FICHAMENTO TOPICALIZADO
VASCONCELLOS, Celso dos S.
Falar em qualidade da educação é alvo de paixão e incertezas, pois não se sabe
em sentido absoluto definir o que é qualidade e qual o parâmetro a ser tomado como modelo.
é comum buscar bodes expiatórios para as falhas do sistema educacional.
A repetição de erros e a ineficiência dos órgãos responsáveis por cuidar da
educação geram um clima que vai da descrença ao desânimo. Uma fadiga se instaura e os
modismos que prometem soluções crescem como o mato em redor da grama.
As reações de revolta não são suficientes para promover a mudança necessária
e se espalham como fogo que consome a palha, mas que não dura.
A negação da educação aos mais pobres é um crime contra a humanidade
inteira e contra a natureza essencial dos indivíduos: todos têm o direito ao conhecimento, de
saber a verdade, de entender o mundo e a si mesmos.
NECESSIDADE DA VISÃO EM CONJUNTO
Existe uma tendência de avaliar a situação-problema partindo de
particularidades e não observando o todo da questão: é a síndrome do cobertor curto.
Não é a competência cognitiva dos alunos que está em jogo. Eles podem
aprender, eles conseguem, só que não encontram as condições necessárias dignas ao ser aluno
e estudante, sobretudo em relação ao ambiente e aos moldes de educar advindos dos
professores, dos institutos de ensino e do governo.
QUALIDADE E SUAS CIRCUNSTÂNCIAS
Hoje tem discurso para desculpar todas as falhas da educação. Um deles é de
que recursos existem, mas não são bem geridos. É balela! A quantia devida à educação é
motivo de vergonha para um país tão rico como o Brasil, sexta economia do globo.
O sucesso na atuação dum professor depende e muito substancialmente da ação
política de gestão educacional fora das salas de aula. Não dá para ir culpando só os
professores pelo fracasso da educação.
O desmonte histórico (verdadeiros espólios em época de paz) e a cultura da
corrupção (disseminada não só no congresso e no Palácio do Planalto) são os dois maiores
inimigos do alunado brasileiro.
FENÔMENO RECENTE?
O fracasso escolar não é fenômeno recente na historia do país
Ironicamente a escola para ricos foi feita para não funcionar, pois é lucrativo
para essas instituições particulares de ensino que seus “clientes” lhes sejam dependentes.
PROBLEMA SÓ DA ESCOLA PÚBLICA?
Já há muito tempo, a classe dominante não permite que as classes dependentes
se tornem autônomas. E quando oferta algum benefício é para dar com uma mão e retirar com
a outra. A prática que promanam é de excludente.
Não raro os alunos de escolas particulares têm ocupado os últimos lugares nas
avaliações nacionais do PISA e OCDE.
Os colégios particulares não têm os melhores alunos porque formam os
melhores alunos, mas porque escolhem previamente para suas fileiras os que têm melhor
desempenho escolar, e com posses materiais suficientes para bancar uma educação “cara”
segundo o patamar da maioria.
Há sim colégios particulares modelos para as escolas públicas, mas são as que
adotam uma linha de frente progressista.
FETICHE ESCOLAR
Nem sempre o professor compreende com clareza as imensas dificuldades
porque passa a educação e as relações causais do fracasso escolar.
A análise mais crítica da realidade educacional mexe com os valores,
representações mentais, visões de mundo, emoções, mitos, sentimentos enraizados, tensões,
lutas, movimentos, práticas superadoras dos atores desse drama real.
Mitos, preconceitos mais arraigados e os discursos ideológicos são os
pressupostos implícitos e assumem o comando no caso de desorientação e turbulência.
Isso não é uma propriedade apenas da macroestrutura. Está no âmago do
indivíduo.
O primeiro a praticar o exercício de critica da realidade é o próprio professor.
E não deve fazer de ouvir falar. Ele mesmo tem de ser o protagonista da sua evolução.
O fracasso na estrutura tradicional de ensino é colocado muitas vezes como
resultado natural de uma seleção dos melhores, dos mais sucedidos. Percebe-se imediatamente
o conteúdo intencional excludente desse sistema.
É preciso muita coragem para denunciar a bagunça por que passamos e
disposição para ver a realidade e ainda ter forças para sonhar e construir o novo.
CAUSAS DA BAIXA QUALIDADE
A grande dificuldade de se compreender é o reducionismo, o alheiamento da
totalidade.
As hipóteses para explicar a não aprendizagem dos alunos vão desde o
desmonte social, passando pelo desmonte material e simbólico do sistema de ensino, o
desmonte objetivo e subjetivo do professor, o currículo escolar intrucionista até a avaliação
classificatória e excludente.
COMO SAÍMOS DESTA?
Aprendamos com os africanos: é preciso mudar pessoas e estruturas. Toda a
sociedade deve se mover para cuidar ensinando e ensinar cuidando de uma só criança.
As exigências básicas externas à escola são: formação inicial e continuada do
professor; salário, concurso e plano de carreira; melhores condições de trabalho; colaboração
das famílias na formação das crianças; valorização da escola e de seus profissionais pela
sociedade e pelas famílias.
Exigências internas às escolas: Revisão das práticas e posturas profisssionais
do professor. Ele atua no âmago do processo de ensino-aprendizagem e tem interesse pessoal
na mudança. Está em todo lugar (capilaridade, poder de rede) e pode agir intencional,
sistemática e coletivamente.
Para mudar é preciso querer, mas para querer, a vontade precisa ser cativada,
incitada. Um sujeito curioso nasce também quando entra em contato com o novo, como as
grandes obras pedagógicas.
Para que o aluno aprenda são necessárias seis exigências (Teoria DialéticaLibertadora do Conhecimento): Capacidade, Conhecimento Prévio, Acesso à
Informação, Querer, Agir e Expressar
Enfim, precisamos o quanto antes de uma forma de educar que privilegie mais
o humano não pondo o número acima das pessoas, com humildade, com menos ingenuidade,
com mais consciência crítica, observando a lógica maior que devemos seguir: uma formação
humana e humanizante.
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