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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Lucas e o Caminho, por J. Carlos Jr.

paletra dada no curso de crisma: 

Para Lucas, seguir Jesus é por-se a caminho; 
carregar as cruzes; 
continuar o desafio de viver, 
mas nunca sozinho: 
a comunidade é filha primeira do Mestre da comunhão. 

Ele não veio a nós para que ficássemos nos nossos acomodamentos e cômodos de interiores. 
Ele não não morreu na cruz para isso. 

Veio para mostrar que além de quatro lados internos, nossas celas tem em si o seu externo, 
que o concavo é feito de convexo. 

Que além de mim tem o meu verso, que é o próximo. 
Que é preciso sair de si, para encontrar-se. 
Que devemos aprender da comunidade o desafio de conviver consigo mesmo 
sem deixar de ser o que o outro precisa, 
porque nem mesmo a comunidade deve se fechar em si mesma, 
existem muitas outras comunidades que precisam dela, 
e essas comunidades juntas não se fechem também... 
resta o mundo mais além, 
mais além que o pós-morte.
Ir ao outro significa ser um samaritano que se rebaixa para salvar, 
um Cirineu que faz o que lhe pedem, por amor a outro quem.
Lucas mostra que pode ser recompensador o esforço 
porque logo depois da cruz vem a ressurreição.

Que o evangelho perpassa as  letras, 
supera o legalismo, 
abre-se a um mundo infinito, 
ao diverso
ao diferente. 
Eis a verdadeira alteridade:
o sair de si próprio e se apropriar do outro sem pretenções de posse, 
assim como fez Abraão um dia, 
em busca da Vida prometida 
em busca da Vida que prometia-se e se com-prometia. 

A missão de Jesus determina a sua pessoa e por sua vez a sua pessoa determina o seu agir no mundo como obreiro da salvação.

Interessante o fato de Lucas na precisar do relato da visita dos magos para dar a entender a universalidade que Mateus trabalha no início do seu evangelho... tambem não precisa do texto da fuga ao Egito para manifestar uma mudança na idéia preconcebida de que o Messias não sairia de sua terra,mas ficaria circunscrito em seu país, e aos seus.

A teologia de Lucas deixa transparecer seu interesse universal em relação à salvação de toda pessoa humana. Fica mais claro ainda quando analisamos o terceiro Evangelho em consonância com o livro “Atos dos Apóstolos”. Ele coloca a Igreja como continuadora da missão do Mestre no envio dos apóstolos.

Talvez a grande pertinência de Lucas para os nossos tempos seja a melhor compreensão da fraternidade universal, a irmanação que ultrapassa as fronteiras do comum. 

O Ecumenismo certamente bebe da tolerância que o evangelho de Lucas trouxe como contribuição não somente para os cristãos mas 

para que o mundo inteiro saiba que nós somos discípulos do mestre de sabedoria humana e divina 

que sabia entender o ser humano em sua fraqueza e sua fortaleza 
e deixar do que é sujo o que está sujo para preservar o que pode se sujar, mas sujeira não é.
o
E nem é preciso falar do quanto a misericórdia de Jesus permeia toda a obra de lucas no evangelho e nos Atos. Muito é sabido em relação a isso. Façamos as nossas observações mais pessoais:

Muito se nota em Lucas o carinho que ele tem pelo Espirito Santo. Desde o começo em seus escritos a presença da terceira pessoa da trindade é patente (1,15 | 1, 35 |1, 41). Jesus é colocado como o pleno do Espirito e seu servo (4, 18s). Vemos claramente a sua ação não somente em Jesus, mas nos discípulos de Jesus e mais ainda: naqueles que nem sequer discípulo de Cristo são ( a exemplo de Isabel, Simeão, Ana, Maria sua mãe). Aliás, a presença do Espírito Santo nos pagãos foi o motivo pelo qual os primeiros cristãos começaram a aceitá-los em suas fileiras (se até Deus não se esquivava de suas vidas, como poderiam os seus discípulos fazerem diferente?!).

Tem muito valor em Lucas um conceito de salvação que não se encerre num povo,
mas que abranja todos os filhos de Deus. Sinal disto é a genealogia que Lucas põe de Jesus que chega até os princípios da humanidade com Adão.

Lucas relata no evangelho uma palavra de Jesus que está em consonância com a tolerância, principalmente religiosa: “quem não está contra mim, está a meu favor...”

Outro elemento bonito em sua obra teológica é a possibilidade da mudança, 
da transformação de vida
do retorno a Deus 
(com- versão) . 

Muitas pessoas não mudam porque não acham que é possível mudar. 
Ainda muitos pensam que nasceram do jeito que hoje estão, 

Não percebem quanta diferença há entre ser e estar!

que não existe a possibilidade de mudança radical ou progressiva, que não é mais possível melhorar, “voltar atrás e seguir em frente”. Desse modo se fecham, negam-se o direito à fé. 
Crêem mais no poder do pecado 
que no poder da misericórdia divina. 

Por isso  Lucas se propõe a reacender “a esperança no possível a Deus” (1, 37)

É tocante nos escritos lucanos o grande respeito ao “bom nos outros”: 
mostra disso é o seu prólogo. 
Não faz sua obra do nada. 
Baseia-se nos outros escritores e deixa isso bem claro. 
Nesse sentido ele mesmo valoriza o outro, mostrando ele também que aprendeu do Nazareno 
e o aprendeu bem.

É de interesse de Lucas antecipar no leitor desavisado do evangelho 
que no futuro trágico do Batista está o futuro de Jesus: 
foi preso e morto de um modo injusto por ser um Justo.

Assim como o Batista ressuscitou na vida e missão de seus discípulos 
ainda mais Jesus renasceria na pregação e no testemunho de vida 
e no testemunho sobre Jesus aos ouvidos sedentos de Deus, 
para não deixar Jesus morrer ao menos nos corações dos homens de todas as regiões.

Curioso o valor que Lucas deixa como testemunho do jeito de viver do Mestre em relação aos mais desprezados na sociedade: 
dá com os que a sociedade pouco se importava: 
órfãos, viúvas, leprosos e outros enfermos...
o destaque aos idosos: Ana, Simeão... 
às mulheres: Marta e Maria, Isabel, Joana, Suzana, as três Marias: Maria, mãe de Jesus, Maria Madalena, e Maria mulher de Cléofas...

Às crianças: Vinde a mim as criancinhas...

Jesus ensina aos pobres do jeito que os pobres e iletrados gostam, mesmo que nem sempre entendam da primeira vez em que foi soada pela boca do Mestre. Jesus não esclarecia tudo; deixava espaço para a curiosidade, espaço para a reflexão, espaço para a volta a ele e para o seguimento: “quem quiser entender, entenda”.


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