vamos falar de POLÍTICA EDUCACIONAL...
Olhar para as escolas públicas é
tirar uma selfie do Brasil. Só que o país não sai bem na foto. Os fatos estão à
mostra para qualquer um ver, do homem simples do campo ao maior dos teóricos. O
teórico, aliás, não pode analisar de cima sem que antes tenha imergido no
ventre fétido do monstro à brasileira de Thomas Hobbes.
É escandaloso: a visão nas escolas
em geral é de tapar os ouvidos com palavrões de alunos e professores mutuamente
se xingando. É de tapar a vista para não enxergar as baboseiras escritas nas
portas e paredes dos banheiros nem ver a imundície pintada nas cores da
desesperança. É de tapar a boca para não responder à altura os disparates da
ineficiência burocrática de uma maçante arte de não fazer nada.
Mas é justamente por tapar a boca,
os olhos e os ouvidos de denúncia que lavamos as mãos e condenamos como Pilatos
o inocente à morte paulatina. Morte do homem cultural, do homem intelectual, do
homem social, do homem político.
Os próprios alunos, novatos ou não,
esquizofrenicamente são ora vistos como vítimas, ora como culpados; enquanto os
culpados não são vistos.
Os professores e alunos, gestores
escolares e pais estão desmotivados. É de duvidar que os governantes também
estejam. Do lado de cá, pouca verba. Do lado de lá muito verbo, muito discurso,
muita promessa. O que impera é a sabotagem educacional.
O lema federal afirma: país rico é
país sem pobreza. Mas será? Melhor não seria dizer, país rico é país sem
ignorância? E ignorância nos dois sentidos mesmo: brutalidade e
desconhecimento.
Quando sai da ignorância, o povo
reclama com propriedade dos maltratos e negligências e recebe ignorância do
estado que solta os cães para cima dos manifestantes, confundindo o cidadão com
o bandido. Ou seja, sofra calado, não
atrapalhe o trânsito, não cante o hino até o final. Só que o povo não quer
calar. Como Dom Hélder Câmara, bispo católico de Recife e Olinda disse: “eles
pensam que o povo não pensa, mas o povo pensa”.
O projeto de um Estado em ascensão
desenvolvimentista como o nosso teima em focar esse progresso pelas lentes da economia,
quando deveria fazer como o Japão: pela educação. Educação também em dois
sentidos: conhecimento e gentileza, sabedoria e civilidade.
Diante do intragável, fica a dúvida
retórica: como pensar a democracia sem a participação popular, sem o povo a reclamar,
sem revolução, do sangue, suor e luta? Como pensar uma nação democrática que
esconde seu passado, que precisa de uma decisão judicial para revelar os crimes
de guerra e ditadura? Como ter orgulho de ser brasileiro, de ser eleitor se a
ficha limpa não funciona e o julgado julga o julgador.
Quando se bate na carne, pesa na
consciência que de fato para alguns uma estátua destruída vale mais do que a
face estourada com bala de borracha. Esquece-se de quem foi o dinheiro que
construiu a escultura, o museu, o palácio.
Sim. Nossa revolução é pela paz. Nossa
luta é contra as trevas medievais, contra o obscurantismo. A maior revolução do
homem simples brasileiro ainda é vencer através dos estudos. O povo tem direito
de sonhar!
Só que fica difícil sonhar. Mais
fácil é perder o sono: a lista de necessidades e interesses ultrapassa a de
vontades políticas: política e financiamentos educacionais, currículos
adequados à realidade brasileira e à pedagogia e bom senso, estudos da historia
da educação brasileira que justifique o presente.
O cinismo é pandêmico na análise de
caso brasileiro: sabe-se dos problemas, mas não se citam os culpados. Ou
foca-se demais nos problemas para não gastar tempo com as soluções. A “Indústria da Seca” exemplifica bem
isso.
As grandes ausências adoecem a seiva
da vaidade brasileira: do político que se ausenta na sua bancada, do professor
que não vai à aula pública, mas é assíduo na particular, do diretor que inventa
desculpas para não trabalhar, do pai que mal à escola para acompanhar o comportamento
e rendimento do filho.
Parece que a única mudança que vem
para o bem do povo e felicidade geral da nação é a insurgência do reforço
escolar, dos cursos pré-vestibulares e preparatórios dos concursos. Pena que
são recursos desesperados e pagos, um dinheiro que podia estar sendo gasto em
alimento e lazer para o pobre.
Em todo caso, nossa luta não é
contra a pobreza. É contra a miséria. A miséria de tantos brasileiros que não
são enxergados, nem por seus próprios vizinhos. No fundo, não se deve ter
vergonha de ser pobre. Deve-se ter vergonha de cultivar a violência. Não aquela
violência do peixe pequeno, mas do peixe grande que devora centenas, e vai no
enterro deles em prantos prometendo que tudo vai melhorar no próximo mandato se
for eleito ou reeleito, na dirigência de um país inteiro ou na direção de uma
simples escola de periferia. Pura lágrima de crocodilo!
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