Prof. Celso dos S. Vasconcellos
Existe
uma complexidade envolvida na compreensão do sentido da qualidade até mesmo na
educação.
A
educação política do brasileiro é fraca. Toda a educação está. Ainda.
Diante
da dificuldade de se chegar a ela, muitos tendem a se desculpar enquanto culpam
a outros pelas mazelas do sistema educacional.
O
autor dá uma indireta: interessa aos grandes e poucos a ignorância dos pequenos
e muitos.
Até quando não acordaremos depois de tantas denuncias?
Não é por falta de saber que não agimos. É um misto de preguiça, descrença e
desânimo.
Os modismos querem um status de messias, e são muitos: material didático,
tecnologia educacional, construtivismo, projeto político-pedagógico, gestão, letramento, participação da comunidade,
PDE, etc.
Os
resultados de avaliações nacionais como o SAEB, IDEB, PISA, ENEM, ENADE indicam
os dados preocupantes.
Reações
há, mas são parcas, tem data de validade baixa.
Eis o “quê” da questão que denuncia tudo o que está de
errado: por que os alunos não aprendem? A falha está nele, no professor ou no
sistema?
É claro que numa visão totalizante sabemos que pode estar
nos três sujeitos. Mas se o aluno não chega a aprender como devia é porque é
excluído do aprendizado desde mesmo antes de nascer. O sistema cria o caos e
depois não sabe como retroagir para o equilíbrio.
Necessidade de Visão de Conjunto
Os
meios de comunicação não são “imparciais” no sentido de não se aterem ao
“todo”, mas às partes do problema. É um erros comum aos analistas e aos
críticos.
Aprender
é se apropriar dos elementos mais importantes da cultura, para se tornar o
construtor dela, não um mero expectador.
O
país está recheado de analfabetos funcionais. Não sabem porque não leem, não
leem porque não sabem e não sabem que é preciso ler. Ainda mais: não sabem que
ler é muito mais que traduzir símbolos e signos gravados no papel e que o texto
a ser lido é o mundo inteiro.
Existe
ainda hoje um preconceito de que é o aluno que não é capaz. De que os alunos
dos países vizinhos são mais inteligentes que os nossos. Sobretudo os do nosso
Big Brother norte-americano.
A Qualidade e suas Circunstâncias
O Professor tem um
papel fundamental na qualidade do ensino, mas não é o maior responsável pelo
desmanche no sistema da educação.
Avaliar
não serve só para constatar um fato. Até mesmo um cego pode ouvir os anseios da
maioria menosprezada.
Os
vários e inoperantes discursos ideológicos só fazem atrasar a verdadeira
mudança histórica educacional que o país precisa.
Apesar de sabermos que a boa gestão dos recursos que são
enviados para a educação são tão importantes quanto a quantia enviada, não
podemos deixar de notar o sucateamento das obras recém-criadas e antigas.
O
PIB espetacular do país, a rapidez com que se chega a trilhões de reais em
poucos meses é espantoso contrastar o esbanjamento e a propaganda externa de
que o país está de vento em popa com a aplicação desses impostos.
Avaliação
é instrumento de mudança. Não é a mudança. A mudança quem constrói somos nós;
os que temos a responsabilidade de eleição do novo.
Em
fim, o problema não é econômico, mas político.
Fenômeno Recente?
O
fracasso escolar não é um fenômeno recente.
A
escola não funciona porque seria uma “coisa pública” (como se aquilo de que
todo mundo cuida fosse coisa de ninguém). Ela não funciona porque o que
chamamos de escola não é escola. É “alojamento”. Simplesmente um lugar a mais.
Parece que não é feita para ser um ambiente agradável de convivência e
aprendizagem. Não tem atrativos.
Nem
os índices de pesquisas que podem ser facilmente adulterados num país corrupto
como o nosso disfarçam os fatos: ainda não somos um país letrados em 500 anos
de historia.
Problema só da Escola Pública?
Nem os sistemas tradicionais adotados pela classe
burguesa em seus colégios e propagados como “sucesso” é capaz de mascarar os
resultados fracos de seus alunos nas pesquisas nacionais a exemplo do SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), PISA (Programa Internacional de Avaliação de
Alunos, da OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Se houvesse um duelo entre o aluno de escola pública e o
particular, quem teria mais chances de passar com louvor? É claro que não podem
ser igualados na balança, pois desde cedo o que existe é uma seleção
financeira, mesmo que involuntária.
Os vestibulares para admissão de novos alunos nos
colégios particulares é proibido por lei, mas continuam a ocorrer.
Algumas
desses colégios, no entanto, tem adotado mudanças na sua forma de educar e
apresentam projetos que servem de inspiração ao ensino público.
Fetiche Escolar
O autor se pergunta se o professor tem clareza da
gravidade do problema na qualidade no ensino e convida a reconhecer que a
Macroestrutura é o principal responsável pelo fracasso escolar.
Os condicionamentos humanos negativos aparecem com força
quando menos estamos preparados psicológica, material e culturalmente. Nesse
ponto, o desespero pela falta de opções, o professor como qualquer outro ser
humano tende a repetir as antigas sugestões que não solucionam.
A educação é fruto não somente de ações más, mas de
negligências. Nem se faz, nem deixa-se que façam. As interferências são
conscientes ou não. De qualquer modo causam os mesmos resultados que se veem
hoje em dia.
A
lógica que cria essa condição é uma lógica cruel: os fracassos são vistos como
seleção óbvia e consequência necessária, a improdutividade é vista como
produtividade, os maus-tratos são disseminados como dura prova para a vida, que
dar a escola, mas não dar as condições é benefício, que reprovação é insucesso
e que só crescemos quando acertamos.
Proposta de Algumas Questões para se Repensar a
Qualidade da Educação
Os professores tem uma força da qual ainda não tomaram
conta. Desunidos ou desorganizados sofrem com o desafio de sobreviver no dia a
dia e o desafio de se unir enquanto classe motivadoras de novas consciências.
O ensino tradicional é de instruir somente, impondo uma
“de-formação” fundada na informação apenas. Alcançam a propagação do
conhecimento e conteúdo, não do aprendizado.
O autor denuncia que nem todos que são professores são
professores porque querem.
Ainda hoje a profissão docente não tem um Código de
Ética.
Ironicamente, os que fazem formação pedagógica
continuada não gostam de estudar.
Os professores aceitam ensinar sem ter ao menos
terminado os estudos acadêmicos. Um fato que seria ilegal, criminoso em outra
profissão é tido como normal entre os docente e a sociedade.
Ensinar
não é uma tarefa fácil. Não é para todos. E porque é complexa merece melhor
recompensas.
Causas da Baixa Qualidade
Os maiores problemas enfrentados são:
Reducionismo e escapismo são as causas pessoais e
intimas dos sujeitos que não enxergam a totalidade e seguem culpando a outros
pela educação.
Quem não deveria desistir, desiste fácil.
Extrinsecamente, existe um desmonte social e um outro
material e simbólico do sistema.
Desmonte
Social: crise de valoração, desemprego, violência, exclusão social,
intolerância, preconceito, trabalho infantil, consumismo, desorientação e
reestruturação familiar.
Desmonte
Material e Simbólico do Sistema de Ensino: escolas funcionando sem condições
adequadas de instalações, equipamentos, recursos;
classes superlotadas, falta de
biblioteca, quadra, laboratório.
As
pessoas não acreditam mais que seja necessário subir socialmente através dos
estudos, pois não se espera mais que um bom estudo garanta um bom emprego e
ótimo rendimento.
Relação pedagógica artificial baseada no programa a ser
cumprido, custe o que custar, independentemente
da realidade dos alunos.
O saber é fragmentado.
Fragmentado
também é o cotidiano da escola e os horários.
Avaliação
Classificatória e Excludente.
Como saímos desta?
É preciso mudar as estruturas e as
pessoas, as pessoas e as estruturas.
A reversão do quadro de fracasso passa por algumas exigências básicas externas e internas às escolas.
Formação, Salário/Plano de Carreira/Concurso, e condições de trabalho (trabalho coletivo constante, número de alunos, instalações e equipamentos, quadro funcional completo, material
didático)
A Família também deve assumir suas responsabilidades na educação
dos filhos.
Valorização social da escola e dos seus profissionais.
Revisão das práticas e posturas dos profissionais que
atuam na escola.
"O que é necessário para que o aluno aprenda?" o autor lembra as seis exigências da Teoria Dialética-Libertadora
do Conhecimento: capacidade,
conhecimento prévio, acesso à informação, querer, agir e expressar. Essas seis
condições são exigidas para aquele que deseja uma mudança sistêmica de toda a
realidade social, não somente de um compartimento.