimigo do melhor. Pela sobrevivência vale tudo, vale até matar, mas não vale se matar – se isso não constituir em si um ato altruísta. O suicídio só é permitido pela moral quando o sujeito não prima por si mesmo de maneira egoísta, e sabemos que o sujeito poderá certas vezes primar por si mesmo sem ser taxado de egoísta.


O FATOR HEREDITARIEDADE E O SUICIDIO POR IMITAÇÃO


O poder contagioso do exemplo


Um ato que dependa da liberdade não pode estar subjugado hereditariedade,                      e mesmo que houvesse uma certa influência, ela não poderia ser predominante e determinante a ponto de ser  a única razão  e causa. Existe aí uma força latente, oculta, de um vírus letal que anuvia as mentes e confunde as decisões: o poder contagioso do exemplo.
Não é certo dizer que os filhos dos que se matam estejam predispostos organicamente a repetir o ato. Teríamos assim, muitas famílias famosas pela morte voluntária de seus membros, conhecidas por uma corrente ininterrupta de suicidas. Mas isto não ocorre com constância nem em número considerável que pudesse provar a teoria. As famílias que serviram de inspiração a essa idéia eram exemplos escassos que não poderiam constituir dignos de tornar regra o que só pode ser considerado exceção. 
 Poderia objetar que o que se chama de hereditariedade é devido somente a uma “força exemplar” pela importância que os membros suicidas exerciam em alguns membros, sua ausência, a falta que ele fazia. Isso é muito fácil de se provar empiricamente.
Não está provado, por exemplo, que o suicídio só incida em famílias de alienados. Nem todos os loucos têm tendências suicidas. Não tentam se matar. Por isso é falso dizer que a hereditariedade teria alguma determinação suicida. O que se transmite é um estado patológico mental de sugestão, alguma falta de coordenação tal que conduziria ao ato mortal de si, nada mais.
Não é que todos os loucos busquem se matar, mas constumam lidar com instrumentos e caminhos perigosos. A probabilidade de que se matem é maior por isso.              Muitos morrem em decorrência do contato com estes meios ou pelo simples fato de se arriscarem inconscientemente, não por terem a morte em vista.
Pessoas normais se matariam mais quando enlouquecessem, ou melhor quando tem “acessos de loucura”, a uma brusca carga traumática  do que os loucos em seu estado mais constante. Ou seja, loucos têm crises. Já muitos diriam que não existe louco. O que existe é um mundo louco, irracional, incompreensível. De modo que não houvesse, segundo alguns estudiosos, ninguém em estado considerado “normal”, mas um estado considerado “comum” de ação. Se o louco tem acessos fortes, crises, digamos assim, ele age o resto do tempo como o quê? Como louco, e fica mais louco? E os normais? Não tem acessos de loucura em determinados momentos? Não se igualam, então, ao louco?
Seria inconsistente, para não dizer absurda a hipótese que exista uma tendência só para a morte por fogo e outra para a morte, por exemplo, por forca.

O TEMPERAMENTO E A PERSONALIDADE 


O temperamento próprio das pessoas tidas “fechadas”, tímidas o bastante para que sua timidez seja considerada por muitos como “mórbida”, podem predispor a enxergar a vida um pouco mais sombriamente do que o normal, ou pelo menos do que comumente se vê. Sua reclusão espontânea pode se desenvolver e chegar a se tornar aversão pessimista justificada racionalmente. Existe, então um temperamento que induz mais a um estado de languidez. Como diria Durkheim: “O que se transmite de pais para filhos é tão-somente certo temperamento que pode predispor os indivíduos para o suicídio, mas que não pode constituir uma explicação da determinação destes.” (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008, p. 77).


Dimensões


É sempre difícil fazer um levantamento exato, ou mesmo aproximado a níveis satisfatórios acerca do suicídio pela falta de provas, evidências claras de que realmente tal evento foi um suicídio real ou forjado (um assassinato aparentando uma autodestruição voluntária); também pelo fato de que muitos dos que morrem em circunstâncias especiais que poderiam remontar a casos assim não deixam bilhetes, cartas ou outras comunicações manifestando seu desejo de morrer. Outros muitos indivíduos nem mesmo dão sinais inequívocos claros de que intencionam se matar.
Os familiares, muitos deles se abstêm de anunciar seus casos, de modo a não se sentirem envergonhados pela provável reprovação social acerca do suicídio, por causa da visão cultural negativa. Em certos lugares e tradições desce uma espécie de agouro, má sorte, uma maldição sobre a família que carrega consigo tal infortúnio ancestral. De outro modo, numa segunda tentativa de explicar tais omissões, é que a família é vista como de alguma forma ou uma falta de assistência preventiva, como se tivessem “deixado morrer” aqueles que sofriam deste mal mortal, quer dizer, o de desejar morrer. O amor pode não ter sido suficiente.


AS ESTATÍSTICAS NO MUNDO[5]


Atualmente a Hungria é o país onde ocorre mais suicídios no mundo. Para cada 100 mil habitantes, 36,8 pessoas se matam por ano, segundo dados oficiais da OMS (Organização Mundial da Saúde). Lá são em média 58 mortes masculinas para 20,7 femininas. Esse dado é comprovado no mundo todo: os homens matam-se mais que as mulheres. Tomando os mesmos cálculos em relação a 100.000 habitantes,o índice brasileiro não é tão alto. É metade dos números mundiais: por 100.000 indivíduos no planeta, a media é que por ano 8 se matem; aqui são apenas 4. O segundo lugar no mundo pertence à ilha do Sri Lanka (35,8), a Finlândia (29,8º). E o quarto no ranking é a suíça (22,7). Em um estudo realizado desde 1985 comprovou-se que todos os anos, por dia, mais de 2.000 pessoas cometiam suicídio, sendo que ano após ano o índice, em vez de diminuir, tendeu sempre a aumentar.
Alguns analistas fazem esses números duplicarem ou até mesmo triplicarem devido aqueles suicídios confundidos geralmente com simples acidentes. Uma coisa é certa: os homens matam-se mais que as mulheres. Não porque eles tentem mais que elas. Na verdade elas são recordistas nas tentativas mas não na efetuação de seu intento primeiro. Os números chegam a dois terços para eles. Com o processo de integração das mulheres no campo de trabalho, houve um acréscimo dos suicídios entre elas em todos os paises ocidentais ou dos demais paises industrializados no mundo, mas esse crescimento não foi o bastante para passar os homens. O suicídio, como diria Durkheim, parece ser “uma manifestação essencialmente masculina”.
As tentativas ocorrem mais nas primeiras fases da vida. Os suicídios nas fases mais maduras. Os idosos são mais suicidas que os mais jovens. Ou seja, quanto mais amadurece em idade, mais amadurece no ser humano a idéia de sair da vida.
O suicídio é mais visto nos grandes centros urbanos que nas zonas rurais. Os religiosos se matam menos que os que não tem religião alguma. Há mais suicidas entre os que não crêem do que entre os que crêem.

        
O SUICÍDIO INFANTIL


É muito raro em todo o mundo. Os mais precoces suicídios, escrevem alguns, podem chegar até os cinco e sete anos de idade, mas o mais “normal” é a partir dos 10 ou 11 anos. Suicídios dessa estirpe são de caráter extremamente excepcional.
A causa dessas mortes deve-se justamente pela falta de maturidade intelectual suficiente para fugir dos perigos de morte, pesar prós e contras, prever as conseqüências de seus atos, justificar racionalmente suas escolhas. Certamente não pode ser causado por uma reflexão profunda sobre o sentido ou o prazer de viver e a vantagem da morte, a ausência melhor que a presença, o nada melhor que o existente, seja esse existir “com ou sem qualidade”.
Falta a eles experiência de vida, a certa maturidade de que se fala quando se diz que tal pessoa não aprendeu os benefícios que o sofrimento pode trazer, visto que o próprio sofrimento ensina, assim como os erros da vida.



Os jovens e as primeiras e idéias letais[6]


O período de maior incidência de suicídios é dos 15 a 30 daí tende a diminuir até voltar com força na velhice. O suicídio tem sido apontado como segunda ou terceira maior culpada por mortes de jovens entre 15 e 19 no mundo. Só os acidentes de carros e de motos matam mais.
Entre os jovens certamente se pode comprovar esse vazio existencial, um buraco que o medo preenche com “nãos” que alguns deles trazem sempre na boca. O medo toma o lugar da ousadia, da naturalidade espontaneidade própria da idade juvenil. O do arriscar-se, de apostar no inesperado, no surpreendente em lugar do já visado, na novidade frente à mesmice do passado, da segurança das estruturas já conhecidas. O receio causado pela timidez pode ocasionar omissões profundas. Das omissões, surgem remorsos; dos remorsos a desesperança e o desânimo. Daí por diante, o fim pode estar bem está próximo do que se imagina.
Entre os que estudam se matam mais do que os que não cursam nenhuma série. Os universitários se matam mais que os demais estudantes. Há casos em gradação sempre mais ascendente e íngrime em faculdades de filosofia com tendências mais esquerdistas, modernas, de influências niilistas e hegelianas.
Para os especialistas em psicologia, a exemplo do psicanalista Tenório Lima, um jovem falar em suicídio é algo normal. Só porque eles pensam e falam sobre se matar não é que eles irão mesmo, mas é preciso estar atento. Existe uma mania muito comum entre eles de brincar com a morte. Isso é até bom porque as dores partilhadas entre os amigos tende a diminuir e ficarem até “engraçadas”, mas se encontram apoio e reforço para se matarem em buscas de sites suicidas onde existem jovens que nem sequer vão tenta-lo um dia, mas que criminosamente infectam ainda mais as mentes dos jovens, fazendo expandir os índices suicidas.
Quando os jovens estão dispostos a discutirem claramente acerca das reais motivações, os prós e os contras é mais fácil de perderem o interesse de se matar. O que mais preocupa são os jovens muito introvertidos, calados, tímidos, que não se interessam em se abrir para os familiares e nem mesmo para os melhores amigos.
Milhares de jovens desconhecem o que significa viver bem. Estão sempre no limite do suportável[7]: ou desejam matar ou matar-se. Ou são desordeiros ou assassinos. Quem não está desses dois lados pode ser taxado de resignado.
A taxa de suicídios entre adolescentes nos Estados Unidos tem crescido muito: é quatro vezes mais do que há 50 anos. Antes era só de 2,7 por cem mil habitantes, agora são 11,1. Entre os jovens adultos, o número duplicou no mesmo período.
O perigo maior para muitos desses jovens está na imitação de seus maiores ídolos. Quando estes se matam, conseguem influenciar os jovens de modo a fazerem o mesmo. O vilão nessa historia deve-se à televisão que em seus jornais noticiam mortes suicidas de grandes artistas sem o devido trato. Existem conselhos de especialistas que tratam da melhor maneira de repassar esse tipo de noticia para diminuir o choque causado, diminuir detalhes do ato, informações pertinentes só à policia e que não precisam ir a publico.


O fator sexualidade


Também a orientação sexual está bem relacionada ao suicídio. Isso porque como algo bem mais amplo que fator genital é por demais importante para se deixar de lado, ser negligenciado pelo individuo que deseja manter-se sadio. A estabilidade afetiva, emocional é requerida para se diminuir casos suicidas. Carências dos mais diversos tipos e níveis estão sempre como bons indicadores de quando a coisa não vai bem. A afetividade comprometida é sempre um campo aberto para fugas da realidade e desvios de conduta moral.

homossexualismo[8]


o suicida nesse caso é alguém que se perdeu na procura de sua real identidade. Um homossexual se mata mais que um hetero, por motivos relacionados à não-aceitação de sua condição pela sociedade, ou pelo próprio conflito interior que sua mente enfrenta. É notado um aumento significativo de homossexuais masculinos que praticam o último ato de suas vidas, causa de suas mortes. Fica claro que o drama vivido por uma pessoa que possa estar se da ação letal de si mesmo, praticado por si mesmo.


o estado civil


São os divorciados e solteiros que se matam mais que os casados e os divorciados.             O casamento e a vida em família aumentam as probabilidades de suicídio?
Um grande número de solteiros tem pelo menos 16 anos, enquanto que as pessoas casadas são mais velhas. Ora, antes dos 15 anos, a tendência para o suicídio é mínima pelo simples fato da idade. Se o numero de suicídios é aparentemente inferior nesse grupo, não é porque não estejam casados, mas porque grande parte deles ainda não saiu da infância.
Não seria, portanto, a família que evitaria o suicídio, o crime ou a doença; o privilegio dos casados viria simplesmente do fato de que só aqueles que oferecem sérias garantias de saúde físicas e mentais, e morais serão admitidos na vida em família.
Depois dos 40 quase não há casamentos. Mas o número de suicídios cresce muito com o passar dos tempos. Sem dúvida que de certa forma, os filhos fazem com que o viúvo se agarre mais à vida por causa dos filhos.
Uma vez que se admite que são os donos de seus destinos, pertence-lhes marcar o seu final. Quanto a eles, falta-lhes uma razão para suportar com paciência as misérias da existência. Com efeito, quando se sentem responsáveis para com um grupo que amam, por respeitarem interesses que se sobrepõem aos próprios, vivem com mais obstinação. O vínculo que os liga à causa comum liga-os também à vida, e aliás, o objetivo elevado que têm em vista impede-os de se sentirem tão violentamente as contrariedades particulares. Como bem se diz: dor partilhada é dor diminuída.
O fato é que existem mais solteiros desajustados psicologicamente que casados. O que ocorre é como uma “seleção natural”, os que dispõem de um maior equilíbrio psíquico gozam de mais chances de se casarem e constituírem família.
Capitulo II:
SUICÍDIO E INTENÇÃO[9]


Qual o nível de consciência de um drogado para que decida objetivamente sobre viver ou não viver? E antes, não estaria ele disposto a responsabilizar-se pelos riscos que corre quanto à superdosagem overdose?
Ninguém se mata quando tudo vai bem. Só irrefletidamente alguém se mata? Quando as faculdades do raciocínio estão afetados pela vontade firme, mas errônea, embaraçada, abalada. “Seria incomum pensar no suicídio como algo que nasce de intenções vis. Mesmo aqueles que acreditam que o suicida é errado provavelmente julgam que o suicida está um tanto desorientado e não percebe que aquilo que está fazendo é pecaminoso.” (Gavin J. Fairbairn, Os suicidas).
Nisso há um quê de fraqueza, mas não de pura intenção objetiva, querida de modo claro e longe de qualquer dúvida. Deveremos entender que existem seres humanos mais manipuláveis que outros. O nível de convencimento através de uma argumentação sólida, porém falaciosa, das teorias pessimistas pode denotar nas mentes mais “corrompíveis”                     a aceitação passiva (de um futuro sem alegrias) da morte de si ou então a revolta auto-destrutiva contra um mundo desumanizante.
Deixar de procurar um médico também demonstra um comportamento de intenção  auto-destrutiva. Não deixa de configurar um suicídio. Mesmo que isso seja justificado com razões religiosas. A prova da fé que alguns querem fazer valer pode ser omissão grave. Deixar de tomar remédios ou alimentos necessários à sobrevivência porque “Deus providenciará” é a maior prova da falta de fé: Renega-se coisas boas em vista do “Bem” e isso não é mais que a maior das contradições. Pois quem é Deus, senão o promotor da vida, Bem Supremo porque origem de todo bem?
Existem 4 sintomas básicos que nos avisam sobre um suicida em potencial:

1.      Pensamentos sobre a própria morte;
2.      desejo de morrer;
3.      pensamentos sobre cometer suicídio;
4.      e tentativa de suicídio.


Se todo aquele que se mata é suicida e Se é suicida o altruísta que morre livremente por um alguém ou uma causa


Pelo simples fato de se matar, o indivíduo pode ser considerado um suicida[10]. A dúvida vem pelo fato de que nem todos que se matam visam a morte como seu objetivo primeiro ou último, por isso não deveriam ser taxados assim. Nesses casos a morte vem como algo inevitável, assim como aquele que morre para salvar a outro. Mas apesar de não visar a morte, age com liberdade, podendo optar por morrer ou não morrer pelo outro. Se não pensou só em seu próprio bem de modo que sua morte foi motivada por um altruísmo, podemos chamar este tipo de morte de “morte suicida altruísta”, ou simplesmente que o individuo é um “suicida altruísta”. A opinião dos especialistas divergem muito. Squirol diz: “Não é homicida de si próprio aquele que, escutando apenas sentimentos nobres e generosos, se lança em um perigo evidente, expõe-se a uma inevitável e de bom grado sacrifica a vida para obedecer às leis, para preservar a fé que jurou, para salvar o país em que nasceu”. (SQUIROL apud Durkheim, O suicídio, 2008, p.40).
Essa opinião só é validamente compreendida só quando se vê no suicídio algo intrinsecamente mau. Mas assim como existem assassinatos necessários, como aqueles por legitima defesa, há suicídios heróicos e altruístas. Durkheim continua a citar outros que pensam de modo semelhante a Squirol:


Também Falret recusa considerar como suicidas Curcius, Codrus e Aristodemes. Bourdin inclui na mesma exceção todas as mortes voluntárias, inspiradas não só pela fé religiosa ou por crenças políticas, também por sentimentos de exaltada ternura” e explica: “ todos os casos de morte resultantes de um ato realizado pelo próprio individuo, com plena consciência dos efeitos que daí podem advir, apresentam, independente do seu  fim, semelhanças essenciais  para poderem ser divididos em gêneros distintos (...) porque entre essas mortes inspiradas por paixões particularmente generosas e as que são determinadas põe objetivos de menos elevados, não há solução de continuidade. Passa-se de umas para as outras por meio de uma gradação de impossível percepção. Assim, se as primeiras são suicídios, não há qualquer razão para não dar às segundas a mesma qualificação. (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008, p. 41)


Vimos até então que a questão está em saber se aquele que não busca a morte senão como algo inevitável, involuntário, pode ser classificado entre os que a buscam como fim. Ou pelo menos a buscam indiretamente. O altruísta busca salvar a vida do outro, mesmo que para isto tenha de perder a dele. Ele não ama a morte, a morte não o atrai com encantamentos. Ele ama a vida tão intensamente que não quer vê-la destruída por qualquer motivo.
Mas se é assim, dirão que ninguém busca a morte em si mesma, mas fugir da vida.  O suicida não vê como inútil todas as formas de vida, vê somente a sua como não digna de ser vivida. Já o suicida altruísta verdadeiro é pensa completamente oposto. Seu ato é um ato de fé. Seu entusiasmo o impele. É arrebatado pela paixão e seu amor pela vida o motiva. Assim morrer por uma namorada ou por um mendigo não faz diferença para ele. São vidas humanas valiosas do mesmo jeito, sendo um conhecido ou um estranho.
Sua morte é por um ato de mais violência. Sua ação pode ser mais impulsiva, porém reflete mais os sentimentos anteriores, suas convicções, seus ideais. O suicida egoísta se prepara mais para a morte, pensar nela é algo constante. A ação de um altruísta é mais de momento, não precisa ser muito pensada, ele não planeja nada, mas nem por isso é uma ação inconsciente ao ser executada. Se é verdade que se morre como se vive, é natural para uma pessoa que na vida não se preocupava somente consigo mesma, que era um ser humano que não se bastava a si mesmo, é mais provável que haja mais consciência nela ao praticar o suicídio mesmo numa atitude extrema exigida pela situação, pois se o sujeito criou em si um “hábito”, uma virtude, se ele se acostumou em vida a privilegiar o próximo, mais facilmente ele se desligará conscientemente da vida para salvar a vida de outro. Pois uma virtude não se adquire de uma hora para outra. Aí o nível de consciência é analisado em vista do histórico da pessoa. É o seu passado que diz como agiu no momento da morte, já que fica difícil de saber seu estado pouco antes de morrer.


A AMEAÇA SUICIDA


Não deve ser negligenciada uma ameaça suicida. Está mais que provado que a maioria das pessoas que costumam prometer se matar, realmente o fazem. Não é porque elas expressam o desejam que não desejem realmente, como se só quisessem “chamar a atenção”. Grande número de pessoas que chegaram a cometer suicídio deu antes algum tipo de aviso de que tencionavam fazê-lo.


tentativa de sucídio


Tentativa de suicídio pode ser qualquer ato não fatal de auto-mutilação ou de auto-envenenamento. A intenção da morte não deve ser incluída na definição, pois não é muitas vezes manifestada. É o ato suicida interrompido, que não pôde ser efetuado: ou por intervenção de amigos e familiares, entre outras pessoas, como aquela que salva o que tentava pular de um prédio alto ou por insuficiência dos meios aplicados: veneno em pequena quantidade, ou remédios em quantidade tal que não chegasse por si mesmos a causar a morte.
Não é somente um suicídio malogrado (frustrado), mas pode ter outras fontes: chamar a atenção para si ou para uma causa. A tentativa de suicídio pode ser simplesmente um grito de socorro desesperado por um ser humano aflito que se sente impotente diante da dificuldade que enfrenta.
Um dado impressiona: das pessoas que tentam suicidar-se 20 a 30% fazem nova tentativa dentro de meses e 10% acabam por matar-se.  Diz o monge beneditino Dom Estevão Bettencourt: “As tentativas são gestos pouco premeditados e muito passionais, enquanto os suicídios vêm a ser muitas vezes o resultado de reflexão e certa preparação. Isto leva a crer que no suicídio prevalece a tendência à autodestruição e, por conseguinte, a vontade de morrer, ao passo que nas tentativas de suicídio prepondera ainda o instinto de autoconservação; elas são como que  um apelo dirigido pela vitima aos familiares, amigos e à sociedade; o paciente pede ajuda, pede atenção afetiva e pode até estar recorrendo a uma chantagem”
O suicida, em muitos casos, deixa uma margem para a vida, mesmo que a chance seja ínfima: no fim das contas, ele tem esperança de ser salvo; “seu desejo de morrer é um reclame para viver”.


Aparência de suicídio
Os animais cometem suicídio?          


Citemos o clássico caso do “cavalo suicida”: o animal que é citado por Aristóteles se joga de um precipício rochoso depois de, obrigado por seus criadores, cruzar com sua própria mãe. Temos contos e relatos de testemunhos aqui e ali acerca de um cachorro que perde seu dono e se lança ao cemitério e ali permanece durante dias e dias sobre o túmulo, deixando-se morrer; do escorpião que quando acuado crava em si mesmo seu próprio ferrão, da morte de certos peixes migratórios rio acima, que se debatem entre as pedras por não conseguirem subir e morrem; ou de certos insetos que devoram partes de si; de zangões que ao fecundar suas fêmeas-rainhas entregam suas vidas.
 A morte de alguns animais pode ser entendida como suicídio quando na verdade é apenas “aparência de suicídio”. Apesar das semelhanças, o fator intencionalidade não existe. Eles ignoram que vão morrer e não poderiam escolher a forma de suas mortes, nem o quando nem onde. Não há neles, intenção, premeditação ou plano aliado ao executamento do querer. Tudo não passa de uma reação biológica a um incômodo doloroso, na qual os sentidos mais uma vez fala mais alto. No caso dos animais, como não há racionalidade, não pode haver suicídio. 
O suicídio é um mal humano, e, portanto, não está presente nos animais, é um mal dos racionais. É usando das principais potências ou faculdades mais nobres que o homem põe termo ao seu viver: liberdade, vontade e raciocínio. Quem vai se matar, usa do seu livre-arbítrio para optar pela morte, pela mente planeja escapar do sofrimento, pela vontade executa o desejo de libertação.


Mais de 100 baleias se suicidaram lançando-se uma após a outra sobre a praia, na quinta feira passada, na ilha de Cuyo, que está no centro do arquipélago filipino. A Agência Filipina de Imprensa efetuou o anúncio, e acrescenta que alguns cetáceos tinham até 6 metros de comprimento. Os habitantes da ilha manifestam que 40 anos atrás houve um fenômeno similar: grande numero de baleias veio se jogar na praia, para morrer exatamente no mesmo lugar. (despacho de France-Presse de 1966, 10 de dezembro apud Antonio Di Benedetto, 2005, p.93)


Os homens sofrem aflição, angústia desespero. Mesmo que não compreendam bem de que males estejam sendo afetados, nem tampouco o nível, grau e ou intensidade, sabem que sofrem. E por isso mesmo escolhem não sofrer mais. Sofrem também por saber que sofrem. Optam por não sofrer. É algo que exige uma certa liberdade, não somente uma fuga instantânea da dor, é geralmente algo pensado e até planejado.
Aos animais falta tudo que faz do “ato humano” diferenciar-se do “ato do homem”: consciência, a liberdade e deliberação. Nem mesmo a força que exercem os sentidos é igual: o homem consegue suportar a dor, neutralizá-la, sublimá-la, trabalhar seu psicológico para diminuir seus efeitos já o animal nunca terá essa capacidade.


















Capitulo III:
CLASSIFICAÇÃO


É preciso notar algo importante: não é impossível que uma pessoa aparentemente normal não tenha alguma vez em sua vida pensamentos suicidas. Não é só pelo fato de pensar ou de querer que alguém se possa chamar um suicida em potencial, mas de pensar em executar o ato e tentar executá-lo. A procura pelo método e o movimento consciente.


1. Dos lunáticos e maníacos[11]seguindo a vontade de Deus, ou uma voz do além que os ordena. O delírio é o que origina o desejo. É um dos poucos tipos de suicídios que recebem do doente uma justificativa, por mais irracional e absurda que possa parecer.

2. Dos impulsivos ou inconscientes[12]um impulso instantâneo, e imediatamente irresistível. Não tem um significado forte na mente do doente, não sabe explicar as razões por que de atentar contra a própria vida. Não consegue imaginar com clareza nem justificar racionalmente o seu mal. Ele não entende nem consegue explicar os motivos, o impulso que o determinou a agir, nem que idéia tomava conta de sua mente naquele momento da tentativa suicida. Age pela influência de visões rápidas de algum instrumento mortal.                    É dos casos o mais raro. Sua motivação é puramente imaginária. Poderíamos classificar assim, pelo caráter impulsivo, a morte de alguém que entrou em rápida falência. O desespero e às vezes a surpresa de quando o indivíduo fica sabendo do ocorrido o faz agir contra a sua própria vida.

3. Dos obcecadospor teimosia. Chamado também de suicídio ansioso, devido o nível de incômodo e insatisfação que a própria idéia de morte oferece, apesar de não desaparecer o desejo. Trata-se quase de uma necessidade instintiva, do qual o doente não tem total controle. Falta-lhe o equilíbrio emocional para isso.

Neste caso, o suicídio não é causado por nenhum motivo especial, real ou imaginário, mas tão somente pela idéia fixa de morte, que, sem razão representável, apodera-se soberanamente do espírito do doente. Este se torna obcecado pelo desejo de se matar, embora tenha perfeita consciência da não-existência de nenhum motivo racional para fazê-lo. (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008, p 38).


4. Dos sem esperança[13] e melancólicos – “A vida que sufoca a vida”, é o tipo mais complexo, mesmo para os especialistas. Existe muita semelhança entre o estado de uma pessoa tida “normal” para o de uma lunática. A diferença reside na firmeza de atitude que reside na intencionalidade consciente e deliberada de cada ato, nesse caso, do ato suicida.
É claro que uma pessoa normal pode ter acessos de loucura e agir sobre a influência do mesmo, nesse sentido não haveria como colocar um muro de separação entre o estado do normal que agiu inconscientemente e do alienado. Sendo assim, nunca será absolutamente certo dizer do suicida sob quais influências atuou; podemos só ter indícios, sinais, prova circunstanciais, sempre no âmbito da probabilidade, nunca totalmente isentas de dúvidas acerca do vigente estado de espírito, o chamado estado psíquico da alma no exato instante do ato.  
Uma vida extremamente infeliz e com ausência de realizações. Essa é a impressão que o suicida tem da vida que leva. Vem aí idéia de progresso não alcançado, de sucesso não percorrido, de um caminho não trilhado. A fama e a glória é desejada em vão. Maior dos males para estes é o de não serem notados na sociedade, de não serem grandes homens.                  Querem profundamente “se dar bem na vida”. Não são do tipo que aceitam facilmente as derrotas, insucessos, e a rejeição. Fogem de uma vida “com poucas chances de dar certo”. Fogem do fado, não crêem na sorte vindoura. São pessimistas. Desistem sem ter lutado ou sem que a luta tenha acabado. Já se vêem como perdedores. São neutralizados pela força do acaso. Não refletem em si culpa que lhes pode ser devida. Sempre acham que o problema não está com eles. Que a culpa “é da vida mesmo”.
A questão que não entendem é que por pior que seja as suas vidas, não pode haver nada melhor se o que eles escolhem é a ausência da vida, o nada. Que pior do que a vida que têm é não ter vida alguma. Nunca se deve conformar com a situação em que se vive se há como melhorá-la; mas se não tem jeito é tentar de outras formas, tentar outras vezes, recuperando a base, atenuando as arestas.
Nem sempre o sucesso que pretendemos é o sucesso de que precisamos. Será que estamos sempre preparados para estar no topo? E outro modo, será que os que estão em cima, estão preparados para estar por baixo? Será que suas vidas não podem conviver com o necessário, suas vidas estarão tão presas assim à materialidade, que perdê-la pode significar a tristeza de uma vida simples? Que significado tem a vida simples no campo, então? É uma prisão para grandes banqueiros falidos?
                                     

5.     dos heróis e altruístas


Os suicídios altruístas podem ser de dois tipos: obrigatório (pela exigência do dever que assumiu na sociedade, sua vocação ou profissão) ou facultativo. O capitão que permanece até o fim em seu navio enquanto este afunda. Demonstração de coragem e compadecimento, solidariedade com os outros que não conseguem se salvar do naufrágio. O militar, ou mesmo o civil, que para não revelar o lugar de refúgio dos companheiros, ou os segredos estratégicos do grupo, se mata. Chamar a atenção para uma causa: exemplo de uma pessoa que faz greve de fome para chamar a atenção das autoridades para o sofrimento do povo. Para o altruísta, o seu eu não pertence a si mesmo. Não vê sentido em existir só para si. Sente necessidade dos outros.
 Por que tem obrigação com o bem-estar social..


Viver numa sociedade oprimida até o limite de suas forças, sem provas as quais a  esperança pudesse fazer vislumbrar, é muitas vezes um não viver, um viver sem honra, um viver sem identidade. A destruição da cultura e seus costumes é revoltante e pede uma atitude.               A guerra é entendida nesses casos como justa, e muitas vezes, como única solução. Tomar a posição do povo, decidir por defendê-lo pode significar sacrifícios de tal estirpe que exija como remédio a entrega da própria vida em favor de muitos.
Assim o suicídio é uma poderosa contra o domínio estrangeiro, ditaduras opressoras, sistemas insuportáveis de estrangulamento da sociedade. Uma arma poderosa e barata de “efeito moral” e material, sobretudo capaz de desarmar ânimos exaltados de beligerância injusta. Seu poder reside no efeito surpresa, inesperado do ato, contra um inimigo mais acostumado a uma guerra nos moldes mais convencionais. O significado maior dessas mortes nada convencionais é que é preferível morrer do que entregar a alma para eles “e viver sem razão”.  
Normalmente não é necessário que um político mostre com sua morte o amor pelo povo. Nas atuais democracias, o sacrifício dele está limitado muito mais pela diplomacia, o diálogo e a ações pacificas. Ele não está diretamente na linha de frente de um conflito: ele envia outros para lutar em seu lugar, mas quando a situação exige e ele se dispõe a entregar tudo pelo bem do povo, deseja entregar sua vida pelo bem dos filhos da nação que virão para garantir um futuro menos horrendo para o futuro.
O fato de ir para a guerra pode já ser um suicídio? É certo que a primeira qualidade requerida para um soldado é o desprendimento a sua própria vida. Quando necessário,                por uma ordem, ele deve arriscar-se para salvar a outros. Ele não deve dar grande importância a sua pessoa. Fora dos campos de batalha, em tempos de paz, ele já é treinado para o sacrifício, suportar a dor, vencer suas fraquezas, lutar contra as intempéries da natureza. No exército, acima de tudo é o grupo que tem preferência, não o individualismo. Esse é um crime punido com a prisão, a tortura e os mal-tratos. Como um serviço obrigatório, a espontaneidade e o estado facultativo do ato de alistar-se não deve ser levado em conta.
É preciso anotar as mortes suicidas dos soldados em tempos de guerra e das que ocorrem em tempos de paz, pela inadaptação de alguns soldados ao regime militar. Nem todos suportam bem todos os mal-tratos intensos e insuportáveis dos exercícios, da convivência violenta como os companheiros e a obediência cega aos superiores.
A causa do suicídio tem sempre origem no “outro”. No sentido de afinidade ou aversão. Por aí vão se definir conceitos famosos: suicidas egoístas ou altruístas. O suicídio é uma questão que envolve objetivamente seres humanos, no sentido de que são sempre por causa deles que se morre ou se mata. Nunca é algo puramente impessoal, etéreo, só de sentimentos e impressões,     a dor de existir é sempre a dor de não suportar um alguém, suas recusas, desprezos ou maus-tratos.


5.1. o suicídio obsequioso: Um tipo especial de suicídio altruísta:


Era comum em algumas culturas do passado uma certa obrigação de se matarem em certas circunstâncias. Famoso é o caso dos japoneses com o seppuku, ou haraquiri (araquiri). Também temos o suttee hindu, que é a auto-imolação tradicional das esposas hindus quando viam a falecer seus maridos.


O haraquiri                  


É um tipo especial de morte suicida por ser ritualizado e permitido para não dizer comumente celebrado pela comunidade nipônica do passado não muito distante. Tem mais de mil anos. Era algo até, surpreendentemente, institucionalizado, legal, pois tinha o seu fundo cultural forte no Extremo Oriente. Não era criminoso o que cometia tal sacrifício de si. Era mais uma questão de honra, indicava mérito de quem o praticava. Nunca houve um tipo de suicídio comunitário (realizado por muitos de um mesmo grupo) tão celebrado no mundo, segundo os documentos existentes.
É o ato de abrir o ventre fazendo um ou dois cortes nas vísceras com um material pontiagudo, como uma faca ou espada, até que o sangue se esvaia, causando a morte. Em alguns caso os órgãos caem no chão do rasgão feito com tamanha precisão que a morte é inevitável. Não há hospital que resolva:


Primeiro ele cravava uma adaga no lado esquerdo do abdômen, movendo-o em seguida para o lado direito, e após isso a retirava do abdômen. Cravava-a novamente no epigástrio, e fazia uma incisão em sentido vertical. Finalmente arrancava a própria garganta. Este ato era uma demonstração de coragem, porque não era visada a morte iminente.[14]              (por Tatai, 1970, apud em Iga e Tatai, 1975, p.258)


O haraquiri é um rito de expiação, geralmente usado para limpar o nome da família na sociedade. Mas nem sempre era uma prática grupal, cerimonial. Podia ser realizado por qualquer motivo, até pasional. Assim relata Durkheim:


É do conhecimento geral a facilidade com que os japoneses rasgam o ventre  pelo motivo mais insignificante. Conta-se mesmo que havia uma especie de duelo em que os adversários nao procuravam atingir-se mutuamente, mas antes ver qual deles tinha mais destreza para rasgar o próprio ventre. Assinalaram fatos semelhantes na China, na Conchinchina, no Tibete e no reino de Sião. ( DURKHEIM, E. O suicidio, 2008, p. 325)


7. Suicídio judicial ou fatalista

Por quem acha que tem obrigação legal de morrer, devido às leis de sua cidade, estado ou pais. Dizemos fatalista porque vem em conseqüência do ajustamento exagerado da pessoa às normas e preceitos sociais de seu grupo. Os valores do grupo são mais importantes para ele que a sua individualidade.
Pode ser previsto por lei, em punição a um crime social que a justiça entendeu como tal. É o caso de Sócrates. Seu intuito não era o de morrer, mas aceitou com o tempo sua condenação. Sabia que não ia viver muito tempo já que era velho, levou isso em conta na sua defesa. Propôs aos seus críticos e juízes que o deixassem desfalecer naturalmente, mas seu pedido não aceito. Nem todos consideram suicídio a morte de Sócrates. Que ele não queria morrer, por isso não era suicídio. Para estes sua morte foi mais um assassinato, tanto quanto foi assassinado a morte de Júlio César. Em vista dos que alegam suicídio, temos de considerar que somente pode ser entendido suicídio pelo fato de que ele não fez todo o possível para livrar-se da morte. Seus amigos propuseram que fugissem, mas não consentiu.


8. motivado por terceiros


 Pode ser pra livrar da dor o enfermo ou interesseiro, em vista de heranças, hipotecas, contratos, etc.

EUTANÁSIA[15]

 “O matamos porque ele sofre, ou porque sofremos demais com o fato da dor dele nos incomodar? O matamos para o beneficio dele ou de nós mesmos?” Sobre isso escreve Paulo Geraldo: “Sempre houve doentes e anciãos, mas antigamente eram considerados um tesouro. Agora não passam de um estorvo... E é só por isso que hoje se fala em eutanásia, quando no passado havia apenas o suicídio: o suicídio é uma decisão pessoal; a eutanásia acabará por ser uma imposição da sociedade”.


O principal argumento daqueles que defendem a eutanásia incide sobre o direito que o indivíduo tem, em determinadas circunstâncias - normalmente associadas a um forte sofrimento físico ou psíquico decorrentes de uma doença incurável - de poder decidir pôr termo à sua vida. Julgo que a morte não é em si um direito; antes uma inevitabilidade. Aquilo que todo o ser humano tem direito é de viver e morrer com dignidade (...) Os defensores da eutanásia ou, em sentido lato, do suicídio assistido, apresentam-na como um ato de misericórdia e de compaixão perante o sofrimento de um doente vítima de uma doença grave e incurável. Chegam a ser os próprios familiares que a incitam e reclamam. Transmite-se assim a idéia de que, em determinadas circunstâncias dramáticas, ajudar alguém a pôr fim à sua vida é um ato de caridade e de amor, quando é aí que reside a grande hipocrisia da eutanásia. A eutanásia não é uma prova de amor, mas antes o testemunho egocêntrico da sua rejeição. (Pedro Afonso, psiquiatra, In Jornal Publico - 28. 06. 2007)


9. Suicídio múltiplo e Suicídio em massa


É o caso do suicídio político. Um grupo não aceito, revoltoso, provoca mortes a si mesmo para fazer notar a algum órgão maior dos mandos e desmandos dos poderosos. Quando todo um povo é perseguido, feito escravo. É dominado e exterminado. Nesse caso o único motivo de honra é não morrer pelas mãos dos assassinos.

11. Suicídio egoísta


Praticado por quem está mal integrado na comunidade social em que vive. Ele está afastado da sociedade. O indivíduo assim é mais vulnerável ao suicídio porque num momento de extremo estresse ele não tem em que se apegar, não tem sustento em outra coisa. Ele só tem a si mesmo em seu egoísmo, ele se fecha, encerra-se no seu “mundinho”; não pode ser ajudado, pois não quer convivência, prefere a solidão. Ele não tem crenças comuns entre os outros indivíduos, não há laços fortes que o segurem na tormenta. Em outro sentido, o suicida egoísta é aquele homem ou mulher que pensa ser demasiado fraco para cumprir as exigências que a convivência social exigem, as conseqüências, as tarefas.


“O que se faz em um caso para escapar à desonra, faz-se em outro para obter mais estima. Quando se está habituado desde criança a não fazer caso da vida e a desprezar todos aqueles que lhe têm muito apego, é natural que nos libertemos dela ao mínimo pretexto” (DURKHEIM, E. o Suicídio, 2008, p. 235)


Ora, não nascemos para nós mesmos. Aquele que busca a sua própria felicidade, na a encontra. Por outro lado quem busca a felicidade do outro em primeiro lugar, encontra inevitavelmente a sua. Esse é o sentido da vocação seja religiosa quanto profissional. Se se exerce de modo correto e com um devotamento tal que cada ser humano manifeste amor em cada coisa que faz, a felicidade já desfrutada por ele.
Quando falamos de felicidade, temos em vista também não só o fato dela existir e da possibilidade de ser buscada, e por outro lado, encontrada. É preciso notar a qualidade de nossas lentes. Será que estamos atentos o bastante para não perde-lãs de vista nem negligenciar quando já a conquistamos. Geralmente se entende a felicidade como singular, como uma coisa só. mas ela é um ser múltiplo, complexo demais para ser um na mente e no coração. Ela abarca todas as realidades. E não se é feliz neste mundo do mesmo modo que seriamos no céu. Para os que crêem, o céu é total presença do bem, sem mistura de mal. Onde tudo é pleno e infinito. Tampouco ela signifique ausência de sofrimentos. Mas a felicidade a que nos referimos diz tanto mais de algo que existe já em nós mesmos que exteriormente. Todos nós temos suas sementes. Ela não deve ser buscada fora, é algo que deve ser trabalhado dentro de nós.
As contradições existirão, os medos não cessarão, a dor ainda será presença no mundo, para um homem liberto. E homem liberto significa sobretudo o que vive pelo amor a si mesmo e a seus semelhantes, em suportar o próximo, como cada um se suporta a si mesmo. Não gostamos sempre do que vemos em nós, mas convivemos com isso. Não somos quem gostaríamos e nossos semelhantes também não. Mas é preferível arriscar perder itens, que a todo organismo.
Para o homem sábio, maior prazer não há que o domínio de si mesmo. E esse domínio certamente passa pelo conhecimento de si, afinal de contas, conhecer é dominar. E dominar é para os seres humanos a tradução que a idéia de felicidade traduz. Mas na vida não somos só caçadores, somos presas de outros. Mas somente conquistamos amigos, somos conquistados por eles e deles não conseguimos nos afastar.


12. Suicidio narcisista:

“Um ato para entrar na história” (Getúlio Vargas). Porque assim busque ser conhecido pelas gerações que virão. Assim, o indivíduo deseja se eternizar na prática de um único ato.

13. Por vingança

Aí a revolta do suicido não precisa ser contra toda a sociedade, mas contra um só indivíduo. Pode ser por motivos passionais, para incriminar o adversário ou porque amou demais (loucamente) a pessoa que o desprezou. Por raiva, para fazer bater o remorso no outro, buscando do outro o arrependimento de um abandono pessoal.

A “hetero-agressão”


Quer dizer que o sujeito não está só se matando, está matando também seus inimigos e demais desafetos. Não raro, a pessoa que se mata deseja se vingar dos que a odeiam, culpando-os e deixando-os com remorso. O sentido da agressão é duplo, tanto indica um “masoquismo” em proporções devastadoras quanto um “sadismo latente”. O suicídio em geral, configura-se, portanto, um sado-masoquismo.


14. Suicídio existencial


Satisfeito com a vida. Mas a vida em si mesma não basta. Vive a contingencialidade do existir aqui.


15. suicídio romântico: o mal dos séculos[16]
        
o termo “Mal do Século” não se refere ao suicídio, mas à tuberculose que levava à óbito centenas e centenas no século XIX. É a época do romantismo.
A doença era contraída pelo descaso com que tratavam suas vidas. Pouco se preocupavam com a saúde. Pelo alcoolismo, muitos entravam num estado de depressão, por qualquer desilusão amorosa. Ou desajuste no grupo por exagerado intimismo e solidão.
Nesta época quando morrer assim era “chique”, filósofos, literatos, atores se entregaram ao niilismo e pessimismo da vida e acabavam morrendo prematuramente quando ainda bem jovens. Muitos não chegavam nem aos trinta anos: "Todo aquele suicida presume que a morte é o fim do amargor, sem saber que o desespero é a porta para outra dor." - Casimiro Cunha
A melancolia era um mal comum. A tristeza era amiga, a maldição, a falta de sentido para viver. As guerras mundiais faziam entender que não restava mais esperança para a humanidade. Que todas as possibilidades de melhorar se esgotaram, nada funcionou, nem racionalismo, nem o positivismo, nem as novas filosofias que surgiam para desbaratar a autoridade da escolástica e da Igreja.
"[Depois do ato suicida, quando estiveres]  verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas.../ Só és lembrado em duas datas, aniversariamente: quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste,/ Mais nada, mais nada, absolutamente nada./ Duas vezes por ano pensam em ti./ Duas vezes por ano suspiram por ti os que te amaram,/ E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala de ti./ Encara-te a frio, e encara a frio o que somos.../ Se queres matar-se, mata-te.../ [Se pensas que és importante?] És importante para ti, porque é a ti que te sentes/...E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?
Fernando Pessoa, através de seu heterônomo Álvaro Campos, convida: devemos transformar os momentos de desespero (trágico), não em ato suicida, mas sim em arte poética. Tal como ele próprio realizou através de sua poesia, propõe , assim, que transformarmos momentos trágicos em drama. É em "Bicarbonato de soda" que ele se pergunta:                             Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?  Súbita,/ uma angústia.../ Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma! /Que amigos que tenho tido! /Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!/Que esterco metafísico os meus prorpios todos!/Uma angústia,/Uma desconsolação da epiderme da alma,/ Um deixar cair os braços ao pôr-do-sol do esforço.../Renego. Renego tudo./ Renego mais que tudo. /Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles. /Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na circulação do sangue?/ Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?/ Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me? /Não: vou existir. /Arre! Vou existir. /E-xis-tir... E-xis-tir...
16. Suicídio místico[17]


Grupos religiosos fanáticos extremamente rígidos são muito populares por ações suicidas em grupo. São vários os relatos de pastores, lideres de novas seitas, que iludidos por promessas apocalípticas de salvação imediata se mataram e induziram outros a se matarem. Nessas seitas é forte a sugestão, da superstição e do exemplo.


17. Suicídio midiático


É o tipo de morte muito vista nas televisões, na internet, nos jornais e revistas[18]. Atrai a mente sedenta de afeto. O fatalismo, a tragicidade da vida a atrai, a encanta, a paralisa.              O sujeito age como se estivesse numa peça trágica, a realidade não parece ser tão atraente quanto o desejo de “aparecer”. É para ele a única chance de ser famoso, de ser observado. Ele se compreende como um personagem obediente de uma “força superior” estranha e desconhecida, mas não menos exigente. É uma lei cega, o Fado. Faz-se escravo da Rainha Fortuna.                  Não reconhece por vezes a parada de destino. Lança-se confiante no êxtase provocado pelo risco e pelo “perigo”. É o tipo de prazer que se goza antecipadamente. Mesmo que ele não possa usufruir da sensação posterior ao ato, o sujeito sente-se bem pelo simples prazer da execução do ato, do planejamento.
O que ocorre muitas vezes é que o suicídio é a única maneira convincente do indivíduo manifestar-se ao mundo[19]. Deixa uma mensagem para ser interpretada, seu ato é um reclame da voz e vez que não teve em vida.
O psicólogo Raymundo de Lima, professor do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá, em seu artigo intitulado “O suicídio espetáculo na sociedade do espetáculo”[20] diz: “O suicídio de indivíduos sozinhos ou em grupo deixou de ser um ato puramente privativo para sê-lo público, como se fosse um show, em nome de uma causa muitas vezes incompreensível, principalmente se esta é direcionada para ser decodificada pela cultura ocidental (...) o ator do gesto suicida atua como se fosse personagem de uma tragédia como que uma lei acima dele o empurrasse para o ato final (...)
A cultura norte-americana, historicamente violenta, soube projetar nos filmes homicídios e suicídios estetizados, porém, nas últimas décadas está sendo vítima de sua própria violência fabricada pelos meios virtuais, e também pelo estilo de vida que espalha pelo mundo (...)
Como o sujeito de nossa época não mais acredita na idéia de revolução, deixa-se levar pelos ventos da paixão mística ou niilista, usando a morte do próprio corpo para expressar sua revolta contra um mundo sem coração. Morre o corpo para viver o transcendente”.

Merece atenção a expansão de sites na internet que sugerem o suicídio para outras pessoas. Eles têm auxiliado a matar muitos dos jovens nos momentos últimos de suas vidas, encorajando-os e ensinado métodos considerados “eficazes”. Semeiam assim o desprezo à vida e aos valores. Em entrevista à revista Época Mário Corso sobre o caso de Vinicius, que se matou aos 16, influenciado por sites suicidas diz:


O que a internet faz é dar suporte a uma idéia. Namorar a idéia do suicídio é uma coisa que muita gente faz, é fantasia comum na adolescência e visitante freqüente dos desesperados. Chegar à beira de se matar também é algo que ocorre muito mais do que se admite publicamente, mesmo com pessoas que estão bem acompanhadas na vida, que possuem vínculos sólidos. Mas poucos chegam a se matar. Na hora, falta uma energia extra (...) O que é dito nesses sites é que vale a pena morrer. E o que nos mantêm vivos às vezes é mais tênue do que a gente imagina. O que nos mantêm vivos é uma rede de pessoas que dependem de nós e que a gente depende delas. Uma rede amorosa, afetiva, de compromisso. Essa rede de suicídio é uma outra rede, que diz que não precisa estar aqui. Ela faz um contraponto a este coletivo que diz “viva”. É um coletivo que diz “morra”. O Vinícius precisou de ajuda para se suicidar. E essa voz foi muito sedutora.  (CORSO, Mário. Em entrevista para a Revista Época. ELIANE BRUM E SOLANGE AZEVEDO, COLABOROU RENATA LEAL - Suicídio.com. - Sites na internet incentivam adolescentes como o gaúcho Yoñlu a se matar e ajudam a escolher o método. 11/02/2008 - 15:02 | Edição nº 508.)


18. suicídio das nações


As sociedades suicidas são aquelas que se deixam de alguma forma ser dominadas e aniquiladas.


(...) as sociedades também nascem, crescem, e se desenvolvem, evoluem e morrem. Centenas de civilizações mais ou menos desenvolvidas se extinguiram(como também ocorre com milhares e milhões de espécies vivas). Essas sociedades, quando se estuda história, chagaram geralmente ao ápice, depois entraram em decadência; comumente o historiador identifica os fatores de evolução dentro da própria sociedade, os quais terminam por levar ao auto-extermínio ou à facilitação de conquista por outros povos. (CASSORLA, Roosevelt M. S. O que é suicídio, 2005, p. 17)


É conhecido como a desorganização interna fez cair o império romano. Não foi somente as invasões bárbaras, não foram só os elementos-surpresa que agiram, mas os romanos descuidaram de sintomas importantes como foram as revoluções dos escravos, a corrupção na política, os desmandos dos imperadores enlouquecidos, déspotas e desmoralizantes e a infiltração do Cristianismo no seio da vida da nobreza e da política. A infecção virou câncer, e não houve remédio ou antídoto que curasse a falta de prevenção.















capitulo IV


A sociologia

ÉMILE DURKHEIM 


É assim que Émile Durkheim dá início a sua famosa obra “O suicídio”: “Existem duas espécies de causas extra-sociais que se pode atribuir a priori uma influência sobre as taxas dos suicídios: são as disposições orgânico-psíquicas e a natureza do meio físico. Poderia suceder que, na constituição do indivíduo ou ao menos na constituição de uma importante classe de indivíduos, houvesse uma tendência, de intensidade variável segundo os países, que conduzisse diretamente o homem ao suicídio; por outro lado, o clima, a temperatura, etc., poderiam, pela forma como agem sobre o organismo, ter os mesmos efeitos diretamente” [21] O caminho que ele percorre para provar que o fator social é determinante e fundamental na compreensão do fenômeno suicida passa primeiramente pelo estudo de outros fenômenos geradores que não têm origem no convívio social para depois se debruçar nos caminhos da sociologia, que então, no século XVIII era apesar de uma ciência recente, parecia ser bastante convincente em suas teorias e hipóteses.
Assim como a psicologia, que fazia surgir das desordens psíquicas a vontade de morrer, tentava ela dar sua versão para o suicídio buscando as causas e justificativas deste ato letal. Tentava-se assim agregar à idéia do suicídio um problema que estava no campo do convívio humano, ou seja, a não adaptação as exigências da vida em sociedade.  O homem via-se diante do impasse de enfrentar sozinho o destino cruel que o forçou a ser “um com os demais”. Só assim ele seria homem em plenitude, a saber, que fosse comunhão, formasse grupos na essencial e indomável necessidade de não estar sozinho no mundo.
 Fica claro que não se pode buscar somente uma causa do suicídio. Existem muitos denominadores que incluem valores de vida, estados emocionais, desilusões de vários tipos, frustrações, medo, angústia, pressões psicológicas, etc., mas não se pode descartar decerto a importância que o convívio social tem no desenrolar do problema. Quando um indivíduo mesmo a duras penas não consegue se adequar às exigências da vida social, é difícil suportar a dor de ser um na multidão a pensar de uma forma, querer o que outros não querem, buscar o que ninguém mais busca – pelo menos é essa a impressão que fica para quem é afetado pelo desejo de morrer: uma completa solidão, um isolamento mortal sufocante, cada um  se sente só, só  mais um, um ninguém, mesmo ao lado de muitos, mesmo rodeado de uma multidão. Mas mesmo estes não estão sós. Existirão sempre pessoas distantes ou não que objetivam choram dores semelhantes e perseguem a mesma obsessão: esse é o exemplo de tantos que encontram coragem para o suicídio nos conselhos daqueles que através da internet espalham mensagens suicidas e até se propõem a dar os melhores porque indolores e rápidos meios de se matarem. Encorajam a morte de modo covarde. Eles mesmos não têm êxito em seu “suposto” intento, pois não seguem seus próprios conselhos, são hipócritas, pois estão a expandir o ódio à vida e principalmente o desprezo pela vida daqueles que fragilmente num momento de profundo desespero os procuram para uma injeção de coragem em favor do ato mortal. A polícia os procuram, não sem grandes dificuldades; quer encontrar um meio de penalizá-los pelo mal que causam à sociedade, através da rede mundial de computadores.
Se o suicida é um doente psíquico merece ser tratado, tem direito à cura. A sociedade não pode mais abandoná-lo. Ela também é responsável pela “opção suicida” que ele fez. Estes já não crêem mais na sociedade, o social não inspira mais os melhores ideais, a injustiça corrói os corações dos mais fracos, dos pobres, dos marginalizados. O descrédito em uma sociedade que privilegia quem não devia suscita revolta, indiferentismos e desdenhos, vandalismos e desgastes.  Cada um tem uma forma de reagir à estímulos maçantes, repetitivos, estressantes e desumanos. Não é justificativa, mas é um dado a ser analisado, repensado, e revisto por toda a sociedade, uma preocupação geral.



O agrupamento humano moderno em comparação ao antigo[22]


O conglomerado humano atual das grandes metrópoles é grande demais para que todos se conheçam e se ajudem. Resulta daí uma incapacidade do grupo em conhecer satisfatoriamente o indivíduo e lidar com suas dificuldades de adaptação ao grupo. É aí que o individuo se sente só mais um,
...Num grupo pequeno não se perde ninguém de vista. Se falamos de cidades pequenas de interiores pelo país, na zona rural, é empiricamente comprovado a assistência que as instituições podem oferecer aos indivíduos. No meio urbano essa visibilidade não é suficiente para agregar numa mesma consciência comunitária de mutua cooperação.
Vemos com clareza o que aconteceu com o Cristianismo:


“Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações (...) todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um. Dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no Templo e partiam o pão pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a deus e gozavam da simpatia de todo o povo. E o Senhor acrescentava cada dia ao seu numero os que seriam salvos. (Atos dos Apóstolos 2, 42.44-47)


Na sua origem humilde, as pequenas comunidades que se formavam eram de tamanho tal que cada um se sentia único e valorizado dentro do todo. Não havia posses individuais que não estivessem à disposição das despesas da comunidade, de modo que nada era de ninguém e tudo era de todos. As pessoas se falavam e se cumprimentavam entre si, se reconheciam e o sentido da comunhão entre os “irmãos” era suficiente para o convencimento de que todos faziam parte de uma mesma família, o problema de um era o problema de todos, e o grupo se unia para resolvê-los.


“A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum. Com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor, e todos tinham grande aceitação. Não havia entre eles necessitado algum. De fato, os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade.                       (Atos dos Apóstolos 4, 32-35)


Quando os primeiros sinais de esfacelamento da comunhão entre eles começava a aparecer, convocaram a eleição de sete homens sábios e virtuosos que pudessem organizar os bens doados para o benefício dos que mais precisavam, a saber, os órfãos, as viúvas e os doentes, dentre eles os leprosos.


Naqueles dias, aumentando o número dos discípulos, surgiam murmurações dos helenistas (cristãos gregos) contra os hebreus. Isto porque, diziam aqueles, suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária. Os Doze (Apóstolos) convocaram então a multidão dos discípulos e disseram: “Não é conveniente que abandonemos a Palavra de Deus (o anúncio do Evangelho) para servir às mesas. Procurai, antes, entre vós, irmãos, sete homens de boa reputação, repletos do Espírito (Santo) e de sabedoria, e nós os encarregaremos desta tarefa. Quanto a nós, permaneceremos assíduos à oração e ao ministério da Palavra”. A proposta agradou a toda a multidão. E escolheram Estevão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Apresentaram-nos aos apóstolos e, tendo orado, impuseram-lhes as mãos. E a Palavra do Senhor crescia. O número dos discípulos multiplicavam-se enormemente em Jerusalém , e considerável grupo de sacerdotes obedecia à fé.


Eis os primeiros “diáconos” do Cristianismo. São os servidores, exercem a diaconia (diakonia, em grego, serviço) da comunidade nas coisas materiais. Essa foi uma das primeiras medidas políticas das primeiras comunidades cristãs que formavam a Igreja Católica no início do Cristianismo.  Desde aí ela começou a dar sinais de que cresceria como uma instituição comprometida com a assistência dos mais miseráveis, tanto espiritualmente quanto materialmente, pelo menos era essa a proposta da nova seita recém-saída do seio do Judaísmo, no século primeiro de nossa presente era.
Ora, essa assistência não foi mais possível com o passar dos tempos em que se expandia a cultura cristã entre áreas mais distantes do império romano. Do Oriente Próximo, chegou a Ásia Menor, Europa e África, ou seja, quase todo o Velho mundo em pouco menos de um século. Cresceu a Igreja e, como era natural, cresceram as necessidades e dificuldades. A coesão dos indivíduos na consciência de grupo não pôde mais ser realizada com a presença dos apóstolos. Estes eram poucos para tantos reinos, povos e comunidades. O governo da igreja e do cristianismo ficou na mão de seus sucessores imediatos. Para que não houvesse divisão de poderes nas mãos destes mesmos sucessores, a igreja resolveu desde cedo seguir a promessa do “Senhor Jesus” para com Pedro no comando e assistência paterna espiritual das comunidades. Pedro viria logo a ser, então, o primeiro dos papas. Seu poder centralizador teria como sede a sede do Imperador Romano, o César. Roma e mais especificamente a colina Vaticana tornou-se depois, em lugar do centro político, o centro religioso mais promissor do mundo. Enquanto Bizâncio, na atual Turquia, Ásia Menor, se transfigurava em Constantinopla, a Roma dos Césares se tornava a Roma dos Papas e dos bárbaros que a invadiram como a todo o império.
A consciência de grupo viria de um passado vivido com o Cristo Jesus, passado esse revivido nas celebrações da Missa e dos outros sacramentos, na obediência aos sucessores dos apóstolos que são sucessores de Cristo, e em especial ao Papa, príncipe dos apóstolos; na convivência fraterna alimentada pelos encontros de oração e pelo espírito missionário vivido em conjunto, em grupos de discípulos novos ou antigos.


Em um povo envelhecido e desorientado facilmente germinam a ausência de gosto pela vida e uma atitude de melancolia apática, com todas as funestas conseqüências que daí lhe advém; já em uma sociedade jovem, desenvolver-se-ão muito mais um idealismo ardente, um proselitismo generoso e uma ativa devoção. Os degenerados multiplicam-se nas épocas de decadência; mas também é muitas vezes pelas suas mãos que nascem os Estados; entre eles é que se recrutam todos os renovadores. Uma potencia tão ambígua não pode, pois, ser suficiente para explicar um fato social tão definido como a taxa de suicídios. (Durkheim, O suicídio)


As classes mais abastadas têm mais meios de crescer intelectualmente, também correm mais o risco de descobrir que pensar a vida pode ser uma aventura nem tão otimista quanto possa parecer.


O suicídio egoísta

A sociedade não pode se desintegrar sem que, na mesma proporção, o individuo se isole da vida social, sem que os seus fins próprios se tornem preponderantes em relação aos fins comuns, em suma, sem que a sua personalidade tenda a sobrepor-se à personalidade coletiva. Quanto mais estão enfraquecidos os grupos aos quais pertence, menos dependerá deles e tanto mais, por conseguinte, dependerá exclusivamente dele e passará a reconhecer unicamente as regras de comportamento que se baseiam em seus interesses particulares. (DURKHEIM, E. O Suicídio, 2008, p. 220, 221)


O homem se mata facilmente quando está mais desligado da sociedade, mas também se mata se estiver por demais integrado nela. Afimou-se algumas vezes que o suicídio era desconhecido pelas sociedades inferiores. A firmação é inexata.


Afirmou-se por vezes, que em virtude de sua constituição psicológica, o homem só pode viver se se ligar a um objetivo que o ultrapasse e que lhe sobreviva, e explicou-se esse fato por uma necessidade que teríamos de não perecer inteiramente. A vida só é tolerável se tiver uma razão  de ser,  se tiver um fim que faça com que valha a pena ser vivida. Ora, o individuo por si só não constitui um objetivo que justifique a atividade. Representa muito pouco. Não só está limitado no espaço como também no tempo. Portanto, quando não temos outro objetivo senão nós próprios, não podemos escapar à idéia segundo a qual nossos esforços destinam-se, por fim, a ser aniquilados, dado que nós próprios seremos aniquilados. Mas essa aniquilação nos causa horror. (DURKHEIM, E. O Suicídio, 2008, p. 222)


Por outro lado, o suicídio pode ser considerado um problema de saúde pública[23].  Até a própria taxa de suicidios é usado em muitos países como indice para melhor visualizar a situacao social, de desenvolvimento e progresso, satisfação popular e preocupação do Estado;  se os governos propõem  ou nao medidas preventivas dentre outros cuidados.  


A  vida social age sobre o comportamento do indivíduo a partir do exterior. Estruturas e normas criadas por diferentes indivíduos materializam-se em realidades autônomas que passam a independer daqueles que as criaram. Além disso, tornam-se também mais inalteráveis e menos acessíveis aos indivíduos, ainda que nem toda consciência social consiga exteriorizar-se e materializar-se a tal ponto. Durkheim estava preocupado com a manutenção da ordem social.  A solidariedade social é o ponto de partida para sua teoria sociológica. Ele salienta que existem as influências exteriores, quer sejam de associações, quer sejam de acontecimentos passageiros, que perturbam o funcionamento da vida coletiva, configurando uma situação anômica, que é a ausência ou desintegração das normas. (SILVA, Marcimedes Martins da. SUICÍDIO - TRAMA DA COMUNICAÇÃO - Dissertação de Mestrado, 1992, Psicologia Social, PUC-SP [24])
                               
















capítulo V
a visao filófica do suicidio[25]



A filosofia não conseguiu convencer todas as mentes com argumentações válidas[26], conclusivas e indiscutíveis sobre a imoralidade absoluta do suicídio. Apesar de apresentar pistas da imoralidade do ato, vista sempre numa ótica que leve em consideração Deus e/ou o nível de autonomia e consciência do indivíduo por optar pela morte. Análise essa feita fundamentada em uma perspectiva de prioridade ou preferências[27].
Isso muito se deve às doutrinas que privilegiam mais a moral do parecer que a do ser com relativismo, subjetivismo e extremismo.


Hegesias


Houve um filosofo grego de nome Hegesias que relegava à vida uma tragicidade insuportável e um engano mortal. E propunha como solução a morte de todos os homens, porque para ele melhor coisa não havia de ser feito senão morrer e era esse o conteúdo central de sua pregação, que conseguiu induzir muitos ao fim de si mesmos. Para isso clubes suicidas foram abertos por ele com uma única idéia forte:  o desejo de morte.e quanto e Hegesias? O que aconteceu a este? Certamente ele não bebeu de seu próprio remédio; morreu velho com oitenta anos.
Certa vez perguntado do porque de não ter se matado como os que ele aconselhava, disse: "Sou a única pessoa na Grécia que pode induzir os homens ao suicídio. Se eu morrer, não haverá ninguém que me tome o lugar. È, pois, meu dever e penoso viver, a fim de poder ensinar aos outros o prazer delicioso da morte. Afinal é o único prazer dado aos vivos mortos de realmente conduzir-se a sua real condição de mortos".


A escola Pitagórica e Platão


 “Embora o suicídio não deixe de ser um ato de covardia, praticado por indivíduos fracos demais para enfrentar as vicissitudes da vida” pode ser desculpado em quatro ocasiões: quando alguém é tão moralmente perturbado que ache não ter salvação; quando vem de ordens judiciais, como foi o caso de Sócrates (é o tipo de suicídio que chamamos de “suicídio judicial”); quando se vive em extrema e incontrolável felicidade, ou quando o individuo tem remorsos por ter cometido muitos crimes ou ato de grande injustiça contra alguém ou contra a sociedade.
Como o corpo é prisão da alma, seriamos levados a acreditar que Platão é de acordo que quanto antes a alma se desprenda do corpo para alcançar o hiper-urânio, cometendo assim suicídio do corpo e libertando-se. Mas não é bem assim; Platão tem uma mente religiosa demais para eliminar da vida humana Deus e as obrigações do homem para com a divindade, sua idéia de purificação exige justamente que a alma consiga subir com o auxilio do corpo. Que é necessário purgar a culpa do corpo com o esforço do mesmo.


“Vê-se em Fedon, de Platão, a descrição que o filosofo faz de Sócrates em seus últimos dias, defendendo a tese, associada à escola de Pitágoras, pela qual o suicídio é sempe um erro por deliberarmos nossa alma do corpo em que Deus nos colocou (...) Platão afirma que o suicídio é uma desgraça e quem o comete deve ser enterrado em sepultura clandestina” (PAGENOTTO, Maria Lígia. Um absurdo razoável. Revista Filosofia Ciência e Vida. p. 17)


os epicuristas


Epicuro não aconselhava facilmente o suicídio. Recomendava o gozo do maior número de prazeres possíveis. Ao contrário do que muitos pensam, não incitava somente aos prazeres carnais. Havia em sua moral uma escala de prazeres. Os passageiros deviam, segundo ele, dar lugar aos mais perenes; os inferiores aos superiores; os carnais e profanos aos espirituais e sagrados. A satisfação das necessidades pessoais do individuo eram a garantia da felicidade. Epicuro fazia, assim, identificar o bem com o prazer e satisfação.  De modo que uma vida de sofrimento era uma vida que não merecia ser vivida. Não esperemos de Epicuro conceitos cristão de que o sofrimento ensina e deve ser aproveitado. Que o ser humano é capaz de sublimar seus incômodos e tirar o bem dos males.


Epicuro não obrigava os seus discípulos a apressarem a morte, mas pelo contrário, aconselhava-os a viver enquanto tivessem interesse pela vida. Simplesmente, como sabia perfeitamente que, se não se tem outro objetivo, corre-se o risco de já não vir a ter nenhum, e que o prazer sensível é um vínculo muito frágil para ligar o homem à vida, exortava-os a estarem sempre prontos para se separarem dela quando as circunstâncias o impusessem. (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008, p. 308,309)


Os estóicos

1.     Cícero (+- 250 a.C.)

“Sem os meios de ter uma vida que se desenvolva naturalmente, o suicídio pode ser justificado. Nossa natureza requer certas vantagens naturais (o bem-estar físico) par que possamos ser felizes. E uma pessoa sábia, que reconhece não ter essas vantagens, vê que terminar sua vida não diminui sua virtude natural. Quando a vida de um homem tem preponderância de coisas de acordo coma natureza é apropriado para ele permanecer vivo. Quando ele percebe uma maioria de coisas adversas é apropriado terminar com a vida”.

2. Sêneca

Condenado ele mesmo a cometer suicídio: “o essencial não é simplemente viver, mas viver bem”. Para ele, uma pessoa sábia “vive o quanto deveria viver e não quanto ele pode viver”. É a qualidade e não a quantidade de anos vividos que importa para Sêneca.

3. Catão, o Jovem (95-46 a.C.)

Cometeu suicídio em nome da justiça e da liberdade para se opor ao império romano

os pensadores católicos

O cristianismo condena o suicídio baseado no quinto mandamento: “não matarás”.

1. Santo agostinho: O suicídio como pecado.

O suicídio é um pecado.

       
"(...) Até quando os vossos olhares se deterão nos horizontes que a morte limita? Quando, afinal, vossa alma se decidirá a lançar-se para além dos limites de um túmulo? Houvésseis de chorar a Vida inteira, que seria isso, a par da eterna glória e resignação? Buscai consolações para os vossos males no porvir que Deus vos prepara e procurai-lhes a causa no passado. E vós, que mais sofreis, considerai-vos os afortunados da Terra.
(...) Se na maior acerbidade dos vossos sofrimentos, entoardes hinos ao Senhor, o anjo, à vossa cabeceira, com a mão vos apontará o sinal da salvação e o lugar que um dia ocupareis. A fé é o remédio seguro do sofrimento; mostra sempre os Horizontes do Infinito diante dos quais se esvaem os poucos dias brumosos do presente. Não nos pergunteis, portanto, qual o remédio para curar tal úlcera ou tal chaga, para tal tentação ou tal prova. Lembrai-vos de que aquele que crê é forte pelo remédio da fé; e aquele que duvida um instante da sua eficácia é imediatamente punido, porque logo sente as pungitivas angústias da aflição.
O Senhor pôs o Seu selo em todos os que n`Ele crêem. O Cristo vos disse que com a fé se transportam montanhas e eu vos digo que aquele que sofre e tem a fé por amparo, ficará sob a sua égide e não mais sofrerá. Os momentos das mais fortes dores que lhe serão as primeiras notas alegres da Eternidade. Sua Alma se desprenderá de tal maneira do corpo, que, enquanto se estorcer em convulsões, ela planará nas regiões celestes, entoando, com os anjos, hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor.
Ditosos os que sofrem e choram! Alegres estejam suas almas, porque Deus as cumulará de bem-aventuranças."



“Ser ou não ser, eis a questão!”


Santo Agostinho é da opinião de que nem mesmo aqueles que se suicidam preferem o não-ser, ou seja, nem mesmo os suicidas desejam a morte, o mal para si. Ele entende que aquele é o bem para ele. No mínimo a idéia que o suicida tem é que a morte é o “mal menor”. No fundo o que o santo afirma é que ninguém que deseja morrer quer ser nada depois dela, que na verdade o suicida acredita em algo mais além-morte. e assim ele concluirá. Eis o que ele diz:


“Efetivamente, considera o absurdo e a contradição desta declaração: “Gostaria mais de não existir do que de ser infeliz”. Pois ao se dizer: gosto mais disso do que daquilo, escolhe-se alguma coisa. Ora, o não-ser não é ciosa alguma, mas um simples nada e, por conseguinte, é absolutamente impossível que se faça uma escolha conveniente, quando nada há a ser escolhido.
Sem dúvida, dizes ainda: “Eu queria existir, mesmo sendo infeliz, mas não deveria ter querido isso”. O que deverias então ter querido? “De preferência não existir”, respondeste. Se tivesses tido de querer isso, então tal havia de ser o melhor.  Ora, o nada não pode ser o melhor. Logo, não é isso que deverias ter querido. E o sentimento que te leva a não querer o nada é mais conforme à verdade do que o parecer pelo qual crês que deverias ter querido tal coisa.
Além disso, quando alguém faz uma boa escolha é preciso que o objeto desejado, uma vez obtido, torne melhor aquele que optou por ele. Ora, é impossível tornar-se melhor alguém que já não existe. Logo, ninguém pode escolher de modo conveniente não mais existir.
Nem nós devemos deixar impressionar pelo julgamento daqueles que, sob o peso da miséria , se deram à morte. com efeito, , ou bem eles procuram refúgio lá onde julgavam esatr melhor – seja da maneira que for como o supuseram, ou bem menos ainda, caso tenham acreditado em seu total desaparecimento, essa escolha absurda as pessoas em escolher o nada deve nos inquietar. Realmente, como seguir um homem a quem, se eu lhe perguntasse o que ele escolhe ele me respondesse: “Nada!” Pois aquele que escolhe não-ser, certamente fixa sua opção sobre o nada, ainda que se negue a admitir essa resposta”.


É aí que se cria a confusão própria do conflito entre querer e o saber. Desejar fazer algo que a mente diz não ser bom. A vontade que se fosse sã, quereria sempre o bem, vê-se confusa e prefere ou um bem não condizente ou um mal com cara de bem para ele. Agostinho, então, continua dizendo que “No fundo, o suicida procura encontrar a própria tranqüilidade”:


“...Parece-me que ninguém que se suicida ou que deseja a morte de qualquer maneira possui o sentimento de que não será nada depois da morte. Ainda que entre um pouco em sua idéia. Com efeito, o perecer racional reside no erro ou na verdade, obtidos por via do raciocínio ou da fé, em testemunhos dados. Pelo contrário, o sentimento tira seu valor da própria natureza ou do hábito. Ora, pode acontecer que o parecer lógico diga uma coisa e o sentimento íntimo, outra.”

Afinal de contas a vontade é cega. Não tem os olhos da razão. A inteligência deveria guiá-la se também fosse sã de toda. E de fato não é. O equilíbrio, a virtude do meio, é custoso e são poucos os que o conseguem.
Agostinho prossegue:


Assim acontece quando uma pessoa crê que após a morte não mais existirá, e que entretanto – levada por tristezas intoleráveis, inclina-se com todo o seu desejo em direção à morte – resolva abraçá-la  e com efeito se suicida. Há em seu parecer a crença errônea de completo aniquilamento. Não obstante, existe pelo contrário, em seu sentimento, o desejo natural do repouso. Ora o que permanece na tranqüilidade não pode ser um puro nada. Bem ao contrário, possui mais realidade do que aquilo que é instável. Posto que a instabilidade é causa de afetos tão opostos que mutuamente um destrói o outro. Pelo contrário , o repouso implica a permanência, a qual se tem em vista quando se diz de algo: Isto existe, é!
Desse modo, todo desejo daquele que quer morrer é dirigido, não para cessar de existir pela morte, mas para encontrar a tranqüilidade. E, assim, quando crê, por engano, obter o não-ser, sua natureza está a aspirar pela tranqüilidade, isto é, deseja possuir uma realidade mais perfeita. Logo, assim como não pode absolutamente ser crível que alguém goste de não existir, não se pode de modo algum admitir que alguém seja ingrato para com a bondade de seu Criador, pelo ser do qual frui.”


2.     São Tomás de Aquino

Proíbe usando de três justificativas:
1 . É contrário à inclinação natural da pessoa de amar a si mesmo.
2 . É um atentado à comunidade à qual a pessoa pertence.
3 . A vida é um bem dado por Deus e quem a tira, viola o direito divino de determinar a duração de nossa existência na terra.


"É absolutamente ilícito suicidar-se, por três razões. Primeira, porque todo ser se ama naturalmente a si mesmo; por es­se motivo, o fato de alguém se matar é contrário à inclinação natural e à caridade, pela qual a pessoa deve amar-se a si mesmo; daí o suicídio ser sempre pecado mortal, por ir contra a lei natural e contra a caridade. Segundo, porque cada parte, enquanto tal, é, algo de um todo; um homem qualquer é parte da comunidade e, portanto, tudo o que ele é pertence à sociedade, logo quem se suicida atenta contra a comunidade, como indicou Aristóteles. Terceira, porque a vida é um dom dado ao homem por Deus e sujeito ao seu divino poder, que mata e faz viver; portanto, quem se priva da própria vida peca contra Deus”.  


3. Thomas Morus


Obra: Utopia. Nela, parece recomendar o suicídio aos que sofrem de doença terminal. Doenças incuráveis, para ele, justificaria a própria morte. O tom satírico tende a fazer-nos duvidar de suas verdadeiras intenções ao escrever sobre o tema.


Montaigne


Obra: Ensaios (1580-1588) nesta obra elencou vários argumentos em favor do suicídio: “se não vale a pena viver, viver sem que valha a pena não é inprescindível. Ninguém verá prolongar-se o seu mal se não o quiser”.
Isso é lógico, pois ninguém é objetivamente obrigado a nada. Mas a liberdade não é escolher algo mau. Isso é deturpação da liberdade. Liberdade não é libertinagem. Liberdade é optar sempre pelo bem.
A propósito de um Costume da Ilha de Ce (livro 2, capitulo 3); Montaigne escreve: “alguns consideram que não podemos abandonar este mundo em que estamos aquartelados, sem ordem expressa de quem nele nos colocou; e a Deus, que para cá nos enviou não apenas para nosso prazer, mas para a sua glória e serviço de nossos semelhantes, cabe despedir-nos quando  lhe agradar e não quando nós o desejarmos. Não nascemos apenas para nós, mas também a para a nossa terra. As leis , em seu próprio interesse, exigem que prestemos contas de nós e podem punir-nos como homicidas; por outro lado, no mundo seremos castigados por desistência”
Ele admira o suicídio quando é motivado por intenções nobres.  “eis por que se diz que o sábio vive quanto tempo deve e não quanto poderia; e o que de melhor recebemos da natureza e que nos tira todo o direito de queixa é a possibilidade de desaparecer quando bem quisermos. Criou ela um só meio de entrar na vida, mas cem de sair. Podemos carecer de terras para viver; não nos faltam para morrer. [...] E não se trata de receita para uma só doença. A morte é um remédio para todos os males, é um porto de inteira segurança que não é de se temer jamais e sim de se procurar não raro. Tudo consiste nisto: que o homem decida acabar, que corra á frente de seu fim ou o aguarde, é sempre que ele está em causa: em qualquer ponto que se rompa o fio, ei-lo fora do jogo. [...] a morte voluntária é a mais bela. Nossa vida depende da vontade de outrem; nossa morte, da nossa. Em nenhuma coisa, mais do que nesta, temos liberdade para agir”
Eis aí um conceito de democracia mórbido para pretender ser moralmente correto!



Os protestantes da reforma


Tinham mesma opinião dos teólogos católicos sobre a proibição do suicídio. Mas traziam em sua crítica uma possibilidade de Deus tratar com benevolência o suicida permitindo seu arrependimento.


John Locke


Adotou os argumentos dos filósofos tomistas comentadores das obras de Santo Tomás de Aquino, apesar de ser anti-católico: “Deus nos legou a liberdade pessoal, mas isto não inclui a liberdade de nos matarmos”.


John Donne (1572-1631)


A obra em que trata do suicídio é “Biathanatos”. Para ele, o cristianismo permitiu outras formas de suicídio como o martírio, a pena de morte e as mortes na guerra.  Foi quem primeiro defendeu o suicídio na Idade Moderna, contra a visão cristã. Para isso usa de fontes greco-latinas, obras clássicas e modernas, leis entre os povos, mas também fontes teológicas. Não há, segundo sua opinião qualquer proibição expressa contra o suicídio na Bíblia.
John Donne, assim como os iluministas tende a ver o suicídio em termos secularizados. É um assunto que interessa unicamente ao individuo (sua psicologia e disposições orgânicas, subjetivas e vivenciais) e à ciência, e não à religião ou a Deus. Suas atitudes eram liberais, pois interpretava a liberdade humana capaz de decidir tudo, até sobre a própria morte.

Hume



Do suicídio, obra de David Hume, séc XVIII escócia - “quando a filosofia se volta para a análise do suicídio, ela se torna um antídoto contra a superstição e a falsa religião”.
Dado que podemos mudar todos os rumos de nossas vidas, segundo o princípio de movimento posto na matéria que compõe nossos corpos e também pelo princípio de autonomia, de independência do ser que se move a si mesmo, direito este que o próprio Deus nos encarregou de usufruir, inclui-se também aí o direito de por fim à própria vida. Isso não ofende a Divina Providência. Aos eventos naturais que temos o direito divino de mudar se associa o direito de alterar as aplicações das leis que devemos reger em lugar delas nos regerem.
A lei natural para Hume é entendida como elemento “natural” não no sentido que ele deva obedecer por essa força o rege de cima como se fosse uma influencia que deva ser seguida cegamente pela consciência, mas é lei “para o homem”, é algo subjetivo. Alteá-la significa reinar sobre a própria natureza, o cosmos, às leis do universo. “Se consideramos o suicídio um crime, então só a covardia poderia nos levar a cometê-lo. Se não o consideramos um crime, a prudência e a coragem juntas nos libertarão de uma vez da existência, quando ela se torna um fardo. A única maneira pela qual poderíamos ser úteis á sociedade seria dando um exemplo que, se fosse imitado, preservaria para toda pessoa a oportunidade de felicidade na vida, e a libertaria eficazmente de todo o perigo e de toda a miséria”. Nada mais do gosto divino que isto, afirma Hume.
O suicídio não faz da vítima um criminoso, diz. Ele não faz nenhum mal; mas só deixa de fazer um bem:


“Se considerarmos o suicídio um crime, então só a covardia poderia nos levar a cometê-lo. Se não o consideramos um crime, a prudência e a coragem juntas nos libertarão de uma vez da existência quando ela se torna um fardo. A única maneira pela qual poderíamos ser úteis à sociedade seria dando um exemplo que, se fosse imitado, preservaria para toda pessoa a oportunidade de felicidade na vida, e a libertaria eficazmente de todo perigo e de toda miséria” (HUME, D. apud Jaimir Conte. Da imortalidade da alma e outros textos póstumos. Editora Unijuí, 2006)



Deve-se compreender, no entanto, que matando a si mesmo o individuo faz só uma ação. Mas vivendo, ele pode fazer mil coisas. Lembremos que omissão também é um erro, pois não é mal só o fazer o mal, mas sim o deixar de fazer o bem; a isso chamamos negligência. Deixar de prestar um serviço precioso para melhorar a sociedade e a humanidade, por conseguinte, é uma forma mal agradecida de dizer que nunca precisou verdadeiramente das pessoas.
Mesmo assim, colocar o valor da dignidade humana naquilo que ele pode fazer ou produzir é uma forma de diminuir o homem. Não somos simplesmente pelo que fazemos. Um criminoso não perde o valor de ser humano porque não se arrepende. Ele só não valoriza essa dignidade, que não é só um bem, mas um bem que implica responsabilidade. Ele só não vive em coerência com aquilo que é. Pois a natureza (essência) humana é boa. Como diria Hobbes “o homem é bom por natureza”.
De alguma forma, bem disse Karl Marx ao dizer que até agora a filosofia achou de pensar o mundo. Está na hora de transformá-lo.


Immanuel Kant

“Nossa razão é fonte de nossa obrigação moral e seria quase uma contradição supor que essa mesma vontade possa destruir-se a si mesma”


Albert Camus


Para Albert Camus, o suicídio nos tenta com a promessa de uma liberdade ilusória. Não passa de uma fuga de nossas responsabilidades de enfrentar ou aceitar a verdade de que o mal, o absurdo vai continuar, conosco ou sem nós. “Albert Camus no livro O Mito de Sísifo. Descreve Sísifo que é um personagem da mitologia grega condenado a levar uma pedra para o alto de um morro. Toda vez que ele chega ao cume, a pedra rola para baixo de novo, e ele deve recomeçar a tarefa do zero. Camus compara essa tarefa aos sofrimentos da vida. Mas sua interpretação inovadora é que a vida não é o cumprimento de um objetivo, e sim o processo. Sísifo, para Camus, não é um condenado infeliz. É um vitorioso, realizado na concentração de sua mente e no suor proveniente de seu esforço. Para Camus, o suicídio é a negação da liberdade”. (David Cohen e Dagomir Marquezi)


“Só há um problema verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma questão fundamental da Filosofia. De resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, vem em seguida” (CAMUS, Albert. 1913-1960. O mito de Sísifo)



o niilismo

A negação dos valores faz o niilista não levar em consideração nenhum axioma moral. A partir daí, fica difícil convencê-lo de que o suicídio fere a ética e a moralidade humana. Centrada num ateísmo teórico e prático, também não é pela via do respeito à vontade de Deus e de obediência aos seus desígnios que um niilista discutirá. O que prevalece é o individualismo, a vontade do super-homem, pois o homem mesmo é seu próprio deus. Dono de seu destino, cabe a ele decidir o momento de abandonar a vida e o sofrimento, mas não sem antes gozar da maior gama de prazeres possíveis.


o existencialismo


O problema da essência no homem:


Há duas formas de existencialismos: o católico e o ateu. O que tem em comum é simplesmente que admitem a existência como anterior à essência. De maneira tal que o homem faz-se, não é feito desse ou de tal modo. Que temos de partir da subjetividade. O homem se constrói. No homem não há natureza ou essência, uma substancialidade que o defina. Ele é pura indefinibilidade, é a incógnita informe do universo, mas tem potencial de ser o que deseja, se o tentar. Ora, o que o existencialismo não percebe é que, se não se é algo, não se pode chegar a ser. E se fez chegar ao que é não pode ter surgido do nada essa qualidade. A perfeição no homem não pode simplesmente “colar” no corpo humano sem que haja uma essência anterior, predefinida e inata.  
Comparamos as perfeições provindas depois do nascimento do homem com assessórios, ao modo dos acessórios que uma mulher usa em seu corpo. Ora, para tê-los em si, ela deverá ter antes em que pendurar seus objetos. Esse sustentáculo é seu próprio corpo. Não pode ter o secundário se antes não tiver o necessário. Em linguagem mais simples, a vida ou existência humana tem o corpo para agir. A essência tem a alma.
Assim Sartre esclarece a doutrina existencialista na obra “O existencialismo é um humanismo”: “O homem não é só como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como le se concebe depois da existência; o homem não é mais que o que ele se faz. Tal é o primeiro principio do existencialismo” 



arthur schopenhauer


 o mundo como vontade


         Schopenhauer considera que o "valor maior" da vida é a "vontade de querer viver". Isso porque o próprio conceito de vontade é entendido em Schopenhauer como “vontade de viver”.  Por isso, a primeira tendência do indivíduo é a conservação de si...". Diz Schopenhauer: “O suicida quer a vida. Somente é insatisfeito com as condições em que ela se lhe apresenta. Por isso não renuncia, de modo algum à vontade de viver, mas apenas à vida, aniquilando o fenômeno individual.”              
         Por meio do corpo – que cada um sente como anseio de viver e vontade de autoconservação – conseguiremos compreender que vivemos imersos e somos parte de uma vontade única, de um “cego e irresistível impulso” que se identifica com o mundo e agita todo ele. Para ele, todo ato real de sua vontade, infalivelmente, é sempre e também movimento de seu corpo. O sujeito não pode querer efetivamente um ato sem constatar ao mesmo tempo que este aparece como movimento de seu corpo: o corpo é vontade tornada visível. Mas a vontade pode ser entendida como sujeito, constituição própria do ser consciente. Ela parece ter vida própria em nossa psique.



A vontade como essência de nosso ser                    


A essência de nosso ser é a vontade. Somos vontade, somos desejo, somos aspiração.  Ela é “a substancia íntima, o núcleo de toda coisa particular e do todo; é aquela que se manifesta na conduta racional do homem” para ele a diferença é só de grau entre a vontade do homem e das coisas.  “O homem é o único animal que faz os outros sofrerem pelo único motivo de fazer sofrer”
O que se deve acrescenta a esse conceito de Schopenhauer é o fato de que há pessoas que vivem escravos de seus apetites. E como eles são insaciáveis, a pessoa tende a uma outra escravização: a do tédio. Isso porque o ser humano não está para as coisas mais banais: ele veio e vive com sede de infinito, de perfeição. Mesmo que mergulhe num mundo possuído pelas coisas, ele não busca em si mesmo as coisas, mas pessoas com quem possa viver e conviver: sua felicidade está no outro, quando pensa em um lugar bonito, para ele não importa de verdade a paisagem mas com quem partilhou esse prazer. Quando sente saudades de um lugar em que habitou ou simplesmente visitou, sente falta é das pessoas, dos homens e mulheres, sente falta de “gente”. Pois de que adianta as riquezas, fama, gloria se se está sozinho? As afetações dos outros lhes incomoda, seus problemas, suas fraquezas, suas ignorâncias, seus sentimentos, suas idéias, seus desejos. O homem não vive somente preocupado consigo mesmo. Seu bem-estar depende do bem-estar alheio. Os que mais se importam com os demais recebem nomes especiais: sua dedicação, sua generosidade, sua disponibilidade em ajudar sempre, desinteressadamente.
Os ideais parecem ter vida mais longa que os desejos, mas existem desejos e desejos. As grandes idéias sempre andam lado a lado com as grandes aspirações. Para Schopenhauer, a idéia pouco experimenta mudança e pluralidade. São mais estáveis, seguras, confiáveis que os desejos. Por isso é a vontade que comanda o viver humano. Mas, por certo, não podemos dividir o homem, nem dividir os homens entre aqueles que seguem unicamente a razão e outros que sejam governados só pela vontade. O homem é uma síntese em que há predominâncias a depender do estado de ânimo, das circunstâncias, das companhias, da intenção, e da saúde mental e física. De modo que nunca se age só e sempre pela vontade ou pela inteligência. A vontade não pode ter o domínio sempre. Se já é difícil haver lugar no mundo para as idéias, pois dizem que ele se constrói a partir delas, quanto mais para a vontade!   Se o coração tem razões, ele não tem todas as razões. Nós somos animais que, de pé, tem em cima lugar para o cérebro e, pouco mais embaixo, lugar próprio para o coração. Isso denota uma ordem nos seres racionais, que devem subjugar seus desejos aos pensamentos. Também nos irracionais a anatomia  ajuda a compreender estas peculiaridades. O cérebro está sempre na parte da frente: está na vanguarda.
O coração, sua função é agradar-se, gostar, amar, afetuar-se. E não tem olhos; não em vão alguns dirão do amor[28] que é cego. Ao vontade de princípio não separa, não escolhe, não exclui. Vemos exemplo claro dos jovens que se apaixonam facilmente por vários ao mesmo tempo, sem saber definir bem quem são ou devem ser só amigo ou só namorado: falta-lhes a maturidade devida para selecionar e dirigir seus afetos um único objeto. E de acordo com o que dizem, “o amor é cego”. Onde estão os olhos, pois? Estão localizados na cabeça, é componente do sistema cerebral. É a razão que tem os olhos da seleção que exclui e acolhe poucos. Se o coração gosta ou não, o faz sem razão, sem motivos claros e objetivos. A razão explica suas rejeições. A razão é mais convincente, pois oferece argumentos, não é força cega, impulsiva simplesmente! 
A verticalidade no humano é manifestação tímida de sua vocação. Ele está mais próximo do céu, do mais alto, do mais além, da superação. Ele não nasceu sabendo andar sob dois pés. De sua parte, isso demonstra força e determinação, além de dependência de outro para ser o que é. Sozinho, nem mesmo andar o homem consegue, comer também não, morar, vestir-se, em quase tudo depende dos outros desde o primeiro dia de seu nascimento. Da natureza, é dos animais mais fracos, desprotegidos. Seu maior trunfo na luta pela sobrevivência é a vida em grupo. A sociedade o completa como ser contingente. Definitivamente, o homem é o que é só em sociedade.
O ser aí é um não-ser, como diria Schopenhauer? Tudo o que existe, não é? O que existe é só o que está-aí? Existe o existir, então? O que é existir? O que está no mundo como aparência é só um existir inconstante, um existir imperfeitamente denominado de existir, sem permanência, sem referencial, sem objetivação, pois tudo passa em si mesmo, não permanecendo o mesmo e não sendo o que devia ser? É justamente isso que significa engano, erro e ilusão, não ser o que se é. Não ser aquilo que se deveria. Não ser como é, pois se é segundo o que não aparece, pois oculto. Então decrete-se a irracionalidade do mundo, nossa rejeição de ficar aqui. Nossa morte-revolta contra o injusto e odioso. Não temos porque ficar aqui.  Temos que determinar a existência a e a bondade deste mundo para nos convencermos de que vale estar aqui. A maior revolta não é só de não ver sentido na existência. É também o não gostar daqui. E um é razão de outro, mutuamente e simultaneamente. Mais uma vez aparece aqui a vontade como determinação, ao ver de Schopenhauer, do sentido da vida.



sartre –             o homem está condenado a ser livre


O ato suicida é um modo de o homem auto afirmar-se num mundo governado por ninguém, num mundo sem Deus[29]. De assegurar o direito a ser livre, próprio da essência individual. Pois se o homem está condenado a ser livre, a possibilidade de escolher morrer é ter poder sobre o viver. Exercer o poder de escolha, de aceitar ou rejeitar, crer ou negar, isso é liberdade. Também aceitar ou negar a vida que se leva é um modo de exercer o direito de ser livre. Esse é em resumo as implicações da doutrina de Sartre acerca do suicídio.
Contra essa “escolha” de Sartre, santo Agostinho dirá que a morte é o não-ser e o não-ser não é coisa alguma, mas um simples nada e, por conseguinte, é absolutamente impossível que se faça uma escolha conveniente, quando nada há a ser escolhido. “... Parece-me que ninguém que se suicida ou que deseja a morte de qualquer maneira possui o sentimento de que não será nada depois da morte. Ainda que entre um pouco em sua idéia. Com efeito, o perecer racional reside no erro ou na verdade, obtidos por via do raciocínio ou da fé, em testemunhos dados. Pelo contrário, o sentimento tira seu valor da própria natureza ou do hábito. Ora, pode acontecer que o parecer lógico diga uma coisa e o sentimento íntimo, outra.”
Acentua-se muito no existencialismo em geral e também no sartriano a “ignomínia humana... o sórdido, o equívoco, o viscoso...”. por isso criticamos, em total acordo com Mlle. Mercier, crítica católica dos existencialistas que os mesmos, usando de um pessimismo mórbido, alastrado como peste, esqueceram do “sorriso da criança” e acrescentamos: da beleza da flor, do cantar dos pássaros, dos dons humanos postos a serviço dos demais, da cultura, da arte e das matemáticas, do pensamento puro, da contemplação da beleza nas coisas, da contemplação de Deus e das boas ações humanas... da alegria na descoberta da verdade, das amizades, das tardes de sol e prados, das montanhas e do horizonte enigmáticos e inspiradores...
Com um posicionamento tão negativista da vida arrastam consigo homens e mulheres a negação da vida, em conseqüência valorizam o suicídio como solução para os males. E assim contradizem a moral segundo a qual não os fins lícitos não justificam os meios ilícitos de ação.
O mundo criado é belo e não há como negar. Até o deserto é belo se soubermos aproveitá-lo, usá-lo bem. Já o mundo dos homens se não parece tão belo assim, mas é por culpa deles, não de Deus, ou do acaso. Basta estudarmos bem os fatos históricos, e veremos que a miséria nos países tem explicações no passado: a escravidão, o mal governo dos estados, etc. nem mesmo os males naturais são demasiados determinantes para definir o desfecho em que se encerra o mundo vigente. e quantos não se matam porque não suportam a vida de dor e miséria pela fome no mundo, as injustiças, as guerras sem fim, dentre outros!
O suicídio destes é tem causa na não-aceitação de que o mundo que vivemos não é feito só pelos bons. E nem todos os bons homens estão à frente das decisões dos governos, e das instituições. Ao menos até por vezes os maus por interesses próprios são levados a praticar às vezes o bem por pura conveniência. Assim agem pelo que não lutam, recebem frutos de moção involuntária ou impensada. Isso não é hermeticamente encerrado.
Um existencialismo assim mergulha o ser humano na pura contemplação de si mesmo e de seus medos, constrói homens muito auto-suficientes não-compatíveis com a existência social. Suicídios guiados por tais diretrizes não podem produzir mortes de altruístas autênticos, mas somente de egoístas. Não pedem ajuda ou porque não se sentem dignos ou porque não vêem ninguém como digno conselheiro. Não se contentam com o mais prudente e sábio, mesmo se estiverem de frente para algum. Só acreditam em si mesmos. Pela subjetividade pura, empurram não somente a si mesmos, mas também os mais jovens, inexperientes, inseguros e sem visão de logo alcance para enxergarem “possibilidades e saídas” para seus círculos fechados, suas problemáticas.
No mundo atual, o essencial “eu penso” cartesiano virou simplesmente “eu penso assim, assim é”. Não somente como fundamento do ser da consciência, existindo ela realmente, mas sobretudo como  fundamento da realidade que se cria na mente sem correspondência objetiva e clara com a realidade externa.
Isto é um verdadeiro subjetivismo e está em ligação direta com o relativismo em relação à verdade. Assim faz-se necessário analisar demoradamente sobre o verdadeiro e o falso, a verdade e a certeza, o certo o provável, a probabilidade e a necessidade, o objetivo-real e o subjetivo-ideal, os entes de razão e entes reais...           
De modo que não seja nunca verdade só porque se pensa, mas se pense porque é verdade, porque a verdade pode ser alcançada, e o que existe, não existe como dependente de mim. A consciência comprova, e prova a existência, mas não pode criar a existência dos reais.
É exagerada a visão negativista de que só o desespero pode conviver com o homem. De que não há esperança. O outro não é só o meu inferno, mas o meu céu não pode existir simplesmente se não houver o outro para compartilhar. Pois se viver é depender de, viver bem não será diferente. Só posso ser feliz com a contribuição do outro. Ora, ser inferno é uma condição possível que só abarca metade ou um terço da realidade. Há ainda o ser o céu para mim, ou não ser nada, o total indiferentismo.
Não se pode ser amigo de todos, inimigo também não. Pois qual o homem que com uma vida poderá conhecer o bem de todos os homens e os homens de alguns bens? Suprime-se a lei de Deus, o controle dos impulsos, a proibição, conceitos como o certo e o errado, o bom o mal, o pior e o melhor. E vê-se o homem não ser nada além de um animal.  Com os marxistas, concordamos que a doutrina existencialista não propõe soluções, mas resignação perante a situações de necessidade dos homens. Não existe nisso compaixão, conceitos como altruísmo, generosidade, doação de si.   
“O homem não é só como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência; o homem não é mais que o que ele se faz. Tal é o primeiro principio do existencialismo”  Sartre – “O existencialismo é um humanismo”. Mas o que nós queremos dizer com isso, senão que o homem tem uma dignidade maior que uma pedra ou uma mesa? Porque o que nós queremos dizer é que o homem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais nada é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar para um futuro... é um projeto que vive subjetivamente...nada existe anteriormente a esse projeto; nada há no céu inteligível , o homem será antes de mais nada o que tiver projetado ser. Não o que ele quiser. Porque o que entendemos vulgarmente por querer é uma decisão consciente, e que, para a maior parte de nós, é posterior àquilo que ele próprio se fez... mas se verdadeiramente a existência precede a existência precede a existência, o homem é responsável por aquilo que é... e não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens... quando dizemos que o homem escolhe a si, queremos dizer que cada um de nós se escolhe  a si próprio; mas com isso queremos dizer também que, ao escolher a si próprio, ele escolhe todos os homens. Com efeito, não há nos nossos atos um sequer que, ao criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma imagem do homem como julgamos que deve ser. Escolher ser isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bom para nós se que o seja bom para todos.
Nossa responsabilidade... envolve toda a humanidade. Assim sou responsável por mim e por todos, e crio uma certa imagem do homem por mim escolhida; escolhendo-me, escolho o homem (humanidade, o ser humano). O existencialista não tem receio de afirmar que o homem é angústia. Mas a angústia por si mesma não deve paralisar o homem. Ele deve escolher ainda e acima, e apesar de tudo, o bem, o mal menor e o melhor.
E visto que o bem pode nem sempre ser tido como melhor, porque nem sempre é possível a depender dos casos, esse bem de que se trata é o bem absoluto, sem resquício de defeito, ou mancha. Ao menos deve se escolhe o bem útil para o momento, que seja superior ao mal útil. Por ultimo deve ser eleito para o campo da prática o bem deleitável, ele é o que gera mais desconfiança, pois nem sempre temos gozo em fazer o bem, e como pode esse bem ser dominado pela subjetividade, pelo vicio ou costume, ele  deve estar em ultimo lugar.
Porque nem sempre o bem que é útil convence de imediato ao paladar ou a vista de quem dele precisa. Às vezes só em momentos futuros é que ele se apresentará deleitável, porque proveitoso e querido por si mesmo.
Afirmamos de acordo com alguns professores ateus franceses de 1880, que tentaram construir uma moral sem Deus. Ficou provado que Deus tem de ser aceito ao menos como postulado de ação (Kant).  É preciso que seja honesto a priori não mentir, não bater na mulher, ter filhos, etc. O existencialista diz que não há lugar em que esteja escrito que o bem existe, que existem valores a serem praticados, e que por isso nada seria objetivo, mas pelo contrário tudo é subjetivo, e é por conta do sujeito agir desse ou daquele modo. E para isso, aqueles que são ateus, pressupõem a inexistência de Deus. Mas estes ao tentarem convencer a outros, não conseguem ser científicos, objetivos o bastante, tudo fica no campo da opinião. E é claro que a mente precisa mais do que isso para assumir para si como verdade o que afirmam os existencialistas. Eles não têm nada consigo senão o desejo de que os homens expulsem Deus da vida e não encontrem suporte para perseverarem na pratica da religião, do dever e da moralidade em todos os âmbitos da vida privada e pública.
Não se vê com tanta obviedade o sentido de responsabilidade deles perante os semelhantes. Tudo fica no pessoal, na vontade, no querer, mas não se prova nada. Eles não têm provas do que dizem, não tem provas racionais.  A essência é entendida pejorativamente pelos existencialistas. Para eles é uma prisão, pois obriga o ser humano a agir sob determinações metafísicas semelhante a força do fado. Declaramos que o homem é livre ainda que tenha uma essência. Essa essência não é determinação pura, é pura potencialidade, pois é a carga potencial de tudo o que o homem é e que não pode ser diferente. O que dizemos é que o ser humano deve agir por sua própria essência, conforme sua natureza. Ele não foi feito para o mal ou destruição. O que nele é mau não é por essência, mas é um acidente. E se é acidente, mesmo que não possa ser previsto, pode ser evitado, sanado, prevenido. É como uma doença que precisa ser cuidada nem tanto dos sintomas , mas desde a raiz, encontrando sua causa. Uma dor de cabeça, por exemplo, não é o mal, mas a conseqüência do mal primeiro que deve ser buscado, é pois sintoma. Assim é com o homem. Pois foi feito para isso. E se tem uma essência boa, verdadeira, uma, e bela, deve agir com a verdade, ser bom, não dividir, mas unir, nisso ele será belo em seu agir e contagiará outros a o imitar.
         Muitos julgam mal as ações humanas. E os acontecimentos históricos. Estruturas vergonhosas como a escravidão, a quebra financeira de um país devem ser vistos sob a ótica histórica em que se revele o passado, da escravidão e da miséria dos povos. Como resultado, são herança, e se são filhos, devemos procurar seus genitores. Quem são os pais da escravidão e da miséria dos povos do terceiro mundo. Fazendo uma retrospectiva veremos suas causas. Mas o mundo não está assim desde sempre e não precisa continuar eternamente assim. Ao homem cabe o poder de decidir muitas coisas e a maior delas é, além de tanto quanto quiser, se quer viver tanto quanto puder. Para isso, é preciso uma verdadeira e inteira  transformação não somente das estruturas sociais injustas, é preciso que o homem individual deixe de sê-lo.    
Não ajudará para isso concepções relativistas que deturpem a realidade a seu bel-prazer para negar o que já conseguimos, o que é uma conquista, um avanço. Nesse sentido, se comparamos o passado dos povos e analisarmos a transformação na mentalidade dos povos e dos sujeitos, quanto e necessidade do bem, do amor ao outro, da solidariedade entre os indivíduos e as nações deveu-se muito ao judaísmo e ao cristianismo com sua visão de mundo. conceitos como pessoa, filiação divina, fraternidade universal dos homens, mudaram a  história humana. Hoje podemos não fazer nossas obrigações, mas ao menos sabemos que é obrigação. A verdade do homem, assim, é causa propulsora de seu agir. 


A náusea diante da gratuidade da vida


O ser humano como um “eu” não é um habitante isolado na consciência de si, não está só na consciência, mas fora dela, no mundo. O homem, a consciência, é um ente do mundo, no mundo. Com o aparecimento do homem, aparece o mundo “para o homem”. Ambos são mundos que não existem por si mesmos. Deus aí aparece como única realidade motriz. Mas o mundo não é a consciência. Ela é abertura para o mundo, está encarnada na densa realidade do universo. O mundo pode ser visto como um conjunto de supérfluos, de utensílios; nada que seja essencial. Já que o mundo não é essência pura, só tem existência enquanto realidade “que morre”.
         E quando o homem não tem mais objetivos, o mundo fica privado de sentido.  O poder de sua vontade dá sentido ao mundo. Dá uma orientação. Uma motivação. Sem motivação, sem mundo, sem consciência, sem existência, morte.
         A náusea é o sentimento que nos invade quando descobrimos a contingência essencial e o absurdo do real. A existência não é a necessidade. Existir não é necessário. Não é obrigatório. Somos livres.  Existir é estar ali, e simplesmente isso. Nem mesmo o mundo existe se eu mesmo não existir, se minha consciência não der existência e suporte ao mundo.
Os seres existem, coexistem, mas não se pode fiar neles. Não dá pra existir para sempre, não há futuro para o homem, não há justiça divina, não há misericórdia. Não há recompensa, porque nem mesmo juiz existe.
O absoluto não existe. Nem a própria contingência é absoluta. Tudo é incompleto, imperfeito, contingente ao máximo. Tudo é gratuito, não há doação, nem cobrança, gratidão ou ingratidão. Tudo é de graça, sobra... O que existe são as coisas. Nós existimos como uma coisa, um objeto em meio aos demais. Não há essência, natureza, ou espírito absoluto ou alma espiritual. O homem reduzido à coisa e submerso nas coisas.
A consciência é sempre consciência de algo, de algo que não é consciência. A consciência não é um objeto, a consciência é livre. O ser é pleno e completo, a consciência é vazia de ser, é possibilidade. E possibilidade não é a realidade.
Desde o inicio o ser em si, os objetos que transcendem a consciência, não são a consciência. Eu tenho consciência dos objetos do mundo, mas nenhum desses seres é minha consciência: a consciência “é um nada de ser e ao mesmo tempo, um poder nulificante, o nada”. O mundo é o em si”, é o dado “misturado de si mesmo”, “opaco a si mesmo” porque cheio de si mesmo, absolutamente contingente e gratuito.
“A liberdade não é um ser, ela é o ser do homem, isto é o seu nada de ser”. É a liberdade a constitutiva da consciência. O homem é responsável por seus atos livres durante a vida. O que ele faz da vida, isto é de direito dele usufruir da liberdade. Ele é livre e é escravo da liberdade, a liberdade é para ele uma prisão; eis que ele não só está livre, mas é livre, queira ou não queira é responsabilidade dele escolher, arbitrar, separar e eleger, optar.
A liberdade não é condicionada. Nada, nem ninguém a determina e molda.   Ele mesmo se escolhe. E ele pode mudar seu projeto fundamental, existencial a qualquer momento, por pura liberdade.  O homem não pode somente ser livre, ele não deve ser somente liberal, ele deve agir com liberalidade, com generosidade acerca da consciência. Não deve ter medo de doar, de dar-se, só quando alguém se sente útil é que o sentido da vida aparece com clareza aos seus olhos. O beneficio que ele pode exercer nos outros esse é seu salário, essa é sua justiça. Mesmo que não sejam gratos. Mesmo que não o dêem valor. Ele é governante de si mesmo, pois sabe que tudo fez com retidão de consciência, com interesse, mas sem interesses egoístas. Uma vontade de crescer, fazendo crescer a outros.
Essa gratuidade ele deve experimentar em relação ao próximo, não em relação as coisas. Não são os objetos que o motivam, são seus atos, é o bem que o impulsiona. Faz porque é bom e se satisfaz pelo puro bem, mesmo que não dê certo todas as suas invectivas, mesmo que ele não sinta mais prazer, pois o prazer é temporário e passageiro, mas o que ficam são os atos livres, de coração desapegado com a consciência da contingência do mundo, mas com a absoluta disponibilidade para servir e.
         Afinal de contas, o homem, e só o homem é o ser para o qual todos os valores existem. “Todas as ações humanas são equivalentes, e que todas estão em principio, fadadas à falência. No fundo, é a mesma coisa embriagar-se na solidão ou conduzir os povos”. A vida é uma aventura absurda, onde o homem se projeta continuamente além de si mesmo, como que para poder se tornar Deus. O homem é um ser que se projeta em Deus.
Os filósofos esqueceram-se da força do exemplo. Se esquecem em relação à origem dos seres, acabam negando que Deus gerou tudo de si mesmo. Mas em verdade, é que Deus fez as coisas usando como modelo a si mesmo. Por isso Deus cria as coisas e o seu ser é a forma exemplar da qual se formaram todas as coisas. É por participação que as coisas têm a existência.
Portanto, não é que o homem use Deus como projeção, mas como exemplo perfeito do atuar. O homem é uma paixão inútil. Ora, se há homens que vivem dessa forma, não podemos exagerar, e generalizar. Eles não são nem devem ser modelos do atuar de ninguém. O homem não é de todo ruim. Ele pode viver a virtude, pode habituar-se a fazer o bem, e nisso, alcançar o sentido da vida. Pois suas metas podem ser alcançadas, se ele mesmo se esforça para isso. E se não conseguiu, não tem com o que se preocupar porque se não dependeu dele, não foi por culpa sua. A vida do virtuoso pode não ser perfeita, mas pode ser honrada, mesmo nas derrotas.
“O inferno são os outros”. Minha queda original é a existência do outro. A sensação de ser visto como objeto em relação do outro, pelo outro. Do ponto de vista do outro. O que era sujeito quando sozinho, torna-se frente ao outro, objeto (timidez, vergonha, medo, pudor) éramos livres antes de existir o outro. Não sou mais o centro do universo. E isso me diminui. Nasce o conflito.
O homem é demiurgo de seu destino, de seu futuro. Não existe o amanha determinado, condicionador. O homem é existência. E a existência precede a existência nele. Ele se faz, não é. É artífice de seu ser. Não existe por isso natureza humana. O problema do postulado. Não há provas, só teorias. Não é menos racional a natureza que a negação dela. Ele é um condenado. Condenado porque não se criou a si mesmo.


kierkegaard -           a valorização do indíviduo


 “O homem é espírito. E o espírito é o “eu”. O eu é uma relação que se estabelece consigo própria. É um relacionar-se com a interioridade de si, no nível mais profundo do ser.” Não que o ser seja uma relação em si, mas é o voltar-se sobre si mesma. É a relação do refletir, lançar-se sobre a consciência de que conhece a si.
“O homem é a síntese do finito e infinito, de temporal e eterno, de liberdade e de necessidade.” É relação enquanto concebe a si mesma como relação. Não é uma simples relação, uma simples síntese ou união entre dois termos essenciais. Mas é uma relação que se conhece.
O problema é quem pôs nesse ser finito tal poder. Quem fez converter um ser-aí em conhecedor de si. Como se deu a passagem do ser que conhece ao ser que se conhece como conhecedor: uma “consciência ambulante sobre duas patas”.
Essa relação saiu de si e foi ao encontro do outro. Essa relação pode ser entendida por muitos autores não só como um sujeito que independente do outro mas que mesmo assim lhe vai ao encontro para se comunicar, mas sim como resultado desse encontro com um “outro-eu”. Por isso há 2 formas de verdadeiro desespero. Se tivéssemos dado a nós mesmos esse nosso Eu, não haveria mais que um só desespero: não queremos ser nós mesmos. Mas o fato é que este poder não nos é próprio, visto não sermos infinitamente poderosos a tal ponto. A segunda forma desse desespero é “a vontade de sermos nós mesmos”
Ora, desejar ser nós mesmos é o mesmo que querer ser a essência de nós mesmos. Não se satisfazer com o que até agora temos sido. E se desejamos, é porque cremos ser possível, mesmo que com grandes e mortais esforços, conseguir. Uma natureza, princípio do agir, aí é desejada justamente por ser a parte que de melhor existe em nós, uma potencia ainda não transformada em ato.
Se é possível ou não conseguir, é questão de opinião, de aposta, entra a questão da valorização, da escolha ética; não mais do conhecimento. As bases já foram levantadas, dando licença aos dois caminhos. É decisão do indivíduo.


O desespero é uma doença mortal do eu


Recebemos o ser, e não o possuímos (não o originamos de nós mesmos). E recebendo, não temos total poder sobre ele. Somos administradores. Isso traz à mente aquela necessidade substancial de que tem o homem em crer que existe uma verdadeira força acima dele, que o obriga, uma inteligência superior que cuide dele como nunca cuidaria dele mesmo. A vida, o ser, a alma, nossa natureza, a essência, nos foi dado, não pode ter surgido do nada, ou do acaso.
O desesperado tem consciência do seu mal, mas se vê incapaz de superá-lo por si só, de modo que qualquer esforço que faz sentir-se afundar ainda mais. Ela julga ademais que o seu mal advém do exterior, e é a isso que se deve a gravidade e inevitabilidade do problema. Não percebe que ela mesma se fechou nele, que antes de tentar já desistiu, que antes de precisar de ajuda de alguém, é a si mesma que deve ajudar, pois ninguém tira ninguém da lama sem que a mesma queira e contribua. Não adiantará o melhor analista, o melhor confessor, o melhor amigo, o melhor conselho. Ninguém poderá ajudar se ele mesmo não o fizer primeiro. Pois se fizermos tudo do mesmo jeito, quem poderá mudar os resultados?
“O desespero será uma vantagem ou uma imperfeição?” essa é a pergunta que Schopenhauer se faz. E responde dizendo que pelo menos o desespero caracteriza o homem frente a outros animais, pois está no âmbito da consciência. E consciência só é devida à espécie racional.  O homem sabe que sofre desse mal, porque pode prever o que lhe acontecerá no fim de suas contas. Saber que vai morrer pode ser uma grande vantagem para ele. Pode o fazer refletir e melhorar suas atitudes, fazer rever sua opiniões, aproveitar melhor  oportunidades únicas que se lhe apresentarem, não adiar coisas importantes, não desprezar aos outros passando por cima deles, pois sem domínio do tempo, nunca se sabe de quem vai se precisar um dia...
De um lado, se o homem não consegue o que deseja incessantemente, se desespera. Se já alcançou todos os seus desejos, torna-se por um tempo satisfeito para cair depois no reino do tédio. Pois do  homem sempre se espera mais que o óbvio, que o limitado, que o imediatismo pode oferecer, que o pragmatismo pode prever. Chamado a ser infinito, é infinita insatisfação com a situação vigente, ele rompe estruturas para se descobrir um navegador de horizontes jamais desbravados, seu ímpeto o faz se lançar em missões que não só lhe satisfaça  e proteja, mas a seus semelhantes, a ponto de sacrificar-se para preservar a outros, a geração, o futuro d espécie, ao menos para seus descendentes imediatos, filhos e família. Isso mostra uma preocupação geral, típico de um ser que foi “programado” para a vida em conjunto, de relacionamentos e conexões complexas e profundas, duradouras e necessárias. 
Ora, não somos anjos nem puros animais. Se assim fosse, não desesperaríamos. Não somos Deus (tudo) nem o nada. Somos síntese, somos meio-termo, somos conjugação. Fomos o que fomos, somos o que agora somos, e seremos igualmente diversos no tempo que virá. Nosso ser é construir-se. E nisso há beleza. Há um prazer muito grande por não termos nascidos prontos. É bom sentir que as experiências nossas nos vão moldando e construindo o que temos sido. É bom não ter respostas prontas, é prazeroso encontra-las. Somos imperfeitos, mas cada passo que damos além de nosso próprio eu é evolução, é a perfeição que se aproxima...
O homem é aquilo que escolhe ser, a existência é possibilidade, obriga a escolher, implica risco, gera angústia. Mas essa sua possibilidade não se resume a dinheiro farto, ventre saciado, Eros satisfeito, prazeres carnais, sucesso, vida boa sem esforços. A dignidade humana não descarta o trabalho, pelo contrário, o eleva. E o trabalho desemboca no sofrer, é reflexo de sua cooperação e não o domínio sobre a natureza, que não lhe deve nada em troca.


Experiência do filosofo solitário


É a morte aceita com gratidão pela Providência Divina que lhe possibilitou visualizar a idéia do Cristianismo como verdade sofredora. Pois como cristo disse de si mesmo e dos discípulos que quisessem o seguir com dedicação que “não há maior amor do que aquele que entrega a sua vida em favor de um amigo, de um irmão”. Nesse sentido a forma de maior amor, a prova irrefutável de alguém que ama de verdade é se doar totalmente, não ficar com nada, até mesmo sua vida entregar. É do Cristianismo a idéia motora de que vence o que perde, vive o que morre, encontra-se quem se perde, ganha quem se dá.
Essa oblação, esse sacrifício que cada ser humano pode ser para o outro, é a forma mais bela de se tornar presente, dom, dádiva para o outro. A vida verdadeiramente humana é aquela que não se guarda, que não se conserva, se esquiva, mas sim a que se gasta, se envolve e se compromete. Como diria Antoine Saint Exupéry: “Somos responsáveis por aqueles que cativamos”. Em outras palavras: “quem ama, cuida”.
Vencemos desde o começo. A luta pela sobrevivência está no nosso gene. Somos frutos de uma luta de um contra milhões. Só um espermatozóide penetrou o óvulo-vida. Não façamos desse esforço uma tentativa vã. Somos responsáveis por quem conquistamos. Apesar de sermos mais importantes individualmente que a vida do grupo, sabemos que não podemos muito sozinhos. Somos tudo quando somos mais que só um. Somos mais quando somos juntos. Já diz o ditado: “Juntos somos mais! A união faz a força”.
O indivíduo, em sua unicidade e irrepetibilidade, não pode ser eliminado por nenhum sistema, não pode ser homologado por nenhum conceito. O individuo se transforma no baluarte da transcendência. Como diria o pensador: “nenhuma idéia vale uma vida”. Para hegel, o que conta, como na espécie biológica, não é o individuo, mas a humanidade, o grupo, a sociedade. Mas não é assim: o individuo vale mais que a espécie. É pela existência do individuo que a coletividade ganha importância. O grupo só é grande enquanto o individuo que o forma é grande. O indivíduo, insubstituível, irredutível, original, é a contestação e a refutação do sistema.
Para hegel, o que conta, como na espécie biológica, não é o individuo, mas a humanidade, o grupo, a sociedade. Mas não é assim: o individuo vale mais que a espécie. É pela existência do individuo que a coletividade ganha importância. O grupo só é grande enquanto o individuo que o forma é grande. O indivíduo, insubstituível, irredutível, original, é a contestação e a refutação do sistema. O homem enquanto espírito – o indivíduo -, diversamente do que acontece nas outras espécies animais, é superior à espécie.
A grande questão está em saber o limite da liberdade individual e por outro lado o limite do direito da sociedade em exigir do indivíduo sacrifícios em prol do grupo. Até que ponto é justo sobrepor o sujeito à sociedade e vice e versa. Isso é importante para não cairmos nos extremismos infrutíferos dos egoísmos e do domínio do estado totalitário. As duas Grandes Guerras nos deram exemplos bastantes convincentes de que erros de mesma magnitude não podem e não devem ser queridos.  A forma de vida singular do animal homem faz lembrar nele a dignidade própria de filho dos deuses: superiores à natureza, poderoso por sabedoria, dono de seu destino.
O animal tem uma essência, é determinado: a essência, com efeito, é o reino do necessário. Mas o modo se ser do individuo é a existência: o homem é aquilo que escolhe ser; a existência não é a realidade ou a necessidade, e sim , a possibilidade. “A possibilidade é a mais importante das categorias, e quem foi educado por meio da possibilidade compreendeu também seu lado terrível e sabe que ele não pode pretender da vida absolutamente nada  e que o lado terrível, a perdição, a aniquilação habitam com cada homem de porta em porta”
A existência é possibilidade, possibilidade como ameaça do nada, possibilidade, portanto, como angústia. A angústia caracteriza e existência humana. Mas o importante é aprender na escola da angustia, compreender que a angustia forma. Ela de fato destrói todas as finitudes descobrindo todas as suas ilusões.
Se a angústia é típica do homem em seu relacionamento com o mundo, o desespero é próprio do homem em sua relação consigo mesmo. O desespero é a doença mortal: “um eterno morrer sem todavia morrer”, uma autodestruição  impotente”
O desespero é viver a morte do eu. O desesperado está mortalmente doente. É um doente terminal. Coincidência ou não, mas se por um lado não existiu uma sociedade religiosa totalmente isenta de males imensos, que produzissem incrédulos aos milhares, por outro lado todas as tentativas de substituir Deus por outra coisa, nunca teve bons resultados (sempre teve resultados desumanizadores). O desespero é causado pela não aceitação do futuro, da vida humana nas mãos de Deus.  É a negação do divino. Pois quando se mata Deus no homem, morre o homem bom. Este mesmo se auto destrói. Aí o que se vê é que vingança não é barrada, porque nunca é o bastante. O medo não é vencido. A solidão existencial não é superada. O ódio toma o lugar do amor. Morre a harmonia dos homens pela incompatibilidades de interesses. Ninguém cede, ninguém quer perder quando é preciso.
Cessa o desejo de alcançar o infinito, cai-se num tédio. O espírito de superação de si mesmo é substituído pelo desejo de superação do outro. Não mais se vê o outro como um contemporâneo, um irmão peregrino perseguindo a mesma meta.
O suicídio como fuga é uma das coerentes formas de manifestar a existência de uma divindade suprema, um ser essencial lógico que dê significado, sentido, e direção ao ser de tudo. “A angústia é a possibilidade da liberdade. Somente essa angústia, através da fé, tem a capacidade de transformar absolutamente, enquanto destrói todas as finitudes, descobrindo todas as ilusões” [...]                        “A angústia forma o discípulo da possibilidade”. Fora da fé só existe o desespero. A existência corresponde à realidade singular, ao indivíduo, ao “um”, uno, ela permanece de fora e de qualquer forma não coincide com o conceito.... um homem individual certamente não tem existência conceitual”
O problema é que a filosofia tem só tratado de conceitos, do sujeito plural, do homem em geral. A questão é que não é o homem em geral, o conceito que existe na realidade, que sofre a dor do existir, do ser é finito... quando isso acontecer de verdade e com afinco muitas vidas serão salvas.
Quando não nos perdermos mais em nossas meras hipóteses, teorias, supostos, raciocínios complexos qual beco sem saída, algo mudará... É preciso dar importância à existência humana, e a existência humana concreta. É preciso olhar para o indivíduo par que este não se sinta abandonado, seja só mais um na multidão, sozinho em meio a olhares que não se prendem a nada, não têm foco, nem piedade, nem compaixão.
Queremos por vezes abarcar todo o mundo sem começar por um, pelo individuo. Queremos salvar os homens, mas não o homem. Veremos que tal intento não frutificará nunca. Eis o erro dos sistemas ditatoriais até então existentes, o qual do comunismo serve de exemplo.
Para Kierkegaard, a figura do filosofo sistemático é figura cômica porque acredita poder dizer tudo e está persuadido de que o incompreensível seja algo falso ou secundário. O individuo é a própria contestação e rejeição dos sistema a ponto de ele como singular representar a morte do mundo, pois quando morre um ser humano é como se morresse toda a humanidade.                        
Um dos maiores problemas do homem é que o que possui não percebe isso como um bem, de maneira que o que ainda não tem (porque não lhe foi dado ou adquirido por própria força) torna-se para ele o único bem. De tal forma que ele põe sua felicidade no outro (uma coisa ou um alguém) que não possui. Despreza o que já tem, ou fecha-se a isso. Torna-se infeliz porque é ganancioso, avarento, enfim, ambicioso, no pior mais ambíguo sentido da palavra. Ele põe dessa forma sua alegria no que virá, não se satisfaz. O passado não lhe basta, o presente não o compreende, mas do futuro tem medo tantas vezes disfarçado de ânsia, expectativa, esperança, perspectiva, possibilidade...
Os fatos não estão aí para serem sempre compreendidos, ou compreendidos em sua totalidade – isso é impossível neste mundo – mas para serem aceitos ou rejeitados. No máximo podem ser interpretados, mas não desvendados em sua totalidade. A angústia é o puro sentimento do possível, é o sentido daquilo que pode ser terrivelmente pior do que a realidade, do que o agora. O desespero é a culpa do homem que não sabe aceitar a si mesmo em sua profundidade.
Quem vive no erro, tem medo de se arrepender. Quem já passou por ele, vive com o medo de novamente nele cair. Se quisermos chamar a esse erro de pecado, a essência mesma não muda, fala-se de sinônimos, de conceitos que convergem, se identificam. Mas do ponto de vista cristão, nem a morte é doença mortal, muito menos qualquer outra adversidade no mundo temporal. A morte pode ser um fim de uma doença, mas não é o fim, no sentido cristão. Aí reside propriamente o desespero: o desesperado está mortalmente doente. Todo homem está mortalmente doente porque o desespero é viver a morte do eu. E o que devia ter mais desespero é o que pensa não viver sob a influencia de nenhum.
O cristão sabe que sofrerá, justamente porque não se sente superior aos outros homens achando que pode ser liberto dos males temporais deste mundo. ele sabe que deus não vai evitar os males, mas vai lhe fortalecer a passar sobre eles, nem sempre ileso, mas sempre consciente de ser amado por Deus que ao seu lado sofreu tal mal. Desta forma o sofrer tornou-se diminuído pois obteve a ajuda para suportar cruzes. Ele entende que o sofrimento é inevitável, mas ele tem uma, e só uma escolha: sofrer com Deus ou sofrer sem Deus. Ao sofrer sem Deus ele sabe sofrer sozinho. Ao sofrer com Deus, ele reconhece em Deus um consolo, que um ombro amigo pode amenizar a dor. Pois a cruz para o cristão não é aniquilada por Deus, mas é suportada pelo próprio homem. De modo que ninguém está obrigado a gostar de sofrer, mas deve aprender com o sofrimento, para se prevenir contra os próximos.
Por isso a raiz do desespero para Kierkegaard é não querer aceitar-se nas mãos de Deus, de não querer aceitar Deus como origem e fim. É no processo de substituição de Deus pela criatura que há o maior erro para o bem total do homem. Mesmo que o homem a si mesmo se coloque como finalidade dos seus atos. É preciso não acreditar em si mesmo para tudo. É preciso aceitar um fundamento maior. Um fundamento que seja fundamento até do fundamento-homem: é Deus. o homem não é suficiente para se explicar. Sua causa é externa a ele mesmo. Deus, o Criador, o Supremo, seja qual for o nome que dermos a ele, será sempre a razão ultima do existir do homem.
O principio do eterno viver é o amar sempre. Mas amar não é gostar, não está no âmbito da pura estima, da empatia, que não tem nada de racional, lógico, com fundamentação nas causas. Muitos acham que temos de gostar de todos. Ora, ninguém é obrigado a ser amigo de todos. Amigos são seleção, predileção, fruto do preferir. O amor é mais amplo. Podemos e devemos amar a todos os homens, em respeito a esse “outro eu”, a esse outro semelhante a mim. Ele tem uma dignidade própria ao ser criado por Deus. Mas não estou obrigado a ser seu amigo. Mas sim a fazer-lhe sempre o bem, amá-lo, respeita-lo. Nesse caminho a palavra que vem a mente é o suportar. Neste sentido, não se aprova as manias, os maus costumes. Precisamos odiar o erro do outro, não o outro.
Todos os homens, por fazerem parte da humanidade, têm os mesmos direitos fundamentais. Mas não é falso afirmar que possuam também os mesmos deveres uns para com os outros. Se o mundo fosse perfeito, leis tão óbvias como essa não seriam burladas. As richas, a vingança, o ódio, fazem a desordem dos planos de Deus para a humanidade. É claro que os males são provocados por nós mesmos. Não existe um Deus que se vinga enviando a alguns homens, mesmo os maus, males, pestes, má sorte. A história nos provará que a humanidade se constrói em cima de erros e acertos, e por isso mesmo, que a origem de paises em estádio de miséria...


A MORALIDADADE DO ATO


Não podemos admitir com uma consciência honesta atitudes do tipo: que quer se matar que se mate. Nem todos sabem o que é melhor para si mesmos. Apesar de serem livres, não devem fazer mal a si mesmos. Uma coisa é certa: o ser humano pode enjoar do paraíso. É o único racional, depois dos demônios, que pode pensar isso.

1. Toda e qualquer possibilidade de auto-realização é eliminada radicalmente pelo suicídio.
2. E a auto-realização tem prioridade sobre a autodestruição.
3. Também as ações revogáveis têm prioridade sobre as não-revogáveis.
4. A liberdade vivida por mais tempo e com maior intensidade tem preponderância sobre a liberdade prematuramente interrompida..
5. O suicida destrói irreparavelmente a sua criatividade, a possibilidade de colaborar para seu próprio desenvolvimento e para a construção social por meio de atos passíveis de revisão.
6. O homem é um ser que amadurece com o tempo: o suicídio acaba com esse processo de desenvolvimento.

Afinal, o suicídio será sempre questão de interpretação e o que temos aqui são instrumentos para interpretação sobre a liceidade e moralidade do ato. Não existem provas cabais que comprovem ou neguem a utopia suicida. A opção suicida é sempre opção no sentido de que estará sempre nas mãos do indivíduo a força de decisão sobre sua própria vida e futuro. Caso tome a decisão de desistir da vida não poderá jamais reclamar resultados. O suicídio é a investida sem volta de um apostador que não tem o que implorar depois da perda. Não cabe remorso, nem arrependimento. Sendo algo tão definitivo, deve ser muito bem pensado. Por isso não é assunto para mentes fracas e sugestionáveis. 


o suicidio é correto?


“Se o suicídio é permitido, então tudo é permitido. Se nada é permitido, então o suicídio não é permitido. Isto vem lançar alguma luz sobre a natureza da ética, pois o suicídio, por assim dizer, é o pecado elementar” (Wittgenstein, 1961, Notebooks, 1914-16)


No suicídio se mata e se morre. Se matar o outro é um mal, mal também é matar a si mesmo. A pessoa causa a si mesmo um mal, mas que subjetivamente é um bem para ela. No ato ela faz uma escolha: continuar sofrendo do mal que a atormenta e a induz ao suicídio, ou enfrentar a morte. Esse enfrentar a morte pode ser realizado de uma forma dolorosa ou indolor, cruento ou incruento. É claro que muitos preferirão o a morte rápida, efetiva, e sem dor, a depender do método. Uma coisa é enfrentar a morte, outra é a dor (da morte). Quem deseja sair da vida por causa de uma vida de dor, não desejaria morrer demoradamente, com dificuldades e sem precisão. Existe a dor da vida e a dor da morte, excetuando aquelas nas quais são empregados medicamentos inibidores nervosos.

“Se o suicídio é crime, deve ser uma transgressão do nosso dever para com Deus, para com  o próximo ou para nós mesmos” (Hume, 1784)

Ao buscar sair da vida, não se sabe o que encontrar do outro lado. Alguém que escolhe o que não pode ser suposto, previsto, conhecido não escolhe, aceita. Subjuga-se. Escolher o desconhecido é também escolher. Mas não estamos a falar de qualquer desconhecido. O navegante que supunha um país em águas estrangeiras, arrisca-se mas não sem alguma garantia de que ao menos esse tal lugar exista, mesmo que não saiba onde é exatamente. O jovem que sai da casa dos pais, com ou sem conhecimento deles, e aventura-se no mundo, não tem exatas idéias do que lhe ocorrerá, mas aposta porque o mundo humano é o mundo das possibilidades e sempre se pode esperar algo dele, mesmo que não seja grande coisa.
Do mesmo modo, alguém que pula de um lugar alto em direção às águas de profundidades desconhecidas, corre o risco também de encontrar algum tronco ou rochedo submerso que o possa ferir e até matar. Se esse homem se vê obrigado a pular porque atrás dele vem correndo um outro armado querendo matá-lo, sua decisão de pular foi correta porque buscou ai o “mal menor”, a escolha que trazia menos riscos predefinidos. Ao menos ao pular ele tinha a certeza de existir água em forma líquida (pois se fossem águas congeladas o impacto poderia ser mortal, ou se fosse tão rasa ou margens estreitas que de nada adiantaria se tentasse) de largas proporções que provavelmente o livraria da morte certa do que se caísse da mesma altura, em vez disso, num chão de concreto.
Outro caso a se analisar sob esta ótica é daqueles que tem de escolher de que tipo de morte querem sofrer. Pois não há chances de sobreviver. Assim aconteceu em 2001 com dezenas de homens e mulheres que no ataque terrorista do Wold Trade Center no qual foram destruídas as Torres Gêmeas na cidade nova-iorquina, decidiram pular das janelas para um salto mortal em vez de enfrentar as chamas do terrível incêndio. Também aí o tema do mal menor foi decisivo. Se ser corajoso é o que enfrenta a dor, não é aquele que não tem medo, mas aquele que , tendo medo, mesmo assim enfrenta.
O suicídio é preocupante também em relação ao efeito que causa nas outras pessoas, nos entes queridos, familiares, amigos, conhecidos próximos, filhos. Alguém pode desistir do suicídio se se preocupa muito com a reação do mais próximos a ele, do quanto eles sofreriam. Essa atitude nem sempre é imitada por aqueles que acham que ninguém os ama, ou quando simplesmente não se sobrepõe esse amor deles por cima do desejo de sair da vida.


A questão da liberdade


“A liberdade somente é o fundamento da possibilidade intrínseca da conformidade porque recebe sua própria essência da essência mais original da única verdade verdadeiramente essencial”. (Heidegger, sobre a essência da verdade)
“A liberdade foi primeiramente determinada como liberdade daquilo que é manifesto no seio do aberto. Como deverá ser pensada essa essência da liberdade?”. E assim Heidegger vai desenvolver essa problemática mais ou menos na linha da definição sistemática de verdade escolástica: “conformação da realidade com a mente e da mente com a realidade”, dizendo: “o manifesto (o fenômeno de Kant, nesse caso, o próprio objeto) ao qual se conforma (se adequa) a enunciação apresentativa (a conceituação, a definição dessa realidade expresso pelo sujeito que se refere ao mesmo objeto e à sua essência), enquanto lhe é conforme, é o ente assim como se manifesta para e por um comportamento aberto (aberto no sentido de ser possível de ocorrer, provável, porque potencialidade). A liberdade em face do que se revela no seio do aberto (do possível) deixa que cada ente seja o ente que é ”. Ou seja, é a liberdade que faz com que cada vez que aja, o ente racional torne-se mais e mais ele mesmo, exerça o que lhe cabe por direito: ser um ser pensante das possibilidades e atuando em cima das certezas e escolhas feitas. É a liberdade que o aperfeiçoa, que lhe dá a possibilidade de ser melhor, de plenificar-se, de terminar-se como pessoa, como humanizado: humanizante e humanizador.
Ora o suicídio não se concatena com conceito semelhante de liberdade.                 O suicídio não faz “ser como se deve ser”, ou como “ser de um modo possível de plenificar-se”: é um não ser, é simplesmente não ser mais, nunca mais.
Na obra “O Existencialismo é um humanismo” Sartre diz “... com efeito, tudo é permitido se Deus na existe, fica o homem, por conseguinte, abandonado, já que não encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a que se apegue. Antes de mais nada não há desculpas para ele. Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza dada e imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimem o comportamento, justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas. É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado por que não se criou a si próprio; e, no entanto, livre porque, uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer”.


O livre arbítrio



Na prática, não é nada lógico que a liberdade escolha nunca mais escolher.  Qual o verdadeiro sentido da liberdade?
Liberdade é “o agir no bem que liberta”. O mal aprisiona. Não se pode falar em verdadeira liberdade quando se pretende optar pelo bem ou mal. Isso é livre-arbítrio, não liberdade. Ter liberdade é ser livre, não significa fazer tudo. Existe uma responsabilidade na liberdade. Liberdade sem responsabilidade é libertinagem, não real liberdade. Então é contraditório que a liberdade escolha a maior das prisões, que é a morte. O próprio instinto de sobrevivência tende a impelir o homem a tornar-se livre, sem cadeias que o prenda, sem mal que o fira ou companhias que nos atrapalhem.        O sentido de liberdade não passa longe desse idéia.
Se existe mesmo a eternidade, que seria ela senão o que justifica qualquer sofrimento terreno, dores que não se tornam nem grandes nem fortes o suficiente para fazer desesperar ou perder a fé dos que crêem na existência por um lado de Deus que ama, mas que é justo; que socorre, mas ao seu tempo e por outro da liberdade humana de todos os homens que se tornam responsáveis por seus atos?
Vivemos num estado de guerra.   Lutamos não somente com as forças e ofensas doutros, mas as bobagens proferidas e realizadas por nós mesmos. Não nos conhecemos totalmente. Bem disse Sócrates: “Só sei que não sei”. E a acrescentar-se: “de mim mesmo”. Que os homens ou são os que matam ou são os que morrem. Que o mesmo homem pode ser o carrasco de tantos e algoz de si mesmo. Que os injustiçados de hoje podem vir a ser os assassinos de amanhã, não é de se espantar.
A aposta: a angústia e a decisão: “não se pode deixar de ter, na decisão que tomar, uma certa angústia. Tal angústia todos os chefes a conhecem” ter de escolher, ter de decidir, ter que optar, acolher e rejeitar”
Encarar a possibilidade, a chance de frente, confrontar a multiplicidades de coisas. O problema da essência no homem: as determinações do espírito e dos fundamentos basilares e preexistentes: para os existencialistas o homem é livre e não há natureza humana em que possa basear-se para agir. Não há determinações a priori, cobrança, inclinações, disposições pré-existentes... “na realidade, as coisas serão tais como o homem tiver decidido que elas sejam... o homem não é senão o seu projeto, só existe na medida em que se realiza, não é, portanto, nada mais do que o conjunto dos seus atos, nada mais do que a sua vida.
                                           


a questão da autonomia



Autonomia: autodeterminação necessária para a aceitação de uma responsabilidade. Autonomia é um bem importante, essencial no reino dos racionais. É definitivamente algo insubstituível. Quanto mais equilibrado é o psíquico do individuo, mais autônomo ele é. A autonomia é o próprio exercício da liberdade. Paternalismo: Quando impedimos, com medidas coercitivas ou discursivamente, por meio de argumentação, alguém de exercer a autonomia sobre sua vida, decisões e comportamentos, em vista do seu próprio bem. Autonomia é a capacidade de decidir por si mesmo. É uma independência em relação à inteligência e a vontade que objetiva optar, escolher. É a liberdade individual.
A autonomia depende de fatores, tais como: a maneira como fomos educados,  idade psicológica, a maturidade adquirida por uma certa “experiência de vida”, condições psíquicas sadias, estado emocional mais equilibrado, saúde espiritual (pneuma), do modo como nos tratam aqueles  que nos são mais próximos, de quanto somos condicionados pela convivência, o ambiente. Ou seja pelo condicionamento natural e adquirido.
O modo como pensamos é determinado por muitos fatores. Talvez o que dizemos ser o nosso jeito de pensar pode ser simplesmente o jeito como nos acostumamos a pensar, talvez nunca tenhamos tentado descobrir novas formas de agir.
Depende do modo como somos formados. Somos educados. Depende da cultura, ou do desprezo dela. Depende de nossas crenças. De nossas metas, e se lutamos por ela.
Viver é adaptar-se. Darwin estava certo. Os mais fortes sobrevivem. E nem sempre os mais fracos são deficientes, contudo ser mais fraco nem sempre é aquele que sai primeiro da luta. Nem sempre o que se abandona é o que se despreza, quando se ama demais – e amar nunca é demais – até perder ganha significado. No amor se perde, e a perda faz morrer mas também morre. Transforma-se, não é impossível, em ganho de perdas. Se a única coisa que consigamos alevantar são derrotas, que sejam derrotas positivas, derrotas repletas cheias de significado-mestre.
O martírio, o suicídio altruísta é um caso típico. Ama-se tanto a vida, que se a valoriza. Valoriza tanto que a coloca acima de si mesmo. E a vida, só por ser vida é valorizada. A mesma vida que se manifesta no que a sente é a mesma que corre pelas veias doutros que nem a percebem. A vida colocada no pódio mais alto apaixona tanto, que para não mata-la nos outros, mata-se para não matar.
O ser humano que prefere morrer a matar a vida mais preciosa. A vida mais preciosa a carregamos conosco. Somos o tesouro do mundo. Carregamos o peso do mundo. O poder de salva-lo e de destruí-lo. O poder de regeneração e do indiferentismo. O poder de escolher viver e estar preparado para isto.Não é fácil. Qualquer um tem o direito de machucar-se. E há que se entender bem esse tal direito de que se fala quando se defende a auto-mutilação, o masoquismo, a escolha de se matar.
Não é um direito que se refira ao bem moral. Todos podem, mas não devem se ferir. Todos podem querer o mal para si mesmos, mas não podem obrigar ninguém a concordar com seus atos. Quem tem o dever de proteger o ser humano tem de enfrentar a difícil, mas correta tarefa de defender o ser humano de si mesmo, de defender a pessoa do mal que pratica a si mesma.
Aí está uma dor imensa; a de se ver num ciclo que de tão vicioso não tenha solução. O que é salvo do perigo aqui, de novo tenta contra sua vida ali. O salvador de um momento não pode o ser em todos os outros, mas fica sempre a consciência de dever cumprido, de ter feito a sua parte, de não ter ficado neutro quando a necessidade exigiu opções extremas.
Quem se mata por uma livre atitude desejada ardentemente, é como se zombasse de quem impediu ou impede sua morte. Não se mostra grato com quem “o salva”.  O suicida sempre tem o “direito” de se matar. O direito não é só opcional, alguns dirão que nunca se é obrigado a gozar de um privilégio. Sim, se falamos em obrigação pura e simplesmente, ninguém é obrigado a nada. Tudo é possível ao homem, mas nem tudo o convém, é mais certo ainda.
É o que chamaremos de direito de livre-arbítrio, pois cada um tem o direito dado pela natureza aos racionais e o direito moral, aquele mesmo que nos obriga a dele usufruirmos. O direito moral manifesta de maneira positiva o que a ética vai chamar de preceito. Se dizemos “não matar” isso uma forma de dizer negativamente a forma positiva: “preserve a vida, cuide dela, pois ela é um bem para você e para os outros, logo, preserve a sua e a dos outros”.
Aí é que está: a vida é um bem. É aí quando dizemos que o ser humano não deve se desvencilhar de um bem em vista de um mal. Não se escolhe o mal pelo bem que ele possa trazer. Os fins não justificam os meios.


A Obrigação-necessidade


A capacidade de transgredir regras para libertar. A lei sem amor escraviza, não liberta. A obrigação deve estar recheada de necessidade para ser observada. Se não é assim o homem não encontra interesse em o bem com esforço. Buscar-se-ia somente a facilidade do mal. O bem tem de ser recompensador bem mais que o mal para despertar o desejo de ser praticado.
Por exemplo: alimentar-se é um obrigação ou uma necessidade? Quem vem primeiro nesse caso, o dever ou o direito? Resposta: as duas coisas. É o que chamaremos de uma “obrigação-necessidade’. Não sou totalmente obrigado a comer. Posso deixar de comer por um motivo justo, como jejuar, ou então por um motivo muito bobo: anorexia por exemplo, bulimia, outro exemplo. Ora, para ser quem sou,  preciso comer, me alimentar. Isso é uma necessidade para mim; logo é também uma obrigação, sou de certo modo obrigado a comer. Pois todo direito é de certa forma uma obrigação. Quem tem o direito de fazer, tem também o dever de exercer esse direito.
Assim como não podemos comer só o que nos agrada, mas do que precisamos, mesmo que não tenha um gosto muito saboroso sempre, que pareça um pouco amargo demais pra engolir. É como remédio que amarga, mas cura. Se deixamos de comer por muito tempo, ficamos cada vez mais fracos. É como votar: muitos acham cansativo, inútil. Esses não têm idéia do bem que podem fazer votando. Sabemos, contudo que não basta apenas votar, tem-se que votar bem. Mas o fato de não votar já é um mal, pois nos tira do horizonte a possibilidade, não há prováveis possíveis, é o nada, o nulo, retira-se as “variáveis” da equação. A intenção torna-se ineficaz, simplesmente porque não se opera, não se age.
Ora, não só aquilo que pode ser feito tem que ser feito, mas tem que ser feito principalmente o que deve ser feito. Não se coloca a necessidade numa subjetividade possivelmente equivocada. Questão é saber quando o que tem que ser feito deve ser feito, por ser o melhor a ser feito. Não porque é possível, mas porque é o melhor. Esse é o erro da ciência de hoje que despreza conceitos éticos claros. Mas não nos confundamos, como o bom pode inimigo do melhor, é normal que o bem maior não seja a melhor opção sempre, mas o melhor sempre será a opção do menos ruim, do mal menor... Essa deve ser nossa preocupação...


os instintos


É um principio científico da biologia: “todos os seres vivos buscam a auto-preservação”. Essa é buscada tanto pelos racionais quanto irracionais. Não será, pois, o suicídio ato contra-natura? 
Temos três instintos primários na escala daqueles pertencentes aos seres de vida racional: o instinto de auto-preservação (conhecido também como de sobrevivência, ou de auto-conservação), o instinto materno e o instinto sexual. O instinto não é algo racional, no sentido de não ter origem na razão, e não no sentido de não racionalizável, cognoscível, inteligível.           É algo puramente biológico, animal, físico, presente misteriosamente nos genes do homem. É um elemento sobre o qual a psicologia se debruça. O instinto compõe a maravilhosa e complexa configuração genética da espécie humana, e como quase tudo no ser humano, se não tem origem na razão, pode ser regida, governada e desvelada, mesmo que parcialmente, por ela.
Mesmo os instintos não estão fora do âmbito de atuação a mente, pois em relação a ela, eles não obrigam absolutamente o homem a agir conforme seus impulsos. De certa forma eles não são coisas em ato, mas estão aí como uma força, uma energia que carrega em si potencialidades que podem receber atualização, se ativadas por um acontecimento ou circunstância relevante. Ou eles não atuam sempre, ou não os percebemos com clareza quando agimos por eles. Então é coerente – parece estar no campo da opinião e crença – senão melhor entender a atuação humana com uma cooperação entre essas duas forças, a saber: racional e instintiva. Existe o instinto de morte? O suicídio pode ser um instinto de morte? São realidades boas em si mesmas ou apenas úteis, e portanto, contingentes? Devemos sempre obedecer a seus imperativos?         



“Na verdade, existem, em todos nós, impulsos ou pulsões de vida e outras de morte: as primeiras levam a crescimento, desenvolvimento, reprodução, ampliação da vida, unindo a matéria viva em unidades maiores: já as pulsões de morte lutam para nos vencer, se observamos o individuo,pois todos os seres vivos terminam morrendo.Já do ponto de vista coletivo a vida continua, através de nossos descendentes. A vida, nas suas várias fases de desenvolvimento e involução,, até a morte, é o resultado da interação dessas duas pulsões. A própria pulsão de morte, mesmo lutando para levar o ser vivo ao estado inorgânico, também auxilia a vida, pois dela derivam forças que se manifestam por meio da agressividade. Esta permite ao individuo defender-se de forças externas e conquistar os recursos de seu ambiente. É como se a pulsão de morte defendesse a pessoa da morte por causas externas e , assim, obrigasse a se submeter ao seu comando, o que leva à morte natural. Mas, em situações de conflito, a força do impulso de morte se exacerba e mecanismos autodestrutivos entram em jogo,terminando por acelerar a morte, que deixa de ser natural e passa a ser provocada pela doença, acidentes ou atos inconscientes ou conscientes de auto-extermínio.” (CASSORLA, Roosevelt M. S. O que é suicídio, 2005, p. 14,15)


É Freud quem vai tratar do instinto denominando-o de pulsão como também algo a serviço da autodestruição. Existe sim para ele a pulsão de morte. É a partir da obra de 1920 “Além do princípio do prazer" que Freud começa a explicar o conflito humano como sendo, essencialmente, o conflito de Eros x Thanatos. Como Eros é a pulsão que conduz à vida e Thanatos é a pulsão que conduz à morte e destruição, faz-se necessário para ele haver equilíbrio entre as duas pulsões, impulsos, forças ou potências (vital e letal). Nas palavras de Chemama:


"É a da pulsão de morte, o triunfo do ódio e do sadismo. Também é o preço muito caro, sempre pago para sustentar inconscientemente uma posição de domínio, na alienação mais radical, pois o sujeito está até mesmo prestes a pagá-la com sua vida"                           (Chemama, 1995, p.10). vitória
                                                                                                     

Mas se o instinto de sobrevivência é uma garantia que a natureza pôs em nossos genes para a preservação da espécie, se á algo natural e próprio da natureza humana, o homem tem o direito de renegá-lo, deixá-lo em segundo plano? Substituí-lo por outro objetivo?
O questionamento parece sempre estar voltado à exigência do certo ou errado, da valorização axiomática. Mas nem sempre concordamos com isso, alguns agem como se o assunto não tivesse a menor importância, esquecem que é necessário para a moralidade humana, para justificar positiva ou negativamente suas ações. O “fazer ou não fazer” ainda é uma questão relevante no dia a dia do “ser homem”, porque não se deve agir levado somente pelo impulso do momento, não somente porque tal ato agrada, mas porque em si mesmo é bom ou mal, producente ou estéril, é pulsão de morte ou e vida, certa ou errada.
Tudo isso tem suas conseqüências ou para o bem ou para o mal do mesmo, por isso é de seu interesse refletir atentamente sobre aspectos tão importantes para a sua sobrevivência como sujeito universalizante: é o futuro não só do homem singular, mas no fundo é questão de sobrevivência de toda a humanidade. Pois uma idéia pode transformar o mundo, pode matar o mundo. Uma conscientização pode salvar a natureza, mas um desvio na consciência pode incitar o aniquilamento para sempre do mundo que nos sustenta, e por conseqüência, o suicídio de toda a humanidade.
É indiretamente posta em relação à verdade, à verdade das coisas em si,questão das relações e das realidades, das causas de uma e de outras.
Pode ser que para salvar alguém em perigo de morte, uma pessoa ponha-se em sacrifício em seu lugar, se lance em frente do revólver, mergulhe em águas tenebrosas, mesmo que não saiba nadar. Aparece de relance, instantaneamente, algo como “instinto de salvar vidas”. Não se pensa, age-se por impulso, é um ato impensado no sentido de não deixar brechas para o raciocínio complexo, longo e demorado. A situação nesses casos exige ações rápidas, espontâneas, de força arrebatadora. Mas mesmo que não tenha essa característica de cunho reflexiva para o momento exato, cada um age pelo que já vive, segundo o que acredita, cada um que se arrisca para salvar a vida doutros, age nesses momentos de decisão em conformidade com suas profundas convicções, herança de toda uma existência de respeito pelo outro, de uma preocupação não só por si, a ponto de ver no outro um igual e ou outro eu que merece viver tanto quanto eu, ou mais.
Vê-se nesse caso a substituição de um instinto por outro, ou por um elemento que não pertence ao plano traçado pelos genes. É que o instinto de sobrevivência nesses casos pode ser anulado ou ter diminuída sua carga decisória. O homem sempre terá a escolha, a “outra opção”. A liberdade o persegue aonde quer que vá.
A exemplo dos que escolhem viver sob o modo de vida celibatária, de castidade, o instinto sexual pode  ser sublimado em força e virilidade, amabilidade, altruísmo, ...
O homem pode dirigir suas potencias para as artes, para o filosofar, a contemplação das “verdades eternas”, de Deus ou da quase eterna descoberta de si mesmo, na busca incessante pela verdade de si mesmo. Sozinho, mas não solitário; com pouco, mas satisfeito, usando das coisas do mundo, sem tornar-se escravo delas. mas nunca vazio.
Será um aspecto peculiar do ser humano, em que ultrapassa os seus instintos, negando-os? Ser-se humano é ser-se filosófico? E quem rejeita refletir filosoficamente respondemos: que é filosofar? Não seria pensar com ordem? E o que seria a ordem senão aquilo que dá sentido e direção ao pensamento para encontrar e verdade sem mistura de erro? E rejeitar o filosofar não seria repudiar à própria essência humana racional, de pensamento e ato, teoria e prática, elaborar e executar, planejar e submeter ao teste, subjugar a experiência ao experimento? Pois se é verdade que o homem é animal que pensa, é verdade também que ele não poderá se esquivar daquilo que ele mesmo é: homo sappiens sappiens (homem que se sabe sabedor).
É irracional, portanto o suicídio (excetuando o altruísta), pois sendo ato da vontade, e sendo a vontade aquela que deve se submeter à razão, visto que o conceito que mais define o homem não é “o que quer e deseja”, mas “o que pensa” não pode ser só ela a ter a voz e vez, ou ao menos a última palavra. É incoerente se sujeitar a vontade quando esta está em oposição  ao que diz a razão, não em questão de opinião, essa não é da filosofia, mas do senso comum, tampouco é científica, visto que a filosofia é ciência, e não só é ciência das ciências.
Sim o suicídio é contra a natureza (contra-natura). A natureza não é autodestrutiva, mas transformadora (lembrar Lavoisier). Ela em seus elementos pretende a mudança não a aniquilação, pois até mesmo a aniquilação de uma estrutura orgânica (não no sentido de vivo, mas de uma organização) está sujeita a formar outros. A aniquilação não é fim em si mesmo, mas uma “forma de formar”, é um “meio de mediar”. Nem mesmo alguém poderá alegar para a defesa da autodestruição da natureza os buracos-negros, pois ainda falta muito conhecer sobre eles. e não é por falta de conhecimento que se pode afirmar algo tão taxativo, o que não  podemos ainda conhecer nesse caso não nos dá o direito de afirmar; só conjecturar. Quando a certeza vir, ele convencerá por si mesma, então nos calaremos.
Pois como pode a razão ordenar sua autodestruição?  O ser humano é acima de tudo um caçador. Ele é ativo, participante, dinâmico. Ele não pode nem deve ser escravo do desespero, da agonia e da aflição. Ele não é apenas animal, é espiritual. É a espiritualidade nele que o faz sair da vida ao menos com honradez e sobriedade, mesmo se humilhado, não sai cabisbaixo, mesmo miserável não se arrepende do que fez de certo, mesmo enfraquecido, não se dá por aniquilado, mesmo ferido, não desiste, morre lutando, morre tentando, morre consciente do que é, a que veio, por que não conseguiu, ele persegue seus sonhos, tem suas metas, e sabe que é possível pois as armas que criador lhes deu são mais do que suficientes para seus intentos: vontade firme, liberdade, inteligência criadora e transformadora com potência para captar o complexo no simples e a simplicidade na complexidade, capacidade de amar o diferente e a seus semelhantes,
Se não encontra saída por aqui, simplesmente dá um jeito, e não dá um jeito simplesmente porque quer muito, pois querer nem sempre é poder, mas porque pensa as possibilidades e as submete ao experimento. E o que falta à inteligência, sobra nos instintos, e o de auto conservação não depende da vontade. Também não depende da razão, mas pelo menos não contradiz à razão esclarecida.


A compreensão que o suicida tem da morte[30]


O “homem comum” entende o suicídio como a forma mais taxada de medo, envolto de revolta e incapacidade de levar a vida à frente. Para este, então, o suicida não é mais que um covarde. O suicida tem uma concepção diferente. Ele se defende dizendo que os que não tem a determinação de definir o dia de suas mortes é que são covardes. Quem está com a razão?
O suicida faz a morte ter parte na vida. Para ele, ser ser humano é nascer, mas é também morrer. A morte faz com que sejamos o que somos. Pois como analisou Sócrates: todos os homens morrem, e acrescentamos: “não é homem quem não morre”. Como dizia o filósofo: “Por que temer a morte? Quando estamos, ela não está. Quando ela vem, nós já não estamos” ou como o personagem Hamlet, de Sheakspeare: “Se está para vir, não é a hora. Se é a hora não está para vir. Se esta não é a hora, virá de qualquer modo”.
Há muitas formas de morrer[31]. Mas há poucas formas de viver. Morrer é fácil, qualquer um pode. Viver, poucos conseguem. Os mais fortes sobrevivem. A vida é luta de fortes. Mesmo que nem sempre os melhores vençam. Dizemos: encontre um jeito de viver. É isso que deve ser buscado, incessantemente. Não de qualquer jeito, mas o melhor possível, mesmo que seja forçoso, laborioso. E diríamos certamente: “Tenha o melhor, e não só o que se pode. Morrer todos conseguem, os que perseguem a morte ou dela fogem. Viver nem todos, mesmo querendo e lutando”.
O poder de nossas vidas nem sempre depende de nós, que o digam os acidentes mortais. Também a intervenção de outro pode acabar com a trama da vida de alguns.
É preciso viver enquanto se pode. Porque não se pode viver pra sempre aqui. E nunca é possível viver de uma só maneira. Tempestades sobrevém e se vão. A inconstância é praxe, não exceção.  A própria natureza pôs em nosso organismo, em nosso psiquismo o temor da morte. Aliado a isso, para sair da vida há que se enfrentar a dor. Tudo isso dá sinal de que, uma vez vindo ao mundo pela dor, também se sai dela pela dor. E além disso que o Criador não desejou que saíssemos da vida por qualquer motivo, com facilidade. Quem foge da dor, foge da morte, pois morrer é sofrer. A morte como ausência da vida é ausência de bem, pois a vida é um bem, seja qual ela for.
Por outro lado, a morte é o ente mais desconhecido nosso. O medo do desconhecido não conhece par em face da morte. Ela inspira o cuidado, a prudência, a noção de aniquilação. Não teríamos a noção de recompensa eterna pelas ações neste mundo - que as religiões propõem - se não fosse pelo que o significado da morte pode representar para nós.
As pessoas têm medo da morte principalmente pela dor que isso pode causar. Não, nunca é só isso. É um mergulho, um mistério abissal, contínuo, infinito. Não se sente, não se pressente, nem se consente, nada se permite, nada se faz. É neutralidade, inatividade, é passividade absoluta. Lembra tudo o que remete ao nada: escuridão, frio, ausência, abismo, imensidão sem horizontes, um caminho sem volta, um arrebatamento sem percepção das diferenças entre o estar e o não-ser aqui.
Contra ela criamos mecanismos de defesa, para destruí-la diminuímos seu poder; para aniquilá-la, difamamos quem nem conhecemos. Algumas religiões falam muito do que nunca souberam com clareza e tentam desmistificar a morte. Sugerem caminhos contra, caminhos possíveis depois dela, mas o fato é que ninguém dela pode afirmar muito. Pois só temos condições de saber o que acontece antes dela, e a única coisa que sabemos depois dela é o que ela pode fazer com o corpo. Mas depois da morte o que ocorre com o corpo é tarefa da vida natural: transformar, parasitar, mudar a morte de um em vida para outros. E nossa morte ocasiona o nascimento de insetos e vermes em centenas. Como diria Lavoisier: “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. E a vida que se vai faz surgir outras que ficam.
A morte será sempre morte “para”. Não sabemos o que é morrer[32]. A experiência exclusivamente individual é símbolo da vida. Só temos de conviver na vida. A morte não será partilhada. Se quisermos algo só nosso na vida, teremos que nos render à morte.
A morte é vitória para quem não acredita na vida. Para quem não confia no ser humano. Mas assim como a vida, o homem é o ser do possível. E se tem um animal que entende, sabe construir um mundo possível, e nisso queremos dizer um mundo mais otimista, esse é o homem. Só quem não aposta no ser humano desiste da vida. E apostar no ser humano é apostar em si mesmo. Pois só quem desistiu de si mesmo é que pode abandonar a vida.
Certamente alguns terão que aprender da vida o que da morte se pode ter. Na vida se pode ter, se pode querer e se pode ser. Na morte tudo isso é nulo, é ponto zero. Vida é movimento, atitude, potencialidade, virtualidade, certezas e apostas, dúvidas e dogmas, sentir e saber, ver e enxergar. A vida do ser “que pode ser”, porque já é, não pode deixar se ser sem realizar. Realizar é tornar seu o que a natureza empresta. se a vida é movimento, ninguém será feliz totalmente se não sair de, sair de si.  Ir de encontro ao outro, pois o outro é um “outro eu”.



A opinião da religião: A fé em Deus e o suicídio
        

O tema do suicídio sempre esteve em pauta no discurso filosófico. Não é algo novo, e nunca cessará, e enquanto a humanidade respirar sempre pensará sobre o valor da vida e da morte, sobre o “ser ou não-ser”. Isso é bom, pois uma vida sem reflexão é uma vida sem motivação. Descobrir a necessidade de descobrir o sentido, direção e a saída certa para o sofrer: dar significação ao sofrer foi o que muitas religiões fizeram. Ou o evitam, ou o promovem como necessário, senão inevitável para a salvação pessoal. Nesse caso, é entendido como algo que deve ser convivido, suportado.
Mas não foi a só a filosofia que tratou do suicídio, a religião em geral sempre colocou o problema em pauta. Afinal, o suicídio é o primeiro grande pecado: “Em contrapartida, o trabalho e a religiosidade seriam o remédio para aliviar aqueles que sofrem e pensam em libertar-se deste modo”. (Cheyla Toledo Bernardo).
A morte do desejo, que passa a ser reprimido dia após dia, dentro do sujeito cresce mais quando é mais reprimido. É como o ar que quanto mais se comprime, com mais pressão fica. Quanto mais se sufoca o desejo em mais destruidor ele se transforma. Esse desejo reprimido gera e alimenta a raiva, o ódio a tudo o que representa obediência, obrigação, tudo o que lembre necessidade de ser posto em uma fôrma, e submeter-se.  Há mortes suicidas de pessoas que simplesmente não aceitam o mundo como ele é, sentem-se profundamente incomodados com a crueldade com que a vida trata a outros, seus semelhantes, estejam estes perto ou longe, ainda que eles mesmos não passem por grandes necessidades.  Esse é o drama vivido por muitos jovens de espíritos altruístas, que não suportam, nem compreendem a perversidade do mundo, com os fracos, menos favorecidos. Nessa situação nem mesmo a analise histórica que explique as razoes por que este o aquele país vive na completa miséria basta para convencer, ou para diminuir dor em seus corações, a tristezas em suas almas.
Sim. O mundo precisa ter um sentido, a vida exige uma direção para prosseguir. A crise do mundo que se mata pouco a pouco é a falta de fé, e não somente numa fé religiosa, mas um acreditar no possível, na razão e no futuro. Quando se tira Deus dessa luta pelo significado do mundo além do próprio mundo, pouco se avança na compreensão e acima de tudo necessário e desafiador da aceitação da vida como ela é, sem nunca calar diante de uma injustiça, de nunca deixar de entrar numa briga pela justiça quando se é responsável por isso. Pois o fato é que em cada omissão consciente, tão diversas quantos desconhecidas e maléficas são as seqüelas;  as vezes irreparáveis. Sempre males incuráveis.


“Só se desespera quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a Vida humana, com relação à Eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o que não crê na Eternidade, e julga que com a Vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias” (Rogério Coelho)


Se essa vida não vale a pena ser vivida[33], e se o mundo melhor possível é um céu longe de nós, do outro lado, covarde é o que fica, corajoso é o que dela sai e vai-lhe ao encontro dessa existência sem igual. Para o homem de fé, o mundo é mundo das dores, um vale de lágrimas, no qual já se vivencia o inferno. Tudo é passageiro e fugaz. O mesmo mundo não tem em si a razão de sua existência, não se sustenta a si mesmo: é “figura do mundo que há de vir”.
É próprio das religiões a idéia de um paraíso em outro plano de vida, num mundo além-morte. Ser virtuoso é passar pela vida como quem faz uma prova. Viver aqui na terra é o “grande teste” para os que desejam ser totalmente felizes do outro lado, pois a felicidade absoluta não existe nesse mundo contingente. O mundo das idéias platônico pode ter face para algumas religiões de um jardim das delicias eternas, ou figurar como um mundo igual a esse sem os males deste.  De qualquer modo, a idéia que prevalece é de uma missão a cumprir, de um carma de um passado imperfeito a pagar. Habitar e conviver aqui é um tirocínio mortal, quer se acredite em uma vida a viver ou em muitas delas, pela reencarnação. Se não existe essa idéia de missão, ou de carma, facilmente o fiel quer apressar sua ida. Para isso não ocorrer, é preciso algo que nos amarre aqui, à vida. Tem que haver, e deve haver algo importante que recompense tanto sofrer, que justifique o viver.
Para justificar os sofrimentos por que cada um deve passar, pois cada um deve “carregar a sua cruz”, fala-se de uma eternidade inteira de prazeres com 700 virgens, de uma estada de plena satisfação espiritual com ou sem a presença de deuses, quer seja na total dispersão do Nirvana, ou diante da contemplação da face divina, na visão beatifica do Criador. O fato é que “as dores do tempo presente nem se comparam com a glória do tempo que há de vir” (são Paulo, apóstolo).
Para os que crêem a morte não é tão horrenda. É uma amiga que faz aproximar-se mais de Deus. A morte é só uma porta que dá acesso á felicidade. Matar-se seria, por outro ponto de vista, o caminho mais rápido e até menos doloroso para partir. Se o suicídio não fosse pecado, certamente testemunharíamos suicídios de religiosos e religiosas aos milhões.  Pois que outro motivo teriam eles para não se matar?
O regresso do homem do além-vida, no nascimento, deveria ser pleno de realizações o mais possível, tanto em beneficio próprio quanto do próximo. Alguém diria que não viemos aqui para voltar de mãos abanando, não devemos trazer as mãos vazias, e o coração, idem.
A felicidade delicia os olhos, mas nem sempre a carne. É como o horizonte que está nos olhos de quem o contempla, mas não no corpo que o deseja.  Parece perto, mas não pode ser perseguido sem que sua figura se afaste mais e mais.
E os homens podem recuar pensando que o horizonte o persegue como um dependente. Mas se engana. A alma de um grande homem nunca se precipita nas aparências, nem se contenta com a superfície: procura sempre as profundezas.
Sobretudo, para não desesperar, é preciso apostar no ser humano, acreditar que é possível não ser mais um na engrenagem do universo, mas dar significação ao seu sofrer.


(...) porque o sofrimento? Sendo um mal positivo para o individuo, deixa de ser compensador e torna-se incompreensível a partir do momento em que o individuo é a medida do valor das coisas. Para o crente em comunhão total com sua fé, para o homem fortemente embrenhado nos laços de uma sociedade familiar ou política, o problema não existe. Por eles próprios, , e sem refletir, contam o que são e o que fazem, um à sua Igreja ou ao seu Deus, símbolo expressivo dessa mesma Igreja, o outro à sua família, o outro à sua pátria ou ao seu partido. Em seus próprios sofrimentos só vêem meios que poderão servir para a glorificação do grupo a que pertencem, e rende-lhe homenagem. É assim que vemos os cristãos chegar a ponto de amar e de procurar o sofrimento para melhor provar o seu desprezo pela carne e aproximar-se mais do modelo divino. (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008. p. 224)


Ganha significado aquela existência que não basta a si própria. Que doa-se, que se desgasta, que esta disposta perder para depois ganhar cem vezes mais. Nesse sentido é preciso não ver só com os olhos da face. É preciso enxergar com o coração e quando estes não souberem mais para onde ir, deixar-se guiar pelos olhos da fé: esse é o terceiro olho, “a visão além do alcance”.   O mundo não somente necessita urgentemente dela, mas ele a esbanja a cada instante. Está no homem, pela força de sua inteligência e grandeza de espírito a solução para o problema da fome, e das guerras que virão.
Mas o que se mata não se mata pelo mundo que virá, se mata pelo que o mundo se transformou. Mas ele nunca deve esquecer o caminho da possibilidade. Pois os homens que o fizeram tiveram lugar no governo dele, o homem pode se corromper facilmente, parece inclinado, sim, mas não quer dizer que ele está condenado a assim permanecer. Durkheim, dizia: “Se a vida não vale a pena ser vivida, qualquer coisa se torna pretexto para nos desvencilharmos dela”. (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008. p. 225)


nas religiões do oriente [34]


No budismo[35], para ser feliz, é necessário abandonar todos os desejos. Esse é o caminho mais acertado para um budista. Assim o budismo prega algo contra a natureza. Sua ascese é absoluta. A vida do virtuoso deve ser de equilíbrio. Se esta é um trabalho difícil, mais valoroso é. Maior sacrifício não está em não querer, mas em não ser domado pelos desejos e dele ser escravo, usando deles.
Sobre o hinduismo antigo Durkheim afirmou: “No hinduismo, o costume de procurar a morte nas águas do Ganges ou dos rios sagrados estava muito difundido. As inscrições mostram-nos reis e ministros que se preparam para acabar deste modo com os seus dias”.


         o suicídio e o mundo Islâmico


Maomé diz que o homem só morre quando assim o determinar a vontade de Deus e o livro que fixa o termo de sua vida. Quando o fim chegar, ninguém poderá atrasá-lo ou adianta-lo em um só instante. “Determinamos que a morte vos ceife um a um, e ninguém poderá apressar nossa decisão”. A idéia que guia a vida dum maometano é a de submissão a Deus através da obediência à sua vontade suprema. O suicídio, portanto, seria a maior insubordinação e revolta contra Deus, pela rejeição de seu maior e primeiro dom ao ser humano: o dom da vida. Uma falta grave ao dever fundamental: devemos proteger a vida como gratidão ao Deus Criador.
Islâmicos rejeitam a tese de que a religião islâmica garante certos privilégios no paraíso. Já para os fundamentalistas, em particular para os mártires da Jihad, existe a crença fanática baseada numa interpretação distorcida do Alcorão de que sua morte será recompensada no céu e na terra.



Os homens-bomba[36]


A ação dos homens teve início em meados do século XX. Seu auge foi no 11 de setembro de 2001 com o atentado ao EUA, Torres Gêmeas, Wold Trade Center.[37]
Para o psicólogo Raymundo de Lima, professor do departamento de Fundamentos da educação da Universidade Estadual de Maringá, os ataques suicidas antes noticiados como gesto de fanáticos, após o 11 de setembro de 2001 foram reconsiderados como um ato mais ou menos racional e imprevisível.
Em seu artigo o suicídio-espetáculo na sociedade do espetáculo publicado na Revista espaço acadêmico[38], lima destaca a importância e as proporções que a mídia tem na ação desses terroristas: “O megaterrorismo deve ser visto também como um suicídio espetacular do sujeito que é representante de uma cultura dentro de uma sociedade globalizada que faz do espetáculo a sua estética e ética de vida” e continua mostrando a mudança que sofreu o gesto suicida de solitário e anônimo para um ato público, divulgado por todo o mundo. “o ator do gesto suicida atua como se fosse personagem de uma tragédia, como que uma lei acima dele o empurrasse para o ato final (...) Como o sujeito de nossa época não mais acredita na idéia de revolução, deixa-se levar pelos ventos da paixão mística ou niilista, usando a morte do próprio corpo para expressar sua revolta contra um mundo sem coração. Morre o corpo para viver o transcendente”.


O ESPIRITISMO


O Espiritismo Kardecista prova que o nada não existe, que o sujeito sobrevive ao túmulo, que ao buscar o nada o que o suicida quer é simplesmente negar a continuidade do sofrimento. É de ponto crucial da doutrina espírita a crença na continuidade da vida sob outras formas. Pela reencarnação, o corpo não é o mesmo, mas as dores do passado acarretam seqüelas neste mundo pela sobrevivência do mesmo espírito reencarnado. Quem se matou na outra vida, pode esperar tormentos nesta, por causa de seu ato contra a vida.


“A vida além da morte caracteriza-se pela continuação do homem com todas as suas características: moral, inteligência, angústias, problemas, dores, felicidade. A única coisa que o ser deixa na Terra é o corpo e seus bens materiais. Desta forma, ao tentar fugir de um sofrimento através do suicídio, o espírito percebe que, além de nada ter adiantado, ainda perdeu a oportunidade que tinha de conquistar coisas boas enquanto estava no plano terreno”. (Cheyla Toledo Bernardo)


Dr. Jorge Andréa no livro "Enfoques Científicos na Doutrina Espírita" abordando essa mesma temática tece as seguintes considerações:  


"O homem moderno materializou-se, exaltando a deusa - máquina e o deus técnica, não percebendo a fragilidade desses totens de barro. O deus em que confiou e acreditou esboroou-se ao menor dos ventos. Não acontecendo o mesmo com aqueles que asseguram os seus alicerces psicológicos - emocionais numa ética valorosa que o espiritualismo pode oferecer; e mais ainda, numa fé lógica, harmoniosa e inteligível por ser raciocinada , aos que se acercam do estofo dinâmico que caracteriza a Doutrina Espírita. O suicídio , como resultado de um imenso desequilíbrio emocional poderá ser um ato voluntário, porquanto existem outros fatores que concorrem para um suicídio lento despercebido e por isso, considerado involuntário, ou seja, suicídio consciente e inconsciente”.                         Andréa, Jorge - Enfoques Científicos na Doutrina Espírita


A idéia forte do espiritismo nesse assunto se refere à responsabilidade pessoal, o individuo tem como missão a expurgação dos seus males passados, na vida anterior. Matar-se nesta é piorar as coisas, é deixar o trabalho pela metade ou abandoná-lo de todo. O espiritismo se mostra, assim, um poderoso antídoto contra o suicídio.


"A Ciência Espírita ensina que, pelo suicídio sempre se perde o que se queria ganhar. O suicídio é o corolário da covardia moral, que por sua vez é o resultado a que leva a incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro e as idéias materialistas." (Allan Kardec)[39]

O cristianismo:
uma proposta em favor da vida


Não é somente a ultima alternativa, não é a menos sábia, é singulamente o pecado primeiro contra a bondade divina e é desconfiança na misericórdia e providencia divina. Contra este mal tudo deve ser usado. Conscientização, estimulo da personalidade sadia, uma vida mais dedicada aos outros e a si mesmo, não negligenciar quem se ama, buscar ser útil, ser presente na vida de outros. Não há antídoto maior contra o suicídio que uma amizade verdadeira. Esforcemo-nos por adquiri-la. "Saber ouvir os problemas da pessoa". Conhecidos os problemas, usar as armas disponíveis pelo próprio indivíduo para que tais problemas sejam superados. É evidente que em tal atendimento entra a Religião como impulsionador maior: a Religião Cristã, que manda servir desinteressadamente o próximo.
O suicídio é condenado pela Igreja[40]. Nesse sentido não poderemos por para a par a Igreja católica e as demais congregações cristãs surgidas ao longo dos séculos da era cristã. A opinião da Igreja, com exceção do suicídio do tipo altruísta, como o martírio é de que d acordo com o princípio geral católico coincide com o de outras religiões monoteístas: Islamismo e Judaísmo. Só Deus, que a deu ao homem, é quem pode tirá-la. Agir de modo contrário é revoltar-se contra o Criador, é insubordinação. O pecado cometido é de ingratidão, possível blasfêmia e desconfiança.
Hoje em dia, no entanto, não recusa o sepultamento eclesiástico e os funerais públicos aos suicidas. Houve desde o novo código (? Data) um abrandamento...
A solução católica para o suicídio no sentido de precaução é de aconselhar mais vivamente os valores cristãos e as virtudes humanas e divinas: com a inclusão insubstituível da cruz do Cristo e do Cristo da cruz. É a configuração que o fiel há de se esforçar por alcançar para levar a sua cruz ciente de suas fraquezas, de suas imperfeições e incapaz de resolver todos os problemas da vida. Também para Cristo maior amor não podia haver que entregar a vida por amor de um irmão, amigo ou um “filho de Deus” que sofre. Pôr-se no lugar daquele que vai morrer é prova do maior amor. Segundo a crença cristã, ele mesmo fez este sacrifício na cruz, entregando sua vida pela dos pecadores.
Ele mesmo se configurou com as dores da humanidade, e se ele chama os seus seguidores a fazer o mesmo não é porque goste que estes sofram, mas porque pode ajudá-los a carregar fazendo com que as dores diminuam, sem anulá-las. De modo que não são os problemas que na maior parte da vezes é diminuído, mas o sofredor que é fortalecido, que sai vencedor, não porque venceu sempre, mas porque soube até perder com dignidade sem rebaixar o semelhante, nem se desesperar da fé, de Deus e de sua dignidade inerente ao seu próprio ser dado por Deus mesmo. Eis a sua dignidade: em ser filho de Deus, feito à imagem do Criador. De modo que como um pai, não acaba os problemas dos filhos mas os ensina a passar sobre eles, entre eles, ilesos ou não, até humilhados aparentemente, mas sempre com caráter firme, sustentado pela certeza que o Deus que tudo vê se compadeça de seus esforços.
De modo que Deus luta em favor dos seus filhos não fazendo tudo por eles, em lugar destes, mas lutando quando ninguém mais consegue, por já ter lutado até o limite de suas forças. Uma idéia chave na teologia católica é de que “Deus não permite que sejamos tentados acima de nossas forças”. A ao pedir algo, não pede o impossível. Por outro lado, o individuo não deve penalizar-se exacerbadamente por ter cometido atos imorais e vergonhosos através do suicídio. A maior prova de que se está arrependido é buscar uma forma de reparar o mal cometido ainda vivo.


Os mártires


Nem sempre se viu o martírio como um suicídio. Era mais visto na Idade Média pela Igreja como um desprezo da corporeidade em favor da alma, da ascese em lugar da carne, dos desígnios do mundo e dos poderosos. Era, portanto, uma reação de cunho espiritual que não visava a morte em si mesma, mas a salvação da alma frente ao pecado da apostasia, por isso não configuraria morte por suicídio. Era inevitável diante de uma escolha que não advinha de uma vontade pessoal, mas de uma imposição externa: forçados a abandonar a fé pelos imperadores romanos, por exemplo, alguns santos cristãos se viam na necessidade de escolher viver e se submeter a um novo culto ou a um novo deus (o próprio imperador exigia de seus súditos o tratamento devido somente a Deus) ou reafirmar a sua fé em Deus e no Cristo, com todas as conseqüências que isso poderia exigir, mesmo que tivessem de morrer para isso.
O fato é que, ao tentar eliminar o cristianismo da face da terra, o que os imperadores romanos fizeram foi aumentar ainda mais a força e agregação dos primeiros cristãos. Suas mortes, como amostra de coragem e determinação, na mais alta entrega da vida inspiraram outros a seguir a fé, a doar a vida “a Cristo e aos irmãos”.
Alguém por exemplo que se inscrevesse para lutar nas guerras santas de tomada de posse das terras sagradas do oriente, contra os muçulmanos, não seria nunca taxado de suicida, mas simplesmente de “soldado de Deus”. Isso porque existia a chances iguais de viver e morrer. Esse critério nos faz julgar também que a nenhum soldado atual deva ser oferecida a alcunha de suicida.  


Considerações finais


É certo que nenhum homem deveria fazer de sua vinda ao mundo uma experiência infrutífera. Todos temos potencialidades que precisam atualizar-se em frutos de generosidade, gratuidade, e benevolência. É o que diria o conhecido São Francisco em seu canto-oração: “Senhor, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado, compreender que ser compreendido, amar que ser amado; pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para a vida eterna”. Alguns não querem viver. Porque como diz a música: “A gente não quer só comida.              A gente quer comida e felicidade. A gente não quer só comer, a gente quer comer e fazer amor...”.


 Em casa, enquanto minha mãe cozinha, eu me deixo distrair pelas crianças. A Marianita caçou um pardal e o colocou na gaiola. Digo-lhe: “ele vai morrer”. Diz: “Não vai morrer (...) coloquei comida para ele”. Que é como jogar na minha cara que quem tem o que comer, vive. E aí falha. Ao meio-dia, observo sem pássaro a gaiola de Mariana, e a incito a que me conte. Pergunto-lhe, simplesmente, se voou; ela grita: “seu malvado!”, foge e se nega a almoçar (...) Depois penso na morte do pássaro, porque é verdade que quem come vive, mas também é verdade que quem não come não vive, e o pardal prisioneiro não come, o que o levou a não viver. E essa foi a falha da criança: acreditou que todos querem viver, que basta que se coloque comida na frente.  (Antonio Di Benedetto, Os suicidas, p. 113 – 114)


Que não basta ser abastado, que é preciso algo suficiente para preencher todas as lacunas de uma alma sedenta de completude, de exatidão e profundidade, mesmo que por pouco tempo. Uma pessoalidade necessitada de outro alguém, de se entregar, de compartilhar dores e alegrias, de ter uma estrada juntamente trilhada a passos de simplicidade, mas repleta de significados e profícua.


Aliás, é interessante notar que a maioria dos seres humanos, e na maior parte do tempo, vive como se fosse imortal. Existem, (talvez felizmente) mecanismos mentais que impedem que tenhamos consciência permanente de nossa finitude. Poucos homens percebem de uma forma clara que existe a passagem do tempo e se permitem aproveitar melhor a vida, deixando de se desgastar com pequenas coisas. Alguns tomam essa consciência após crises, doenças graves, proximidades da morte, guerras, etc. que os que fazem reavaliar a vida. Muitas vezes, a percepção da finitude permite que o individuo possa perder ou sacrificar algo (que então deixa de ter tanto valor) em função de interesses maiores, de sua família, grupo ou de toda a sociedade. (CASSORLA, Roosevelt M. S. O que é suicídio, 2005, p. 14, 15)


O pensamento absoluto está num plano de não-atividade. Contemplação, meditação, reflexão são sinônimos da não-ação. Refreia-se o operar externo, abre-se a janela interior. Volta-se para dentro: é reflexão! Por isso o pensar, num certo sentido, é não agir, não ter movimento. Pensar é de alguma forma um morrer: não poucos crêem nessa proposição. Viver aqui é viver sob a condição do tempo e lugar que aprisiona. O pensamento é liberdade, porque é espiritual acima de tudo; não é material, não é físico. O mundo do pensamento não tem fôrma, é potencialidade. A vida no mundo se dá no tempo e no espaço.  Pensamento é atemporal e não tem lugar de realizar-se. Faz-se quando livre ou cativo, na agonia e na benfazeja. Dormindo ou desperto. 
Mas não existe reino absoluto do pensar. Pensar o mundo é experienciá-lo já aqui. Mais que o só pensar é viver.  Mais que o simples viver é viver racionalmente. Dar-se motivações, construir trilhos para poder seguir em frente: isso é o que a razão faz. Planejar, prever, prevenir, prover, arriscar e vê o que acontece.
Entregar-se a um filosofar eterno é não viver. Filosofia é acima de tudo a vida do filósofo. E filósofo de verdade é acima de tudo o filósofo da vida. Pois a vida do filosofo é o seu pensar. Ele é alguém que não só vive; reflete o viver seu e dos outros, e assim ajuda os outros.           É arauto da verdade, deve estar sempre um passo a frente, pois o pensamento já o colocou na linha de frente contra o engano do mundo e de si mesmo.
É pequeno o número de pessoas que se matam por razões de âmbito universal, motivados diretamente por questões relacionadas com a filosofia, doutrinas filosóficas ou ideologias vigentes. Perguntar-se sobre sua própria existência sem ter como único momento o insuportável sofrimento individual, subjetivo, é raro. O ser ou não ser.
A reflexão sobre se a vida vale a pena ser vivida, que para Albert Camus, é o primordial questionamento filosófico não é realizada por muitos. Pode-se dizer por exemplo que um iletrado, um rude, homem simples valoriza mais a vida que um filósofo suicida. Pode ocorrer é simplesmente que o que a mente sugere é o barato fruto do labirinto da razão, o cárcere da alma, a consciência distorcida, o cerco sem volta, o circulo vicioso da psique.
A mente que duvida de tudo é perigosa tanto quanto aquela que a tudo crê saber. Ambas não existem nesse mundo. O que diz não crer em nada é mentiroso. Tanto o que diz nada saber, não sabe de mais uma: que de algumas verdades sabe. Pois se não fosse, como viveria num mundo tão incerto? Se este mundo é confuso para os sábios, imaginemos para os mais ignorantes se de algo não soubessem.
A tristeza, o desespero é coisa nossa, pertence aos homens. Não estão nas coisas que tocamos ou sentimos. Somos nossos próprios carrascos, e muitas vezes desistimos de dar a nós mesmos alforria devida.


Não é olhando unicamente para si que poderá encontrar motivos que o levem a interessar-se por outra coisa alem de si próprio (...) Só se pode agir se se estiver integrado no mundo; pelo contrario, para pensá-lo é necessário que não esteja confundido com ele, de forma a poder contemplá-lo do exterior; e com mais razão isso é necessário para se pensar a si próprio. Portanto, todo aquele cuja atividade se concentra no pensamento interior torna-se insensível a tudo o que o cerca. Se ama, não é com o fim de se dar, de se unir em uma união fecunda com alguém que não é ele; é para meditar no seu amor. (DURKHEIM, E. O suicídio, 2008, p. 305)


Sobre os traumas, não é possível viver bem visando só o que fizeram de nós, mas o que fazemos de nós mesmos. Somos construtores de uma casa cuja fechadura só se abre por dentro.
Como pode alguém dizer que vai se matar porque buscará o bem-estar noutro plano, em resumo, a felicidade? Pois de que adianta ter a felicidade sem dela poder gozar? No final das contas, não sofrerá, mas também não gozará. E o que é ser feliz senão gozar de felicidade?
A vida é como o matrimônio: ninguém se casa pensando nas ciladas a dois, não se pensa nas penas, só nas recompensas, não nas dores, só nos amores, nunca no medo, só no apostar, se arriscar, enxergando só o lado otimista das coisas, não que sejam maioria, mas momentos de felicidade superam com louvor dezenas de tristezas. Vive-se por eles, não por elas. Por elas se morre. Mas morrer é um destruir-se, destruição é um mal, mal qualquer um pode fazer, o bem nem todos, quem o consegue é herói, quem o tenta é já um vencedor, quem o deseja, é um sábio, quem o pratica, já está na glória.
Quem pensa em ser feliz, não busque a “sua” felicidade. Ela não está em nós, nem nos pertence, mas está nos outros e pertence a outro. Não pertence ao coração que a deseja, está no que ama. Como “diz o ditado há mais alegria em dar que receber”. Pois ser feliz é fazer outros felizes. Esse é o sentido da vida e de nós mesmos. O sentido de nós mesmos está em agradar outro. Ninguém é feliz sozinho. Amar é partilhar. Também a dor partilhada é dor diminuída. Sonhar é sonhar com alguém. Ser alguém é ser alguém com outro alguém. Ser homem é ser “outro homem”, renovar-se sempre. Como diria uma lenda antiga, fomos feitos aos pares[41]. Ser um, é somente dizer que existem demais.
Completude não é só o caminho, é o combustível da vida harmônica.
A carga significativa do ato suicida revela clamores, vontade de gritar e ser ouvido, chamar a atenção para uma causa, entrar nas mentes, instigar a reflexão, dominar a situação tomando o controle no qual a melhor forma de ser o primeiro é descontrolar-se. Ora, os que se sentem invisíveis na multidão, anônimos sem amantes[42], olhos sem objetos que atraiam estes desejam no mais profundo serem notados, percebidos, celebrados e até honrados, nem que seja depois de mortos. Dramaticamente, a procura da atenção de quem fica (dos vivos) é um alimento tão atraente que o desejo demora para ser abandonado na mente suicida. Deixar uma mensagem parece ser um método eficiente para aquele que, ao menos na morte, não quer permanecer sozinho. Senão para quê comunicar-se, para quê deixar cartas e bilhetes?
É lamentável que os jovens almejem tanto sair da vida[43]. É triste ter só as seqüelas e feridas de guerras sem nunca ter de verdade lutado nela. Ainda inexperientes, sem serem provados no fogo da vida, não conseguem ao desistir dela cauterizar nem cicatrizar, estancar a dor. Não cria imunidade suficiente. O adolescente jovem com o suicídio jovem tem e saber que nunca experimentará o sabor de superação e vitória, tendo enfrentado lutado em campo de batalha. Agindo assim, perde-se a oportunidade de aprender e ensinar a outros os atalhos, desvios, medidas certas, oportunismos, artimanhas, as armadilhas na via e as tábuas de salvação.
Ora, se como diria Terêncio “Nada do que é humano me é estranho”, o sofrimento humano deve ter valor perante Deus e deve ter em relação também a todos os homens. Que ninguém diga para um desesperado que sua dor é sem motivo, que seu sofrer é sem razão, que ele não tem porque chorar.  Mas que também não o instigue, se omitindo e se permitindo dar a outros o que não se quer para si mesmo.
Para alguém se propõe a abandonar a vida[44], não sem antes analisá-la bem, um sintoma de que a culpa não é só dos “outros” é primordial: se na vida se conquistou bons amigos, para não dizer um “amigo de verdade”. Pois quem o encontrou, encontrou um tesouro[45]. Um amigo de verdade é o melhor antídoto contra a “morte auto-infligida”. Não vale a pena ir embora se sem antes gozar deste bem valioso.
Quando há real amizade entre os homens, não existe também mais lugar para o “meu” e o “teu”, tudo é partilhado no “nosso”. É pela doação ou, melhor traduzindo, o amor como “oferta de si” que se atinge a felicidade duradoura e não somente a aquisição de “momentos felizes”. Isso porque o homem é um ser aberto à comunhão (entendida como “união em comum”) por sua própria natureza. Como diria o poeta: “o amor é relação”.
Não é por menos que a filosofia personalista se preocupou tanto com as implicações filosófico-sociais dessa relação “eu-tu”. E. Mounier, maior expoente dessa corrente filosófica, afirma com muita propriedade : o “eu não existe, senão na medida em que existe para o outro, melhor dizendo, SER é AMAR”.
Ralph Waldo Emerson afirma sem titubear: “a relação amistosa deve ser objeto, portanto, de uma veneração verdadeiramente religiosa e da maior importância prática, porque somente aquele que compreendeu a ética da amizade pode aprender, de maneira profunda, a lição da vida.
Uma das características essenciais da amizade é a “confiança”. “É amigo aquele a quem podes comunicar, sem medo, todos os teus pensamentos”, diz o axioma de Santo Agostinho. É claro que a confidência só brota de dois corações que não têm reservas entre si, não se antagonizam, mas se integram, complementam-se; apesar da diferenças. Essa confidência gera um conhecimento mútuo crescente, uma intimidade. É o momento em que o coração de um amigo navega pelo do outro para se deleitar na sede de verdade dele, e vice-versa. É a verdade, a sinceridade de coração que anuncia a fidelidade que perdurará no relacionamento.
Disse certa vez L. Boros: “O homem é um ser abandonado na insegurança. O animal não precisa de nenhuma confirmação, porque ele é aquilo que é indiscutivelmente. Com o homem, porém acontece de outro modo. Por sua própria natureza, ele tem sido lançado ao indeterminado, a uma aventura irrepetível. Enquanto os outros seres considerados inferiores são ‘arrastados’ pelas forças ocultas e pelos instintos, no homem o instinto para o desenvolvimento toma um aspecto diferente: ele se sente ‘atraído’ por objetivos, ideais, esperanças e pressentimentos. Naturalmente, também ele é arrastado por normas, instituições, e sociedades. Encontra-se inserido numa rede espacial de relações, numa rede temporal de acontecimentos, numa rede de leis. Frequentemente o homem é um conjunto de reações predeterminadas, de idéias e valores pré-fixados.
Porém, por detrás de toda essa objetivação se esconde uma única e irrepetível liberdade, que rompe continuamente estes marcos, lançando-se por esses sonhos. Neste campo, porém, o homem encontra-se profundamente só e inseguro. Sempre em busca de algo que lhe permita ser. Neste ponto, os homens podem dar uns aos outros o alimento existencial do ‘poder ser’, e isto ao representar um para o outro um tu. O homem como ponto mais avançado e solitário da evolução do mundo, somente pode aventurar-se a dar um passo no escuro, quando tem consciência e segurança de sentir-se acompanhado. Sua ânsia e seu desejo podem levá-lo muito à frente, até o ilimitado. Seu ser atual supera a altura do seu ser realizado. O homem nunca está à altura de si mesmo. “Sua segurança lhe escapa das mãos continuamente.”
“O amigo renuncia a toda tentação de possuir o outro, foge de tudo aquilo que possa escravizá-lo (...) E o que oferece não é outra coisa senão a si mesmo. Não oferece nem o corpo nem os talentos nem as qualidades nem as riquezas ou qualquer coisa que possa possuir, mas aquilo que tem de mais peculiar e singular: o ‘eu’”.
É certo, portanto, que conquistar um amigo íntimo é batalha diária. Só com a mentalidade semelhante a de um parceiro num casamento que deseja sempre e em primeiro lugar a felicidade do outro e não de si mesmo  de modo interesseiro e  egoísta, é que se alcança a harmonia e  a fortaleza de um relacionamento que nem a morte faz esquecer.
Ainda soa forte a mensagem do papa Pio XII em ocasião da visita que fez aos presidiários de Roma: “Os homens ainda são maus, porque não foram suficientemente amados”. E acrescentamos: que não somente sejam amados por outros, mas verdadeiramente se sintam amados. Convencidos disto, a vida se torna mais fácil, não porque nula de dificuldades, mas porque qual casa construída sobre a rocha ( a rocha firme do amor-afeto) ou qual árvore de raízes profundas que não cai por qualquer vendaval.
Uma vida, é certo, deve ter características recompensadoras: intensidade e qualidade; a duração não é importante, mas o fato de se sentir útil a outros, tornar-se uma “necessidade” para alguém, descobrir de um jeito costumeiro ou inusitado aquele ser humano insubstituível e companheiro de momentos que ficam na memória, mesmo que antagônicos.  Alguém a quem pudéssemos nos dedicar com punhos e sangue.  Não desiste da vida quem ama demais, visto que nunca é demais o amar.  Só assim a vida ganha sentido, direção e um caminho para ser trilhado; pois na escuridão do mundo habita certas estrelas-guias que ensinam: Deus, um amigo, a esperança de um futuro melhor e a dor que ensina.




[1]É difícil precisar quando o primeiro suicídio ocorreu, mas ele parece estar sempre presente na história da humanidade. A  Enciclopédia Delta de História Geral registra  que, em um ritual no ano 2.500 a.C., na cidade de Ur, doze pessoas beberam uma bebida envenenada e se deitaram para esperar a morte. Recorrendo a livros religiosos como a Bíblia, por exemplo, é possível também encontrar os registros de alguns suicidados famosos - Sansão, Abimelec, Rei Saul, Eleazar e Judas.
O suicídio de pessoas famosas foi sendo registrado, porém a história oficial ignorou os inúmeros cidadãos comuns suicidados. No entanto, historicamente, é possível constatar a maneira como a sociedade tratou os suicidados e como este tratamento foi se alternando, cabendo observar, com especial atenção, o suicídio enquanto questão política tratada de diferentes maneiras pelo Estado. Cf. (http://www.avesso.net/suicidio htm#tramadacomunicacao#tramadacomunicacao)


[2] Ibid in (http://www.avesso.net/suicidio - htm#tramadacomunicacao#tramadacomunicacao):  No Egito, se o dono dos escravos ou o faraó morriam, eram enterrados com seus bens e seus servos, os quais deixavam-se morrer junto ao cadáver do seu amo. Também no Egito, desde o tempo de Cleópatra, o suicídio gozava de tal favor  que se fundou a Academia de Sinapotumenos que, em grego, significa "matar juntos".”

[3] Segundo o jornalista Antônio Goulart: "Praticamente inexistem justificativas generalizadas para o suicídio. Mas, em casos de suicídios concretos, já foram, apresentadas justificativas como ato de coragem ou de obediência a Deus ou ainda como mal menor”.  

[4] Paulo Geraldo:             Há em muitas cabeças uma noção da vida que é chocantemente pobre, desagradavelmente rasteira, tristemente vazia. Consiste em olhar para a vida de uma forma utilitária, com base numa concepção egoísta e em critérios apenas económicos: se uma vida não é útil - se não é produtiva, se não proporciona todo o prazer - então não tem razão de ser. Pode eliminar-se, como se elimina um automóvel velho ou sem conserto, um par de sapatos rotos, uma camisola demasiadas vezes remendada”.

[5]Segundo dados da Wikipédia, a enciclopédia livre da internet. No mundo, 815 000 pessoas cometeram suicídio no ano 2000, o que perfaz 14,5 mortes por 100 000 habitantes (uma morte a cada 40 segundos) - fonte, (PDF), em francês. Países do Leste Europeu são os recordistas em média de suicídio por 100.000 habitantes. A Lituânia (41,9), Estônia (40,1), Rússia (37,6), Letônia (33,9) e Hungria (32,9). Guatemala, Filipinas e Albânia estão no lado oposto, com a menor taxa, variando entre 0,5 e 2. Os demais estão na faixa de 10 a 16. Em números absolutos, porém, a China lidera as estatísticas. Foram 195 mil suicídios no ano de 2000, seguido pela Índia com 87 mil, a Rússia com 52,5 mil, os Estados Unidos com 31 mil, o Japão com 20 mil e a Alemanha com 12,5 mil. O suicídio é cometido mais freqüentemente pelos homens do que pelas mulheres. Na realidade, o número de tentativas com sucesso é maior nos homens do que nas mulheres, sem dúvida porque os homens escolhem, geralmente, métodos mais violentos (enforcamento ou revólver contra intoxicação por medicamentos para as mulheres). o que se confirma nessa análise é que coincide na comparacao dos dados o leste europeu , aqueles paises que no perido pós-guerra faziam parte da URSS, Lituânia, Estônia, Letônia e Hungria.



[6] Segundo Merrick (2000), as taxas do suicídio entre jovens de 15-24 anos nos Estados Unidos aumentaram de 2,7 a cada 100.000 jovens em 1950, para 13,2 em 1990. Em Israel, onde o autor realizou suas pesquisas, as taxas neste grupo de idade eram 2,9 em 1955 e de 5,0 em 1995.


[7]O Vinícius herdou do pai a profundidade política, social, e da mãe a perspicácia emocional. Tinha o que poderíamos chamar de excesso de lucidez. Mas sem condições de suportar essa carga por causa da pouca idade. Era um menino que tinha uma capacidade de compreender profundamente o mundo, mas não tinha a consistência emocional para dar conta do que via, do que decodificava. Reduzido a si mesmo, via-se deformado, feio, pequeno. Ele tinha uma hipersensibilidade ao mundo que lhe fazia bastante mal. Como se ele vivesse um pouco o noticiário, o mundo como ele acontece. Era uma caixa de ressonância do mundo (... )Ele sofria com a brutalidade do mundo. Este era um tema caro para ele: sofria vendo as pessoas sendo humilhadas, sofria com a hierarquia. Ele tinha uma compreensão hiperbólica do mundo. Era como se para ele a escravidão não tivesse acabado no Brasil. Ele ficava imaginando como era a vida da empregada, do porteiro. Ele fica tentando imaginar como essa vida era e como eles cabiam nessa vida que ele achava pequena e estreita. E como sofriam por isso”. Por Mário Corso em entrevista para a Revista Época. ELIANE BRUM E SOLANGE AZEVEDO, COLABOROU RENATA LEAL - Suicídio.com. - Sites na internet incentivam adolescentes como o gaúcho Yoñlu a se matar e ajudam a escolher o método. 11/02/2008 - 15:02 | Edição nº 508.


[8]       Ballone GJ - Suicídio na Adolescência, in. PsiqWeb, Internet, disponível em <http://www.virtualpsy.org/infantil/suicidio.html> 2003O PsicoSite, citando pesquisa publicada na revista Archives General Psychiatry (1999; 56: 867-874), diz que "a média das pesquisas de tentativa de suicídio entre adolescentes homossexuais ou bissexuais é de 31% variando entre 20 e 39%. Estudos epidemiológicos mostram que entre 18 e 24 anos de idade as tentativas de suicídio entre os homens é de 1,5% e para as mulheres de 3,4%. Entre 25 e 44 anos a taxa é de 4%. Acredita-se, segundo esses estudos, que a não conformidade com sua condição sexual gera o comportamento de auto-agressão."             Nessa pesquisa utilizou-se de uma mostra composta por 103 pares de irmãos gêmeos do sexo masculino. Foram investigados 4 sintomas básicos: pensamentos sobre a própria morte, desejo de morrer, pensamentos sobre cometer suicídio e tentativa de suicídio. Conclui, PsicoSite, dizendo que a orientação homossexual está significativamente relacionada aos sintomas ligados ao suicídio, em comparação com os irmãos heterossexuais, constatando um aumento significativo do risco de suicídio entre os homossexuais masculinos, independente do abuso de substâncias psicoativas e outros transtornos psiquiátricos”.



[9].O suicidado pratica um ato de comunicação e não um gesto solitário e que, além de tudo, é uma comunicação para uma sociedade que o impede de comunicar-se de outras formas que não seja através deste gesto. (...) Porém, é a palavra que comunica o fato para a sociedade que irá juntar os inúmeros gestos suicidas isolados dentro de um só contexto social. O suicidado, através de seu gesto, permanece  incomodando o mundo "dos outros", uma vez que estes ficarão procurando significado para seu último gesto. O processo de comunicação suicidado-sociedade, portanto, continua dentro de um campo interacional. Por isto, é preciso resgatar o ato suicida: o gesto solitário, uma vez efetivado, perde sua característica  de isolamento porque desencadeia um processo de comunicação contra o qual vão se consolidando diferentes mecanismos de controle social,  utilizando diversas formas de comunicação dispersas por instâncias de poderes que não descartam sequer um limitado controle familiar”.                                 (SILVA, Marcimedes Martins da. SUICÍDIO - TRAMA DA COMUNICAÇÃO
Dissertação de Mestrado, 1992, Psicologia Social, PUC-SP . Cf.
(http://www.avesso.net/suicidio htm#tramadacomunicacao#tramadacomunicacao.

[10] Trecho do livro O Cristão e a Eutanásia, o Suicídio e a Pena Capital: “Talvez alguns objetem ao use da palavra "suicídio" nesta conexão. Podem argumentar que o sacrifício da sua vida em prol doutras pessoas não é suicídio. O soldado que cai por cima de uma granada para salvar seus companheiros não está se suicidando, pode ser argumentado.             É verdade. Há uma diferença entre o suicídio egoísta e aquilo que chamamos de suicídio sacrificial, e somente este último é moralmente justificável. Se a pessoa quer usar a palavra "suicídio" ou não, a respeito de tal sacrifício, é questão da escolha de palavras. Seja qual for o nome que se lhe dá, é um ato de iniciativa própria de salvar outras vidas por meio de sacrificar sua própria. É deixar sua própria vida, de modo intencional porém justificável. Tendo em vista este fato, parece apropriado chama-lo de "suicídio sacrificial."

[11] . “A existência de um “suicídio racional” é algo questionável e a história dá-nos um exemplo extraordinário a este respeito: a esmagadora maioria dos prisioneiros dos campos de concentração, mesmo sendo submetidos a um sofrimento atroz e às mais diversas torturas, raramente se suicidavam”. (Pedro Afonso, psiquiatra, In Jornal Publico - 28. 06. 2007)
[12] Ao invés de INCONSCIENTE, Durkheim denomina este tipo também de automático, devido a irracionalidade característica.
[13] Essa é uma classificação que Gavin J. Fairbairn cria na sua obra : “Reflexão em torno do suicídio: a linguagem e a ética do dano pessoal”, Paulus, 1999, p. 169. Acerca do nível de irracionalidade estudada para determinar a correta classificação dessa categoria de suicídio Gavin diz: “Algumas pessoas que se matam porque não têm esperança de conseguir uma vida melhor podem proceder  desta forma racionalmente, porque sua vida não tem mais viabilidade de mudanças para as quais desejariam que ela mudasse; outros por serem irracionais, calcularão erroneamente as possibilidades que existem. Se tal indivíduo fosse tão irracional, a ponto de não mais ser considerado capaz de uma ação autônoma, não poderia ser um suicida”
[14] Passim, Gavin J. Fairbairn cria na sua obra : “Reflexão em torno do suicídio: a linguagem e a ética do dano pessoal”.
[15] Paulo Geraldo afirma: “A grande questão da eutanásia não consiste em se cada pessoa pode, ou não, ter a liberdade de escolher o seu destino. E também não reside em se uma pessoa pode pedir a outra que a mate. É ainda pior do que isso: a questão está em que o triunfo desta visão utilitária da vida levaria – como, de resto, já está a suceder na Holanda - à eliminação de pessoas que, não querendo elas mesmas acabar com a vida, são consideradas inúteis por uma sociedade que se tornou materialista (a decisão é transferida para os médicos e para os familiares, e para os parlamentos, que muitas vezes estão ansiosos por se verem livres de um fardo). Assim é que desaparece realmente a liberdade de escolher o próprio destino, e as pessoas se tornam em objectos à mercê dos interesses económicos e dos falsos critérios de utilidade social. É muito fácil aproveitar-se da extrema debilidade - física e emocional - de um doente terminal. Até para o convencer das presumíveis vantagens de uma "morte doce". Muito mais fácil do que proporcionar-lhe todo o apoio e carinho de que necessita para levar a vida até ao fim - sem desistir - e morrer com verdadeira dignidade”.

[16] Na virada para o século XIX, o movimento romântico se apropria do tema. Um livro do alemão Johann von Goethe, sobre um jovem (Werther) que se mata ao concluir que jamais conquistaria seu amor, supostamente levou a uma onda de suicídios no país. A melancolia inaugurada na França pelo poeta Charles Baudelaire foi apelidada de “mal do século” e teria provocado, também, suicídios. (David Cohen e Dagomir Marquezi)


[17] Em 1978, Na Guiana, 912 pessoas cometeram suicídio e também foram assassinadas sob ordens do pastor cristão Jin Jones, do Templo do Povo. Em 1993, em Waco, Texas, 64  membros da seita neocristã Ramo Davidiano também cometeram suicídio coletivo, após ter a casa invadida por forças policiais. No ano seguinte, Jo Di Mambro, da Ordem do Templo Solar, comandou "a passagem para o planeta Sirius" de 53 pessoas. Em 1997, na Califórnia, EUA, foram encontrados 39 corpos decorrentes de ritual suicida da seita Higher Source (Fonte Superior). Levantamento feito indicava que essas pessoas acreditavam seu gesto era imprescindível para encontrar um objeto voador não-identificado que os esperava atrás do cometa Hale-Bopp e os levaria a outro planeta, onde viveriam numa civilização superior à humana. Nota:  dados colhidos de Cassorla, R. em prefácio ao livro de Toledo, J. Dicionário de suicidas ilustres. São Paulo: Record, 1999,  p. 11-12.

[18]Fernando Sabino(1986), na crônica intitulada "Suíte Ovalliana", conta que Jayme Ovalle, questionado a respeito do suicídio, disse: "É um ato de publicidade: a publicidade do desespero."(p. 144) Desde dezembro de 1990, a publicidade do desespero dos índios guaranis de 16 a 22 anos, em Mato Grosso do Sul, ocupa as páginas dos  jornais brasileiros, obrigando as autoridades governamentais a se interessarem  por esta crescente onda de suicídios por enforcamento e por ingestão de veneno. Cf. (http://www.avesso.net/suicidio htm#tramadacomunicacao#tramadacomunicacao

[19] Idem.  A questão a ser discutida é: não é o suicídio um gesto de comunicação, a transmissão de uma mensagem individual para a sociedade? A resposta violenta do suicidado é sua busca em comunicar-se, transformando-se,  porque a sociedade não lhe permitiu antes que o fizesse. Quando lhe foi impossibilitado comunicar-se, cortaram-lhe também sua influência sobre a sociedade, a qual se restabelece através de seu gesto suicida, mesmo que não seja uma pessoa famosa.  Note-se que o termo "suicida" não clarifica qual é a condição do indivíduo. Por isto, é preciso fazer uma distinção entre os termos "suicidando" - aquele que ameaça e/ou tenta suicídio e que pode ser chamado de ameaçador ou tentador; e "suicidado" - aquele que efetivamente se matou.

          O suicidado pratica um ato de comunicação e não um gesto solitário e que, além de tudo, é uma comunicação para uma sociedade que o impede de comunicar-se de outras formas que não seja através deste gesto”.

[20] publicado na revista Espaço Acadêmico (www.espacoacademico.com.br)

[21]Durkheim, E. O suicídio.,p. 29
[22] Cf. http://www.avesso.net/suicidio - htm#tramadacomunicacao#tramadacomunicacao. "Entre a pessoa e a comunidade começou a se abrir, em meados do século XVIII, uma distância que duzentos anos mais tarde terminará constituindo as múltiplas formas de incomunicação contemporânea. Por isso, mais que um ato de indulgência estatal frente ao indivíduo, deve-se ver nesta liberalização progressiva das normas punitivas com respeito ao suicídio uma expressão de irrelevância social que começa a pesar sobre a pessoa. Ou seja, não se contempla o suicídio com tolerância porque se o compreende, mas porque já não se lhe atribui maior transcendência coletiva." (Kalina e Kovadloff, l983, p. 54)

       O estudo de Durkheim(1987), analisando os suicídios ocorridos no século passado, tornou-se obra clássica da sociologia por chamar a atenção sobre a significação social do suicídio pessoal - o suicídio é uma denúncia individual de uma crise coletiva. Já o estudo de Kalina e Kovadloff merece destaque porque parte  da  premissa de que em cada sujeito que se mata fracassa uma proposta comunitária. Eles analisam a sociedade atual com clara intenção de entender o suicídio como existência tóxica. A existência tóxica é a vida vivida de forma que o ser humano esteja se matando no cotidiano, todos se matando em comum acordo  através de uma maneira de viver perigosa para a saúde. Uma existência tóxica é uma vida envenenada porque vive daquilo que a aniquila, promove e perpetua a alienação humana  e fomenta o apoio às contradições que a destrõem. Para tanto, multiplicam-se as condutas autodestrutivas como o armamento nuclear, a contaminação do planeta e, até mesmo, a despersonificação urbana do homem contemporâneo. Enquanto na concepção clássica  o suicídio é o ponto final de um processo, Kalina e Kovadloff(1983) afirmam que o suicídio é o processo em si mesmo.

[23]           A sociedade foi reprimindo o suicídio até a Revolução Francesa, a qual aboliu as medidas repressivas contra a prática do suicídio, o que para Kalina e Kovadloff(1983) significou que a conduta suicida deixou de comprometer a estabilidade do Estado. O suicídio assumiu, assim, um caráter que oscila entre o quase clandestino, ou francamente clandestino, e o patológico. É um gesto solitário, dissimulado, uma transgressão. Eles escreveram:"Entre a pessoa e a comunidade começou a se abrir, em meados do século XVIII, uma distância que duzentos anos mais tarde terminará constituindo as múltiplas formas de incomunicação contemporânea. Por isso, mais que um ato de indulgência estatal frente ao indivíduo, deve-se ver nesta liberalização progressiva das normas punitivas com respeito ao suicídio uma expressão de irrelevância social que começa a pesar sobre a pessoa. Ou seja, não se contempla o suicídio com tolerância porque se o compreende, mas porque já não se lhe atribui maior transcendência coletiva." (Kalina e Kovadloff, l983, p. 54) (Cf. http://www.avesso.net/suicidio - htm#tramadacomunicacao#tramadacomunicacao).

[24] .Cf. (http://www.avesso.net/suicidio htm#tramadacomunicacao#tramadacomunicacao).)

[25] Trecho do livro “O Cristão e a Eutanásia, o Suicidio e a Pena Capital”: “Segundo alguns filósofos existencialistas contemporâneos, o suicídio é o maior problema filosófico. A vida é absurda, uma bolha vazia no mar do nada, e é uma questão séria quanto à sua continuação ou não. Cebes perguntou a Sócrates por que, se a morte era tão bem-aventurada, o homem não poderia ser seu benfeitor. 0 materialista romano, Lucrécio, argumentava que a morte era nada, e, seguindo ele, alguns concluíram que o suicídio é uma opção viável para a levar a efeito a felicidade desta condição de nada. Outros filósofos notáveis, tais como Schopenhauer soaram notas pessimistas, que mais do que flertam com o suicídio. E a julgar pelo número crescente de suicídios e tentativas de suicídios pelos homens contemporâneos, o suicídio é uma opção viva para um número considerável de pessoas. Naturalmente, a questão ética não é aquilo que os homens estão fazendo, mas, sim, o que devem estar fazendo. Daí, a pergunta aqui não é porque os homens se suicidam, mas se devem fazê-lo, e quando”.                                                                                        (Cf http://www.jesussite.com.br/acervo.asp?Id=277)

[26] A despeito da tentativa fútil dos estóicos de justificar o suicídio, e a despeito da propensidade pessimista de Schopenhauer a ele, faltam ao suicídio, sadios fundamentos filosóficos. Talvez a melhor evidéncia para esta conclusão venha dos filósofos existencialistas contemporâneos que consideram que a questão do suicídio é a mais básica ? e cuja filosofia lhes dá mais razão para cometê?lo. Entre aqueles existencialistas ateus há uma forte rejeição do suicídio. O suicídio, diz Sartre, é errado porque é um ato de liberdade que destrói todos os atos futuros de liberdade. É uma afirmação do ser mediante a qual a pessoa finalmente nega seu ser. Ou, nas palavras corriqueiras, o suicídio é um ato do vivente que destrói a sua vida.

Definir o suicídio desta maneira ressalta precisamente quão irracional o ato realmente é. É um ato arrazoado que destruiria o raciocínio da pessoa. Como tal, o suicídio é uma ação absurda do raciocínio, porque é a "razão" que se destrói a si mesma ao afirmar a si mesma. Na realidade, não há nenhuma razão verdadeira para o suicídio. É um ato anti-racional ao qual falta uma verdadeira base lógica .

[27]         O suicídio é...
               "... um ato de heroísmo." (Sêneca)
               "... um ato próprio da natureza humana e, em cada época, precisa ser repensado." (Goethe)
               "... a destruição arbitrária e premeditada que o homem faz da sua natureza animal." (Kant)
               "... uma violação ao dever de ser útil ao próprio homem e aos outros." (Rosseau)
               "... admitir a morte no tempo certo e com liberdade." (Nietzsche)
               "... uma fuga ou um fracasso." (Sartre)
               "... a positivação máxima da vontade humana." (Schopenhauer)
               "... todo o caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir este resultado." (Durkheim)
 htm#tramadacomunicacao#tramadacomunicacao )


[28] O amor é de domínio da vontade. Ela lança-se ao objeto de seu afeto, enquanto que a mente, pela razão faz o sentido contrário, atraindo para si o objeto de sua interação. Dessa maneira, a vontade vai ao encontro e assim conquista, a inteligência atrai a si e aprisiona.
[29] Mas há que se notar: Sartre com sua teoria dá a entender que de alguma forma o suicídio é um erro, assim como alguns outros existencialistas ateus entre os quais há uma forte rejeição do suicídio. O suicídio, diz Sartre, é errado porque é um ato de liberdade que destrói todos os atos futuros de liberdade. Chaga a concluir É uma afirmação do ser mediante a qual a pessoa finalmente nega seu ser. Ou, nas palavras corriqueiras, o suicídio é um ato do vivente que destrói a sua vida.



[30] Segundo Forbes, a dimensão dramática da experiência psicanalítica - através da palavra, da escuta e da interpretação- pode levar o sujeito com intenção suicida a romper com o "destino trágico" que tem o poder de lhe impor buscar a morte como pronta solução de seus problemas. "No drama a lei é conhecida...O drama é da dimensão política"."na tragédia a ação é o cumprimento de um destino, que estava escrito desde o início". O drama põe o protagonista como sujeito-político-ativo, um sujeito que pode resolver o problema e vencê-lo, enquanto que na tragédia cabe ao herói cumprir o destino. Portanto,  depreende-se que a opção pelo drama inaugura-se um sujeito autônomo e saudável, enquanto que o indivíduo refém do que "está escrito" da tragédia ou dos acontecimentos trágicos ainda vive um estágio de pré-sujeito.  (Para aprofundar a distinção entre "trágico" e "tragédia" sugiro ver: MOST, G. W. "Da tragédia ao trágico". In: Filosofia e literatura: o trágico na Filosofia Política. V. 3/ 1. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 20-35).

[31] Por Paulo Geraldo: Há em muitas cabeças uma noção da vida que é chocantemente pobre, desagradavelmente rasteira, tristemente vazia. Consiste em olhar para a vida de uma forma utilitária, com base numa concepção egoísta e em critérios apenas económicos: se uma vida não é útil - se não é produtiva, se não proporciona todo o prazer - então não tem razão de ser. Pode eliminar-se, como se elimina um automóvel velho ou sem conserto, um par de sapatos rotos, uma camisola demasiadas vezes remendada”.

[32]Segundo François Ansermet, o suicídio é atravessado por um paradoxo: o sujeito se suicida por medo da morte, ou seja, salva-se evitando a si mesmo, tentando fugir de si mesmo, procurando na morte uma saída para a vida. Sendo assim, nem todo suicida tem necessariamente a morte como objetivo. Há como que uma antinomia entre ato e pensamento. Normalmente o suicida não tem o que dizer sobre sua tentativa, já que ela toma o lugar de toda e qualquer palavra. Seu ato, no entanto, não deixa de trazer implícita a questão vida x morte, presença x ausência, fazendo com que o desencadear do ato permaneça enigmático.”
(Cf.http://www.estadosgerais.org/mundial_rj/download/5c_Justus_41040903_port.pdf 5c_Justus_41040903_port.pdf+o+suic%C3%ADdio+e+a+filosofia&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=5&gl=br


[33] Por Paulo Geraldo: “Todos os homens podem, e devem, em qualquer circunstância, considerar que a vida é bela e viver de acordo com isso. Ninguém tem motivos para a considerar desprovida de nobreza e grandiosidade. A dor e as contrariedades sempre fizeram parte da vida dos homens, e nem por isso eles deixaram de a amar(...)Mas acontece que aqueles que sofrem são agora muitas vezes abandonados pelos outros, e têm de viver sozinhos com a sua dor. À qual se acrescenta, então, a dor enorme da solidão”.

[34] Existem algumas diferenças entre o suicídio de inspiração islâmica e o suicídio budismo vietnamita. Embora ambos aspiram causar impacto no adversário, o suicídio de inspiração budista o monge vietnamita morria silencioso, manso, introspectivo e não levava mais ninguém com ele para a morte. Já o suicida islâmico doutrinado na ideologia da "guerra santa ou Jihad", é histérico, ruidoso, furioso, catastrófico, e assassino coletivo sem limites. Portanto, ambos usam o suicídio como forma de luta, mas se distinguem no estilo e no efeito de seu gesto, ou seja, enquanto o budista com silêncio conseguiu comover a opinião pública mundial, o segundo – o terrorista-suicida islâmico – até o momento só consegue aterrorizar a opinião pública mundial.  (www.espacoacademico.com.br)
[35] Impressionante descrição do fato ocorrido no centro da cidade de Saigon (hoje, Ho Chi Minh) feito por um jornalista e documentado em fotos: "os monges formam um círculo em torno de um deles, já idoso, que senta-se numa almofada e cruza as pernas. Dois desses monges despejam gasolina no crânio raspado e no manto amarelo de monge idoso. Logo, esse monge arde em chamas, em posição de lótus, impassível".

[36] Cf.: Documentário "A mente do terrorista". Canal GNT, acesso em 2000-1. Tahar Benjelloun, escritor marroquino radicado na França, diz que "...no Alcorão não há um único versículo que justifique o assassinato ou suicídio. São todos claramente proibidos e punidos pela religião muçulmana." (Entrevista a J. Batista Natali,  Folha de S. Paulo, Cad. Esp. Todos os mundos do Islã. p. A - 8, 23/09/2001). Está escrito no Alcorão, no tópico Surah-na-Nisaa 4: 29 -30: "Oh, vocês que crêem! (...) não se matem, porque verdadeiramente Alá tem sido com vocês mais misericordioso, se qualquer um fizer isso, com rancor ou injustiça, devemos logo castigá-lo com fogo".  Mas, os extremistas islâmicos se sustentam em outra parte do mesmo livro sagrado para justificar os atentados, dizendo que lutar pela opressão é recomendável. "E por que não lutar pela causa de Alá e daqueles que, sendo fracos, são maltratados e oprimidos? Homens, mulheres e crianças cujo clamor é: 'Senhor! Salve-nos desta terra onde há opressores! E faça levantar para nós aqueles que vão nos proteger e nos socorrer'". (Surah-na-Nisaa 4: 75). Apud  rev. Isto É, n. 1663 / 15/8/ 2001, p. 89). Jason Burke, que publicou recentemente no Reino Unido o livro "Äl Queda", em entrevista, diz que "a maior parte das pessoas do mundo islâmico não gosta do terrorismo, tem vergonha e acha que a religião deles tem sido usada de forma errada".
[37] "A coroa e a estrela" (Folha de S.Paulo-Mais!, 18/11/2001). Também o professor da UFRGS, Luis Milman, no interessante artigo "Origem dos movimentos islâmicos revolucionários", (http://www.espacoacademico/035/35cmilman.htm) chega a identificar a simpatia dos nacionalistas árabes pelo nazifascismo no período em que esta era a principal força política na Europa, e que ambos aspiravam derrotar o imperialismo anglo-francês. Observa que o fundamentalismo islâmico não é um fenômeno novo. "O fundamentalismo político desenvolveu-se desde 1928, com a criação da A Irmandade Muçulmana (Al Ikhwan al-Muslimun) por Hasan Al Bana e meia dúzia de estudantes, no Cairo. Seu arcabouço doutrinário pode ser resumido em alguns pontos: rejeição ao colonialismo e aos valores ocidentais, retorno à pureza do Islã, sacrifício extremo pela causa, assistencialismo islâmico, tomada do poder político por meios revolucionários, refundação do califado unificado no mundo muçulmano, sob a autoridade exclusiva do Corão e abolição de todas as instituições implantadas no mundo islâmico pelo Ocidente, com a conseqüente extinção dos estados árabes tais como existem, além da eliminação de Israel" (grifo nosso).  Cf.: FERREIRA, A. Morte pela honra. rev. Made in Japan, Ano 2, n. 20. rev. Época, jun/ 2002, p. 62.

[38] (www.espacoacademico.com.br):  Folha de S. Paulo, 03/10/2004).  "Jihad", significa literalmente "esforço"  na causa de Deus (Allah), para difusão e proteção do islamismo. Ficou caracterizado como "guerra santa" na imprensa. Segundo o Prof. Mateus Soares Azevedo (Mestre em História das Religiões, da USP), a Jihad "exclui, por exemplo, a luta por causa mundana. Se seu objetivo é a obtenção de riquezas, a glória pessoal ou o ódio contra outro povo, não é Jihad". ( Folha de S. Paulo, Cad. "Todos os mundos do Islã". p. A - 11, 23/09/2001). Também, cita-se o dito do profeta Muhammad: "A tinta do sábio vale mais que o sangue do mártir". (Ibid., p. A - 6). Um ex-terrorista revela sobre esses privilégios depois da morte: "Falaram-me que o martírio levaria suas famílias para o paraíso, que iria casar com 72 mulheres virgens. Lá no céu, o mártir estará com pessoas pias e com os profetas. E Deus perdoará seus pecados (...). Eles me convenceram dessa verdade. Também disseram que eu ganharia algum dinheiro, uns 6 mil dólares para morrer na explosão. Depois que morremos, nossa família recebe o dinheiro, pois sabemos que nossa família vive em más condições. Disseram-me também que a família e os amigos iam para o paraíso se eu fizesse um ato de martírio"
[39] Sobre isto Mestre Lionês afirma: "(...) Quando homens de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçam por provar aos que os ouvem ou lê em que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão de fato levando-as a deduzir que, se são desgraçados, coisa melhor não lhes resta senão se matarem? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa conseqüência? Que compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada... Daí se deve concluir que, se o nada é o único remédio heróico, a única perspectiva, mais vale buscá-lo imediatamente e não mais tarde, para sofrer por menos tempo. (Mestre Lionês)

[40]Se quatro séculos antes e quatro séculos   depois de Cristo  o suicídio é ora tolerado ora reprimido, sua reprovação vai se reforçando durante os primeiros séculos da era cristã até que seja totalmente condenado no século V por Santo Agostinho e pelo Concílio de Arles (452 d.C.), seguido depois pelos de  Orleans, Braga, Toledo, Auxerre, Troyes, Nimes, e culminando com a condenação expressa de todas as formas de suicídio no "Decret de Gratien", um compêndio de direito canônico do século XIII”. Cf. (http://www.avesso.net/suicidio htm#tramadacomunicacao#tramadacomunicacao)


[41] A vontade do amado deve ser buscada, fazer a vontade do outro: eis o verdadeiro amor.
[42]Os motivos que levam realmente as pessoas a pensar em auto-destruição estão ligados, em sua esmagadora maioria, ao campo afetivo. É a chamada deterioração afetiva, que leva a pessoa, fatalmente, a sentir-se só. Um solitário no meio da multidão. Um indivíduo carente de amizade, de alguém que o considere digno de ser ouvido” por Valentim Lorenzetti.

[43] R.M.Rilke: “O amor de um ser humano para com um outro talvez seja a mais dura prova para nós; é o mais elevado testemunho de nós mesmos; a obra suprema que podemos realizar, diante da qual as demais não passam de preparação. Por esta razão, os jovens, inexperientes em todas as coisas, não sabem amar e devem aprender... toda aprendizagem pressupõe um tempo em clausura... o amor não consiste em dar-se, unir-se ao outro desde o principio. O amor é uma  ocasião única para o amadurecimento, para converter-se a si mesmo por amor do ser amado... tomados pelo amor, os jovens se entregam precipitadamente uns aos outros, porque é o próprio de sua natureza não saber esperar. Extravasam seus sentimentos, enquanto suas almas não passam de esboços, desordens, perturbações.”

[44] “Há uma força vital que nos segura no último momento. Essa força que nos prende ao grupo, às outras pessoas, ao quanto os outros gostam da gente e ao quanto nós gostamos dos outros. Isso tece uma rede, uma teia que nos suporta na vida. Muitas vezes, quando o sangue aparece nos pulsos cortados, as pessoas acordam do seu transe mortífero e pedem ajuda. Para dar esse último passo, se suicidar, é preciso de um desespero, de uma desesperança muito forte ou de alguém que te puxe para baixo”. CORSO, Mário. Em entrevista para a Revista Época. ELIANE BRUM E SOLANGE AZEVEDO, COLABOROU RENATA LEAL - Suicídio.com. - Sites na internet incentivam adolescentes como o gaúcho Yoñlu a se matar e ajudam a escolher o método. 11/02/2008 - 15:02 | Edição nº 508.

[45]  “Um amigo fiel não tem preço. É um poderoso refúgio. Quem o encontrou, encontrou um tesouro!”       Eclesiástico 6,14-15