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sexta-feira, 4 de julho de 2014

VER, OUVIR E NÃO CALAR

vamos falar de POLÍTICA EDUCACIONAL...


Olhar para as escolas públicas é tirar uma selfie do Brasil. Só que o país não sai bem na foto. Os fatos estão à mostra para qualquer um ver, do homem simples do campo ao maior dos teóricos. O teórico, aliás, não pode analisar de cima sem que antes tenha imergido no ventre fétido do monstro à brasileira de Thomas Hobbes.
É escandaloso: a visão nas escolas em geral é de tapar os ouvidos com palavrões de alunos e professores mutuamente se xingando. É de tapar a vista para não enxergar as baboseiras escritas nas portas e paredes dos banheiros nem ver a imundície pintada nas cores da desesperança. É de tapar a boca para não responder à altura os disparates da ineficiência burocrática de uma maçante arte de não fazer nada.
Mas é justamente por tapar a boca, os olhos e os ouvidos de denúncia que lavamos as mãos e condenamos como Pilatos o inocente à morte paulatina. Morte do homem cultural, do homem intelectual, do homem social, do homem político.
Os próprios alunos, novatos ou não, esquizofrenicamente são ora vistos como vítimas, ora como culpados; enquanto os culpados não são vistos.
Os professores e alunos, gestores escolares e pais estão desmotivados. É de duvidar que os governantes também estejam. Do lado de cá, pouca verba. Do lado de lá muito verbo, muito discurso, muita promessa. O que impera é a sabotagem educacional.
O lema federal afirma: país rico é país sem pobreza. Mas será? Melhor não seria dizer, país rico é país sem ignorância? E ignorância nos dois sentidos mesmo: brutalidade e desconhecimento.
Quando sai da ignorância, o povo reclama com propriedade dos maltratos e negligências e recebe ignorância do estado que solta os cães para cima dos manifestantes, confundindo o cidadão com o bandido.  Ou seja, sofra calado, não atrapalhe o trânsito, não cante o hino até o final. Só que o povo não quer calar. Como Dom Hélder Câmara, bispo católico de Recife e Olinda disse: “eles pensam que o povo não pensa, mas o povo pensa”.
O projeto de um Estado em ascensão desenvolvimentista como o nosso teima em focar esse progresso pelas lentes da economia, quando deveria fazer como o Japão: pela educação. Educação também em dois sentidos: conhecimento e gentileza, sabedoria e civilidade.
Diante do intragável, fica a dúvida retórica: como pensar a democracia sem a participação popular, sem o povo a reclamar, sem revolução, do sangue, suor e luta? Como pensar uma nação democrática que esconde seu passado, que precisa de uma decisão judicial para revelar os crimes de guerra e ditadura? Como ter orgulho de ser brasileiro, de ser eleitor se a ficha limpa não funciona e o julgado julga o julgador.
Quando se bate na carne, pesa na consciência que de fato para alguns uma estátua destruída vale mais do que a face estourada com bala de borracha. Esquece-se de quem foi o dinheiro que construiu a escultura, o museu, o palácio.
Sim. Nossa revolução é pela paz. Nossa luta é contra as trevas medievais, contra o obscurantismo. A maior revolução do homem simples brasileiro ainda é vencer através dos estudos. O povo tem direito de sonhar!
Só que fica difícil sonhar. Mais fácil é perder o sono: a lista de necessidades e interesses ultrapassa a de vontades políticas: política e financiamentos educacionais, currículos adequados à realidade brasileira e à pedagogia e bom senso, estudos da historia da educação brasileira que justifique o presente.
O cinismo é pandêmico na análise de caso brasileiro: sabe-se dos problemas, mas não se citam os culpados. Ou foca-se demais nos problemas para não gastar tempo com as soluções.       A “Indústria da Seca” exemplifica bem isso.
As grandes ausências adoecem a seiva da vaidade brasileira: do político que se ausenta na sua bancada, do professor que não vai à aula pública, mas é assíduo na particular, do diretor que inventa desculpas para não trabalhar, do pai que mal à escola para acompanhar o comportamento e rendimento do filho.
Parece que a única mudança que vem para o bem do povo e felicidade geral da nação é a insurgência do reforço escolar, dos cursos pré-vestibulares e preparatórios dos concursos. Pena que são recursos desesperados e pagos, um dinheiro que podia estar sendo gasto em alimento e lazer para o pobre.
Em todo caso, nossa luta não é contra a pobreza. É contra a miséria. A miséria de tantos brasileiros que não são enxergados, nem por seus próprios vizinhos. No fundo, não se deve ter vergonha de ser pobre. Deve-se ter vergonha de cultivar a violência. Não aquela violência do peixe pequeno, mas do peixe grande que devora centenas, e vai no enterro deles em prantos prometendo que tudo vai melhorar no próximo mandato se for eleito ou reeleito, na dirigência de um país inteiro ou na direção de uma simples escola de periferia. Pura lágrima de crocodilo!




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