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sábado, 20 de novembro de 2010

O Papai Noel é São Nicolau

Um homem religioso, em geral, sente-se mal com a figura do Papai Noel.
Não creio que deveria se sentir.
Existem poucas coisas tão cristãs quanto a figura do Papai Noel.


Nicolau é quem inspirou o mundo a criar esta figura apaixonante.
Era um Bispo da Igreja Católica que se tornou santo.
Ficou conhecido como São Nicolau, o Bom Velhinho.
Generosidade, solidariedade e compaixão são algumas palavras que definiam bem o conteúdo cristão do caráter do Bispo de Mira, na Turquia.
Nascido no século III, em 280 de nossa era, morreu em 321.


Um santo homem, com fama de milagreiro, ficou famoso por proteger marinheiros e ser conhecido como o patrono das crianças.
Dizem até que se disfarçava de homem rude e simples e saía distribuindo às crianças de rua presentes que tirava de um saco. Por sua intercessão muitos marinheiros se viram salvos de tempestades.
E foram estes mesmos marinheiros que espalharam sua fama da Turquia aos seus países de origem na Europa.
Não à toa, São Nicolau é hoje o Padroeiro da Rússia e da Grécia.
Na Alemanha Nicolau se transformou de uma vez por todas em símbolo oficial do Natal e de lá para o mundo.
A tradição natalina agradece a ela por ter angariado o seu mais fofo padroeiro.


Anonimamente, São Nicolau ajudava financeiramente quem estivesse em dificuldades financeiras doando dinheiro aos mais necessitados em sacos com moeda de ouro.
E assim fez a três filhas de um homem pobre.
Se não fossem os três sacos com ouro, com os quais ele presenteou cada uma das filhas, elas seriam prostituídas, pois aquele era o valor do dote que garantiria os seus casamentos.


A partir daí, lendas começaram a surgir, histórias fantásticas foram se acrescentando aos relatos históricos e hagiográficos do Papai Nicolau até ao ponto de o Papa Paulo VI retirou-o em 1969 do calendário de culto oficial dos santos, o Calendário Oficial Católico Romano, devido à falta de documentação oficial que validasse historicamente a vida e obra deste santo.
Mas lembremos retirá-lo do calendário oficial não significa que ele não tenha existido.


De qualquer modo, em nossa cultura ele não ganha um recheio de lenda do mesmo jeito que na Europa. Para nós é mais uma imagem que usamos como desculpa para comprar e dar presentes.
Para nós brasileiros, papai Noel não passa de mais um enfeite.
Não sentimos o com o mesmo entusiasmo dos europeus, pois nosso país é bem diferente da Europa também no tempo do Natal.
Quando na Europa e Estados Unidos é frio, aqui é quente.
Quando eles estão celebrando o cume do inverno, estamos no zênit do verão.
Aqui não neva, não temos chaminés nas nossas casas para aquecer o ambiente e descongelar nossos dedos, não temos renas (animais parecidos com os viados e cervos) nem trenós.


Por causa dessa incompatibilidade, muitos têm críticas fortes em relação ao Papai Noel ser uma figura que não ajuda as crianças a crescer na sua formação mental.
Que ele é uma fantasia sem serventia.
Não vejo que tais críticas tivessem valor se soubéssemos ligar as coisas do mundo secular às coisas do céu divino, conectar as realidades profanas às sacras e fazer delas o que elas em totalidade são: humana, no melhor dos sentidos.


A questão-problema é que, se não somos mais apaixonados em nos interrogar sobre a origem das histórias que nos contam, nem de buscar as respostas plausíveis para as nossas próprias perguntas, nunca poderemos embelezar nossas vidas.


Como é bonito ver que até mesmo nas lendas há beleza subentendida.
Perceber que nos contos infantis contados por nossos avós existem muitas verdades veladas.
Que a ficção às vezes nos ajuda a dizer o que não temos palavras suficientes ou coragem bastante.


História misturada com lendas, fantasia misturada com realidade, não importa.
O problema de nossos natais não está em Papai Noel, ou no comércio de nossas lojas lotadas: está em nós.


Papai Noel e Jesus não tem que duelarem, nem nós com Papai Noel.
Não façamos do Natal um ringue de ódio, recalques e grosserias recheadas com preconceitos.
Enfeitemos nossas casas e corações, renovemos nossas paredes, toquemos música quietas e entusiastas, mas não nos deixemos esquecer:


Limpemos primeiro a poeira de nosso espírito e alma.


São Nicolau, rogai por nós
e em especial pelas crianças de nosso Brasil
e pelos nossos navios que as tormentas desviam!